Capítulo 2: Quer Ir Ao Salão Azul?

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Estava extremamente difícil de acreditar. Difícil não, impossível. Só que eu sou muito otária também... Claro que um rapaz bonito e solícito como ele não iria ser gentil comigo sem depois me fazer de palhaça. Estava óbvio que algo assim (ou pior) iria acontecer.
Depois de ele ter constatado que sou a "dona da missão dele", o cara começou com uma conversa fiada de que é a estrela cadente pra quem eu fiz um pedido e que veio me ajudar a realizar esse pedido. É incrível como só aparece homem imbecil na minha vida. Eu devo ser um ímã ambulante de idiotice.
- Então, moço... Qual é o seu nome mesmo? - Questionei, tentando raciocinar mesmo que estivesse espantada com tamanho absurdo.
- Lypímenos. E você deve ser a Menorah, certo?
- Lyp... É o quê?! Como você sabe meu nome? - Gritei, cada vez mais assustada. Ele é pior do que eu imaginava. Esse cara deveria estar me vigiando há tempos e uma vez que estávamos sozinhos na rua, ele ia concretizar o seu plano maléfico. Será que eu seria capaz ferí-lo com uma caneta? Eu provavelmente teria uma caneta na bolsa.
- Porque você fez um pedido para mim, na noite de inverno, do dia 23 de agosto de 2018, como eu já te expliquei.
- Você é um lunático! Há quanto tempo está me espionando?! Olha, eu sou pobre, desempregada! Minha família também é pobre! Não tenho nada que você queira! Fora que sou absurdamente magra, não vê? Eu não tenho nada a oferecer, nem bens materiais, nem meu corpo. Só ossos! Ossos e currículos.
- Eu não quero nada de você, apenas a sua felicidade. Você alcançando a felicidade plena, com seu pedido realizado, terei atingido o meu objetivo. - O rapaz explicou, calmamente.
- Você não fala coisa com coisa. Escuta aqui, Lyp...
- Lypímenos.
- É, isso aí. Eu não sei se você tem algum problema cognitivo ou se só está tirando uma com a minha cara, mas eu vou te denunciar!
- Menorah... Você disse as seguintes palavras: - ele puxou um celular super moderno do bolso interno do blazer e começou a ler, com certa impaciência, - "Olha, uma estrela cadente, que linda! Quando eu era adolescente, torcia para encontrar uma dessas e pedir pra me casar com o Fernando... Ele foi o primeiro amor da minha vida. E mesmo já tendo se passado 10 anos não consigo esquecer esse infeliz. Como seria a minha vida se tivéssemos tido um relacionamento? Queria muito poder saber, estrela cadente...".
- Eu não acredito! - Gritei e coloquei a mão na boca, chocada. - Mas, o que...?
- Você estava bêbada? - Lypímenos perguntou, pensativo.
- Você... Eu não sei nem o que pensar! Eu vou ligar pra polícia agora! - Continuei berrando, sem entender um terço do que estava acontecendo.
- Por favor, pare de gritar, alguém pode...
- Esse cara está te incomodando, moça? - Um senhor apareceu, encarando Lypímenos com um olhar ameaçador. - É melhor se afastar dela, cara.
- Não, meu caro senhor. Não é necessário. Eu só estou explicando algo pra ela. - Lypímenos disse, sério e polido.
- Não é o que tá parecendo. - O homem rebateu. - Vai, se afasta dela, senão...
Porém, repentina e rapidamente, Lypímenos tocou na fronte do senhor que o abordara e uma fraca luz emanou da ponta de seu dedo indicador. Em questão de segundos, o homem se afastava de nós, pedindo desculpas ao Lypímenos.
- O que você fez? O que você é? - Eu gritei consternada e ofegante. O que eu havia acabado de ver? Se é que eu tinha visto alguma coisa.
- Menorah... - Ele suspirou, - eu sou Lypímenos, estrela cadente do setor Crux, responsável por cumprir o seu pedido, que no caso é unir você ao seu primeiro amor, o... - Ele verificou o celular de novo, - Fernando.
- Isso é a coisa mais louca que eu já ouvi e vi na vida. - Falei, encostando nas grades de um portão, para tomar fôlego.
- É. Eu sei. É louco ficar vindo pra Terra pra fazer esse tipo de coisa. Eu também acho bem inconveniente. - Lypímenos curvou os lábios para baixo. - Mas, cá estamos. Se você continuar nessa incredulidade, vou ter que te levar ao Salão Azul.
- O quê?! - Perguntei, desesperada.
- Salão Azul é o lugar em que alocamos todos os dados sobre os humanos que já solicitaram nossos serviços. Assim que um terráqueo faz um pedido a uma estrela cadente, puxamos "a capivara" dele, como vocês costumam dizer. Se quiser, posso te levar lá pra você ler e reler tudo o que registramos sobre a sua vida até acreditar em mim e deixar eu fazer o meu trabalho de forma rápida e eficaz.
- Eu não consigo acreditar... - Respirei fundo e tentei formular alguma frase que fizesse sentido. - Mas, espera aí. Primeiro, o que você fez com aquele senhor?
- Ah, não fiz nada de preocupante. Apenas manipulei a visão dele, para ele me enxergar como uma doce jovem que estava fofocando com a sua amiga.
- Isso é muita loucura.
- Vamos logo ao Salão Azul, senão você vai ficar nesse estado catatônico, repetindo: "o quê? Como? Que loucura!"... - O rapaz (que parecia cada vez mais esquisito) respirou fundo, - pronta?
- Pronta? Eu nem...
Antes mesmo de eu saber o que iria falar, num período de tempo equivalente a um piscar de olhos, Lypímenos pegou em minha mão e, do nada, estávamos em frente a uma porta azul clara, gigantesca.
- Bem-vinda ao Salão Azul, Menorah.

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