00 ‧ Vermelho Carmesim

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— Mas... Essa coisinha fofa precisa de um nome! – soltou com certa empolgação, como se tivesse acabado de encontrar algo completamente novo, o que, de certa forma, era. O animalzinho de pelugem marrom se aninhou em suas mãos, fazendo com que o garoto ficasse ainda mais amolecido.

— Jimin, você não pode falar mais baixo? – sussurrou o outro garoto numa mistura de raiva e apreensão, fitando-o com o cenho franzido. — Você sabe que não podemos nem ao mesmo encostar num animal desses. O que acha que fariam se descobrissem que demos nome a um coelho! – terminou no mesmo tom.

Neste momento, o focinho da pequena criatura se agitou, soltando um espirro quase inaudível no meio da densa floresta de Damyang. Para Jimin, foi bem difícil não falar ainda mais alto depois disso.

— Como você pode dizer não a um bichinho desses?! – disparou com um sorriso que ia de uma orelha a outra e olhos que piscavam tão freneticamente que pareciam uma mensagem em código morse.

Abe não conseguiu conter a feição que viria logo depois; o rosto antes preocupado e irritado deu lugar à olhos amendoados que seguiam o animal com afeto, enquanto os lábios se curvavam no que poderia ser o início de sorriso. Um sopro escapou de seus lábios antes de tirar um pouco do cabelo, acinzentado e ondulado, que cobria sua a testa, posteriormente, levando os dedos calejados até a cabeça do coelho para o acariciar de leve. Abade não deixava suas emoções fluírem com tanta frequência, afinal, aos 18 anos já se meteu em mais encrencas do que qualquer pessoa da sua família, ainda que a maioria destas fossem para proteger o irmão mais novo e assumir sua culpa.

Jimin lembrou–se de poucos dias atrás, quando estavam no refeitório da escola e Abade tomou a frente numa confusão em que um idiota derramou água de propósito em sua comida. Não demorou muito até que esse mesmo idiota caísse no chão depois de receber um soco no maxilar, tendo a própria mão segurada logo em seguida, enquanto o garoto chorava e era levado para o canto da mesa.

— Ele encostou em você? – Abade perguntou, mas o Park mal teve tempo de o responder, os superiores chegaram agarrando e arrastando Abade para, seja lá qual fosse, o seu castigo.

No fim do dia, Abe apareceu na saída com um sorriso leve nos lábios, levando o mais novo de volta pra casa como se Jimin não tivesse reparado nas marcas roxas em seus pulsos.

— Certo, certo... Qual você acha melhor, Zec ou Zub? – ele disse enquanto pegava o coelho das mãos menores com tanto cuidado que parecia estar segurando um floco de neve, o que era engraçado para o jeito mais carrancudo dele.

— Eu tenho muita pena dos seus filhos. – murmurou Jimin enquanto olhava para baixo, tentando não fazer contato visual e negando com a cabeça.

— Mochi, escolhe log- – um zunido cortante chegou aos ouvidos do mais novo enquanto um fino vulto passava diante de seus olhos que se arregalaram em questão de milissegundos.

Dois, um, zero. Coração acelerado, pronto para explodir no peito, enquanto Abade, com olhos arregalados fitava algo atrás dos ombros de Jimin. Um, dois, um. Coelho no chão com uma flecha fincada em sua cabeça ao passo que o sangue regava o solo úmido da floresta. Um, dois, oito. A cabeça do garoto virou de maneira impulsiva, sentindo dor quando algo firme o atingiu na altura da nuca, trazendo tontura quase instantânea.

— Sabe... Eu acho que vocês saíram da escola antes de aprender que não podem ter contato com animais a menos que isto se encaixe em sua função. – disse a voz grossa e fria, como se o ar de superioridade fosse a única coisa que saísse de seus pulmões.

O rapaz tinha o triplo da altura do Park e seus braços eram claramente do tamanho da sua cabeça. As vestes carmesim e adornos metálicos em seus ombros, joelhos e bainha de sua espada eram tão reluzentes que alguns dos feixes de luz refletiam ali e batiam na testa de Abade. Cabelos negros e caídos paravam sobre a expressão morta que era facilmente notada mesmo com a máscara cobrindo a sua boca. Era um Sentinela Rubi, divisão que também era responsável por rondas nas florestas que cercavam Gangseo, garantindo o controle de quem entra e sai do distrito.

STATEFUL ‧ pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora