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Quando a vela acesa se apaga por um sopro do além, ajoelhe-se, feche os olhos e junte as mãos, então clame pela santíssima trindade. Mas se o sopro persistir, deixando-o no escuro, e porventura chegar ao seu ouvido, aceite. O Di...
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Entre os fiéis, eu era o filho que residia na casa do Senhor.
As mãos que balançavam o enorme sino eram minhas, estava incumbido por recolher ofertas, por carregar o corpo e sangue de Jesus Cristo ao altar. Minha missão era dedicar-me ao Senhor, e amá-lo acima de tudo.
A cada celebração eucarística, entregava-me as palavras do Santíssimo proferidas com vigor pelo padre:
— Porque sou Eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.
Havia tantas pessoas, tantos planos de Deus. Não existia ninguém fora da planificação divina. Se suas palavras sussurradas para homens mortais e escritas em livros para nos mostrar a sua verdade, provar a sua existência, cada acontecimento em nossas vidas não deveriam ser questionados.
Deves agradecer à vida; ao pão de cada dia; da água que tens para beber; do teto que possui para se abrigar; do ar que respira; do dinheiro que recebe; do sorriso que molda seus lábios; mas também as lágrimas que caem do seus olhos; do homem que te toca no silêncio da noite; dos males que te afligem; da miséria que carrega; e da morte que te aproxima.
Então não questione ao Senhor o porquê de sua vida subitamente despencar para o paupérrimo. Não caia na tentação de reclamar, pois tudo faz parte dos planos Dele para medir a sua fé. Por isso, ajoelhe-se e reze, a sua glória logo retornará se nunca abandoná-lo.
Era o que eu cumpria, após o reverendo todas as noites cruzar os corredores estreitos do subsolo para visitar-me. Meus pecados sempre ressaltados por suas mãos enrugadas, mas nunca perdoados por ele e por Deus. Minhas noites resumiam-se na falha tentativa de redenção por ter roubado a hóstia consagrada quando a fome dilacerava-me por dentro. Um jejum involuntário que não consegui cumprir, um castigo que não parecia ter fim.
E ajoelhado diante a cama, roguei ao Santíssimo por misericórdia. E por um deslize de minhas emoções, pela primeira vez, eu questionei a Sua existência.
Perdoe-me por cair nessa tentação, mas os anos em orações e rezas reiteradas, o único que me ouviu foi o Diabo.
