Capítulo 4

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   O resultado fora o esperado. A melhor maneira de ter prestígio na profissão era executando bem o seu trabalho. Fosse qual fosse a profissão, a qualidade e o sucesso só viria se a pessoa trabalhasse como se estivesse construindo a casa dos seus sonhos. Com amor e atenção.

   Otávio havia acabado de finalizar um projeto de decoração residêncial que lhe rendeu um bom dinheiro. A dona do apartamento ficara tão satisfeita quanto ele. Usava os espaços, a iluminação natural e artificial de acordo com a vontade do cliente, mas com tato, inseria suas próprias ideias e às vezes mostrando algo melhor do que o esperado pelo cliente.

   O cliente nem sempre sabia o que queria. Ele mostrava o que era, não somente harmonioso e bonito, mas também confortável. Os contratantes ficavam maravilhados quando ele descobria o que queriam. Era incrível como reconhecia o desejo na confusão que os clientes faziam quando tentavam explicar como queriam que o imóvel ficasse.

   A empolgação era maior quando o trabalho era para um "novo rico" porque lhe davam total liberdade para planejar e criar os ambientes. Nenhum profissional gostaria de receber palpites de quem entende menos sobre seu ofício. E o felizardo que tivesse tendo o seu primeiro contato com a opulência adoraria dizer que sua casa tinha sido decorada pelo o arquiteto Otávio Alves da Rocha. Ele sorriu feliz ao volante. Seu nome pomposo causava o efeito desejado.

   Há cinco anos que Otávio tinha se formado em arquitetura, mas só começou a exercer a profissão um ano após sua formação. Sempre gostou dos ambientes arrumados com harmônia. Poderia atuar em várias áreas da profissão, mas a parte de decoração sempre foi sua predileção. Sentia -se feliz por estar sendo recompensado por todas as horas que estudou. Todos os cálculos que fizeram sua cabeça doer, agora adoçavam sua vitória.

   O dinheiro não estava vindo aos montes, mas era razoável. Olhou a hora enquanto esperava o sinal abrir: três e meia da tarde. O apartamento onde finalizou seu último trabalho antes das férias ficava no centro de Montes Claros. Finalmente férias, pensou excitado. Tudo estava pronto. Durante todo o ano ele tinha  se organizado com o dinheiro e com sua agenda de trabalho para não ter nenhum empecilho quando chegasse a hora do descanso. Usaria nas férias somente o dinheiro que tinha reservado. Não queria mexer na sua poupança a menos que não fosse para fazer rendê- la.

   Durante o trajeto da delegacia até o Esplendor, Jonas ouviu com atenção o pouco que a delegada sabia sobre o ocorrido numa fábrica velha do bairro. O Esplendor era o bairro menos visitado por ele na sua curta carreira na polícia. E, quando entrou com a viatura no bairro, constatou que o lugar só melhorava com o tempo. As casas eram grandes e bonitas, as ruas limpas, e no centro do bairro tinha uma pequena praça muito agradável.

   O bairro ficava ao lado de duas pequenas serras na zona oeste de Montes Claros. Um pouco distante do centro da cidade, mas se podia resolver quase tudo sem precisar sair do bairro. Tinha correio, banco e salões  de beleza, embora a parte residêncial fosse predominante.

   Jonas percorreu com o carro a penúltima rua antes da encosta das serras até chegar ao que parecia ser seu fim, porém, a rua continuava para um lugar arborizado e separado das casas. Seguindo as instruções de Sílvia, continuou seguindo pela rua que dava para outro quarteirão. Avistou uma mancha cinza entre o verde das plantas. Deve ser a fábrica velha, pensou. Virou a direita numa pequena curva, e subiu a pequena subida à sua frente.

   Alcançaram a àrea plana da fábrica. Ele seguiu em frente e estacionou atrás das viaturas militares. Não havia curiosos fazendo filmagens com celulares. Ainda bem, pensou. Respirou fundo e saiu do carro. Sílvia foi conversar com os militares. A primeira coisa que Jonas foi forçado a notar ao sair da viatura foi um fusca tradicional de um rosa chamativo. Não tinha visto o carro antes porque estava escondido pelas viaturas dos militares.

   O contraste que o fusca fazia com tudo em volta causava certo desconforto a visão de Jonas. Como uma peça fora do jogo. Só depois que passou o entorpecimento momentâneo é que ele pôde prestar atenção na dona do fusca. Deve ter sido ela quem encontrou o corpo, pensou. Era jovem, de estatura baixa, pele clara, e os cabelos eram lisos, longos e pretos. Ele aproximou- se dela. Achou- a bonita.

   _Você está bem?_ perguntou Jonas, olhando fixamente para o rosto da moça. Estava pálida. Consequência do choque, talvez.

   _sim._ ela balançou a cabeça.

   Jonas percebeu que a moça estava um pouco nervosa. Os braços dela estavam cruzados e ela os apertava contra o corpo. Podia ser frio. O frio de junho, em geral, se intensificava ao cair da noite. Se bem que, a questão de sentir frio, era estranha. Acontecia de uma pessoa sentir frio e a outra, não, mesmo estando no mesmo ambiente.

   _Qual é o seu nome?_ perguntou ele.

   _Dóris._ disse ela. Pela primeira vez olhou com mais atenção para ele.

   _Você quem encontrou o corpo?_ Fez a pergunta de resposta óbvia.

   _Fui eu._ A voz era aguda, quase infantil.

   _Eu sou o Jonas. Sou investigador. Aguente firme um pouco mais que daqui a pouco venho falar com você.

   Ela apenas assentiu com um gesto de cabeça, olhando o policial jovem de calça jeans justa se afastar.

   Jonas se dirigiu para onde a delegada estava. O isolamento do local não difícil de ser feito. Era provável que só as poucas pessoas que transitavam nas ruas perceberam a movimentação dos carros de polícia em direção à fábrica. Em cada extremidade da fábrica tinha um policial militar de vigia.

   _Vamos dá uma olhada._ disse a delegada._ Conversei com o policial... Ele disse que recebeu a ligação da moça às duas e meia, e chegaram aqui às duas e cinquenta. Agora já são três e cinquenta.

   _Demoraram pra nos avisar._ disse Jonas.

   _Só um militar conferiu se o homem estava vivo ou morto._ disse Sílvia._ Disse que tomou muito cuidado com a cena. Vamos ser rápidos.

   Havia uns três pés de manga espalhados entre as grandes árvores de flores vermelhas que, exibiam todo o seu orgulho para o mato que crescia entre elas, rústico e sem pretensões. Jonas foi atraído por um pé de goiaba que ficava à uns seis metros de distância, encostado à parede da fábrica.

   Não havia goiabas. Entre a goiabeira e a porta da fábrica havia um arbusto de flores. Devia ter um metro de altura. As flores eram azuis e o fez lembrar- se do Chapolin Colorado.

   Entraram num salão meio escuro e espaçoso. Atravessaram até outra porta menor onde tinha um policial de guarda. Estavam agora no centro de um compartimento enorme. Quase não havia claridade, mas aos poucos a visão ia se adaptando.

   De onde estavam puderam ver o corpo de um homem deitado de buço no chão.

   _Este lugar parece antigo, mesmo. Fabricava o quê?_ Jonas passeava o olhar de um lugar a outro.

   _Parece que era uma montadora de carros, uma coisa assim._ disse Sílvia._ Já liguei para o Departamento de Criminalística. Falei com eles que o lugar é fechado e sem luz. Espero que não demorem.
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⏰ Última atualização: Apr 09, 2021 ⏰

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