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Há três de nós esperando na estação do metrô da avenida Greenpoint, às 2:45 da manhã, e eu quero dar laço no seu cadarço

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Há três de nós esperando na estação do metrô da avenida Greenpoint, às 2:45 da manhã, e eu quero dar laço no seu cadarço. Está solto. E você está bêbado demais para ficar em pé tão perto dos trilhos. Está com as costas apoiadas na coluna verde, com as pernas esticadas, de modo que os pés estão na zona de alerta amarela, na beirada da plataforma. A coluna tem quatro lados, mas você tinha de se apoiar no lado virado para os trilhos. Por quê?


Você tem a mim para protegê-lo, e a única outra pessoa neste buraco é um sem-teto, e ele está em outro planeta, em um banco, cantando: "Engine, engine, number nine on the New York transit line, if my train runs off the tracks pick it up pick it up pick it up."


Ele canta essa parte da música sem parar, alto, mas sua cabeça está enfiada no telefone, e você não consegue digitar, ficar em pé e escutar a agressão musical dele ao mesmo tempo. Você continua escorregando — seus sapatos são velhos, sem solas que travam — e continuo a ter esgares. Não pertencemos a este vazadouro; é um campo minado de latas vazias, embalagens, coisas que ninguém queria, nem mesmo o sem-teto cantor. As pessoas com as quais você sai vivem para pegar o trem G, como se isso provasse que são pé no chão, "reais", mas o que seus amigos não se dão conta é de que esta linha estava melhor sem eles e suas latas de Miller High Life e seu vômito com cheiro de picles.

Seu pé escorrega. De novo.


Você deixa o telefone cair e ele para na zona amarela, você tem sorte de ele não cair nos trilhos, e eu fico arrepiado e gostaria de poder agarrá-lo pelo braço e escoltá-lo até o outro lado daquela coluna. Você está perto demais dos trilhos, Harry, e tem sorte de eu estar aqui, porque se caísse, ou se algum doente o jogasse para baixo, ou algum vagabundo estuprador aparecesse, você não conseguiria fazer nada. Está bêbado demais. Os laços em seus tênis pequenos são compridos demais, frouxos demais, e o agressor a apertaria sobre o chão ou contra aquela coluna, rasgaria aquelas meias já rasgadas e cortaria aquela cueca de algodão da Calvin Klain, cobriria sua boca rosa com sua mão engordurada e não haveria nada que você pudesse fazer e sua vida nunca mais seria igual. Você viveria com medo de metrôs, correria de volta para Nantucket, evitaria a seção de "Encontros Descontraídos" da Craigslist, faria exames mensais de DST por um ano, talvez dois.

O sem-teto, enquanto isso, não para de cantar "engine, engine", urinou duas vezes e também não se levantou para fazer isso. Está sentado em seu mijo, e se algum doente a seguisse aqui para baixo para terminar o que você começou com aquelas meias rasgadas, esse cara simplesmente continuaria cantando e mijando, cantando e mijando.

Você escorrega.

Novamente.


E você aperta os olhos para o sem-teto e rosna, mas ele está em outro planeta, Harry. E não é culpa dele você estar péssimo.


Eu mencionei que você tem sorte de ter a mim? Pois tem. Eu sou um cara de Bed-Stuy, por nascimento sóbrio, contido e bem consciente do meu paradeiro e do seu. Um protetor.

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