Alardes, danças e apresentações

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-Pode entrar. -Disse o pequeno Kyle.

Os olhos do pequeno Tweak se arregalaram quando passou pela grande porta de carvalho da entrada. A casa era extremamente grande e bonita, bem diferente da sua e de todas as outras que por algum motivo visitou durante sua vida até então.

O casarão era uma construção antiga e, apenas por este fato, já possuía valor arquitetônico mais elevado que muitas cedes governamentais de distritos vizinhos; a estrutura era muito bem avaliada desde o telhado firme que por séculos não precisou de nenhuma reforma até a última viga que sustentava os três gloriosos andares da construção. E, embora fosse moderadamente estreita, sua profundidade e a decoração de feliz escolha não traziam de maneira alguma o aspecto de sufoco ao ambiente.

A entrada principal ficava depois de um belo jardim, cuidado com muito zelo pela governanta para que permanecesse florido mesmo perante a estação constantemente fria do distrito; e dava acesso ao primeiro andar da casa onde ficavam o salão de entrada, a sala de estar (que muitas vezes era usada para ocupar festas e reuniões sociais) e a cozinha. O segundo andar era acessado por uma linda escadaria em caracol, ali se encontravam os quartos da família e dos hóspedes (ambos em quantidade ridiculamente maior que o necessário). E no último andar ficava o escritório do chefe da família, Gerald, e uma gigantesca biblioteca com teto panorâmico, onde o pequeno sardento gastava horas e horas de seus dias.

-É enorme! -Disse o loirinho com o queixo, que nem doía mais, caído. -Você mora mesmo aqui?

-Moro. -Disse sorridente por parecer ter impressionado o seu amigo.

Os dois entraram; o loiro acanhado e deslocado foi guiado para a cozinha, onde Kyle esperava encontrar Tammy, a governanta da casa, mas o ambiente estava vazio e o ruivinho se decepcionou ao perceber que provavelmente era o mesmo estado que todo o resto da moradia se encontrava. Os biscoitos iam ter que esperar até que alguém chegasse.

Puxou o convidado pela mão para subirem as escadas; já no segundo andar, eles se dirigiram para um dos banheiros; o cacheado puxou a caixinha de primeiros socorros que ficava guardada no armário embaixo da pia e, com muito cuidado (ou pelo menos o maior cuidado possível que uma criança de oito anos poderia ter), colocou o band-aid com desenhos coloridos de flocos-de-neve cobrindo o machucado no rosto do amigo.

-Pronto. -Disse orgulhoso do seu próprio feito. A janelinha aparente enquanto sorria satisfeito.

O baixinho apalpou suavemente o curativo que acabara de ser colocado e depois sorriu acanhado.

-Obrigado.

Soltavam risadinhas infantis. Agora sem o ralado para intervir, eles poderiam brincar.

O sardentinho se lembrou do ferrorama montado na bela biblioteca no andar de cima e, num súbito solavanco de energia, agarrou novamente a mão do loirinho para puxá-lo enquanto dizia o quão divertido era mexer com o trenzinho.

Os olhos azuis se maravilharam com o teto transparente, com os livros e, principalmente, com a extensa linha férrea montada no chão.

Com cuidado para não pisar em nada, eles seguiram até o meio da gigante maquete (que além dos trilhos era completada por cenários de lego), onde estava a bateria do brinquedo.

-Está andando! -Tweek gritou quando o ruivo apertou um botão que fez o trem em miniatura ligar.

-Claro que está! -Disse feliz. -E nós somos os maquinistas!

As orelhas do loirinho tremelicaram de alegria.

Passaram horas ali, brincado de faz de conta com o trem, entregando passageiros, gritando "Todos à bordo", resgatando cidadãos e derrotando ladrões; e quando se cansaram, Kyle pegou seu livro favorito para os dois lerem juntos.

Resgate de Páscoa -SP StyleOnde histórias criam vida. Descubra agora