Bêbados, casais e epifanias

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O inverno já havia passado e, embora no distrito do Natal os pequenos flocos de neve nunca parassem de cair, agora era possível caminhar pelas calçadas esbranquiçadas sem calçar botas de neve ou vestir pilhas de jaquetas e casacos.

O pequeno Kyle andava apressado, quase correndo, para chegar logo ao lugar que já tinha se tornado parada obrigatória depois que saia da escola. Desde que sua mãe lhe dera confiança para voltar sozinho, todos os dias o sardentinho ia até o parque no final da rua para brincar com seu melhor amigo Tweek.

As bochechas estavam coradas em excitação. Os cachinhos ruivos mexiam como pequenas molas conforme a criança se movimentava. O uniforme negro tinha uma pequena mancha rosa, vestígio de um yorgute que deixou derramar horas antes.

Já no parque, os olhos verdes caçaram atentos o baixinho loiro. Não demorou para que o encontra-se; o loirinho estava parado em pé, as costas visíveis deram ao sardentinho uma ideia travessa, daquelas que crianças costumam ter às vezes.

Sorriu matreiro, sua janelinha de incisivo lateral deixava suas feições mais sapecas do que normalmente seriam.

Disparou a correr na direção do amigo que, muito desatento, só percebeu quando era tarde demais.

-Tweee! -O pequeno ruivo gritou enquanto pulava para se jogar nas costas do amigo.

Talvez pela força do impacto, talvez pela baixa estatura do pequeno Tweak, não importa; os dois foram levados ao chão.

-Kyle... -O loiro disse num fio de voz gemido, mas seu amigo estava ocupado demais gargalhando que não foi capaz de ouvir. -Você é muito pesado... -Resmungou fazendo bico.

-Você é que é leve. -Respondeu depois de cessar as gargalhadas, mas ainda mantendo o sorriso largo. As orelhas pontudas tremelicando pela felicidade em encontrar o amigo.

-Acho que morreu. -O baixinho disse.

-Quem? -O ruivinho perguntou com seus olhos crescendo.

-Minha florzinha. -O menor dos dois se virou para o sardento. Em suas mãos tinha uma bela calêndula laranja. -Eu achei aqui, mas agora ela tá meio amassada...

-Você sabe que flores morrem quando você tira da terra, né? -Perguntou.

O de uniforme azul se espantou:

-O quê?! -Gritou olhando para a flor em suas mãos.

O pequeno Kyle voltou a rir e o pequeno Tweek voltou a formar bico com seus lábios.

-Não fica triste. -O sardento disse após reparar que seu colega estava realmente chateado. -É só uma flor.

-Mas era uma flor bonita. -Respondeu. -Igual você.

-Igual eu? -Inclinou sua cabeça em dúvida. O de olhos azuis concordou.

-Laranja igual seu cabelo. -Disse se aproximando e colocando a plantinha por entre os cachos. -Viu?

A janelinha ficou perfeitamente visível na boca do mais alto, mas logo sumiu; o ruivinho notou que o queixo de seu amigo estava vermelho com um grande ralado.

-Seu queixo tá dodói! -Exclamou preocupado.

-Hm? -O loiro colocou a mão pequena no local e, ao sentir o machucado, gritou assustado. -Jesus!

-Tá doendo? -Perguntou meio perdido.

-E-Eu não sei! -Respondeu com sua voz permanecendo em volume alto.

Resgate de Páscoa -SP StyleOnde histórias criam vida. Descubra agora