Capítulo 7: Casamento, flores e mula

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O azul noturno do céu era denso. A falta de neve caindo deixava à mostra a mais pura penumbra que o distrito do Natal teve de presenciar em muito tempo.

Entretanto, não era noite.

Na verdade, mal havia dado seis horas e isso fazia com que a iluminação da rua estivesse morbidamente precária, pois o acendedor de lampiões passava com sua vara acendendo os postes todos os dias pontualmente às seis e meia. Kyle teria que chegar até em casa contando com a própria sorte de não tropeçar em nenhum desnível do asfalto.

Ah, sim! Kyle!

Desculpe, caro leitor. Me entreti tanto naquele final de tarde incomum e naturalmente belo que me esqueci momentaneamente de nosso amável protagonista.

Kyle Broflovski... ah, que nostalgia... há quanto tempo não ouço esse nome, ein? Acredite se quiser, leitor, mas fazem anos...

Sim, eu sei, parece que foi ontem que assistimos nosso pequeno Broflovski passar pela fase da puberdade, mas essa já não é nossa realidade.

Kyle agora tinha completado dezoito primaveras. Sua altura tinha mais que dobrado, seu cabelo havia se tornado mais volumoso e até seus olhos pareciam ter se tornado ainda mais verdes, no tom que beirava os pinheiros natalinos. Ele era praticamente um homem feito. Fora que sua fase de acnes dos treze anos tinha tido seu fim; agora sua pele era apenas adornada das mais variadas sardas, bonitas como beijos de anjos. Suas armações de óculos grossas e rudes haviam sido substituídas por um modelo de aros leves e finos, orgulhosamente dourados como uma bela estrela de enfeite natalino.

Resumidamente: ele tinha deixado para trás sua fase de patinho feio e agora se mostrava à sociedade como o belo cisne que nasceu para ser.

- Aquela puta velha me paga.

Ah... esqueci de mencionar, mas Kyle finalmente tinha feito um amigo.

- Ela acha que pode me dar zero só porque falto em todas as aulas dela? Pois ela vai ter que me mamar depois que eu contar pra minha mãe!

Eric Cartman, casta quatro, era filho de Lilian, uma líder da siderúrgica de umas das unidades das fábricas de bengalas doce. Era gordo, de pernas curtas, tinha cabelos castanhos e olhos carmesim, como um belo tecido natalino. Sua postura era metida, apesar do andar desengonçado; seus olhos eram zombeteiros e sua boca era suja ao ponto de fazer o jovem Broflovski revirar os olhos a cada frase que ouvia de seu "amigo".

- Ora, Cartman, cale a boca. - Disse o ruivo revirando os olhos e respirando fundo. - A culpa é sua por não aparecer em nenhuma aula de Disciplina Complementar.

Na verdade, chamar Eric e Kyle de amigos era um pouco forte demais. Eles eram mais algo como "conhecidos que socializavam frequentemente".

Os dois se conheceram pouco tempo antes do final do fundamental, quando o sardento estava prestes a fazer quinze anos e seus pais acharam uma boa ideia convidar seus amigos para comemorarem a entrada do filho no Ensino Médio. Era um passo a menos para a condução dos trens, um momento importante afinal, precisava ser simbolizado com uma comemoração.

A mãe de Cartman foi convidada e o levou junto, achando uma boa ideia apresentar as duas crianças que estavam indo para o mesmo colégio. Infelizmente, para Kyle, a presença de Cartman só o fez criar vincos na testa ao ver o garoto comer toda a pele do Peru que seria servido como prato principal. E tem seguido assim desde então.

- Está defendendo aquela professorinha de casta 6, Broflovski? - Eric indagou maldoso.

- Não estou defendendo a De Paula, estou só dizendo que você está errado. - O sardento se desequilibrou ao pisar em uma camada de gelo na beira da calçada, mas se manteve em pé. - Além disso ela é melhor que outros professores que são todos casta 7.

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⏰ Última atualização: May 25, 2023 ⏰

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