Seu Cheiro

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Eu andava deprimida, ficava pensando demais em tudo, dês da conversa com meu pai até com a Natasha.

Me sentia fracassada e fraca, havia muita gente que não conseguia salvar.

Vou fazer 18 anos e o que tenho construído?

Minha vida não era um conto de fadas que na volta do baile eu perderia o sapatinho e um príncipe encantado iria me salvar.

Eu não poderia esperar para ele me salvar, porque a salvadora deveria ser eu, mas estou apavorada, e muito coisa e eu tento ser forte de qualquer jeito mas o que adianta?

O mundo estava mudando rápido demais e eu me senti impotente.

Decidi que o melhor a se fazer era levanta da cama e tomar um banho, depois dos treinos andava evitando as pessoas e me trancando no quarto ouvindo música até dormir.

Desliguei os fones e entrei no banheiro.

A água gelada batia no meu corpo dando um choque e a sensação de que eu ainda estava ali, não era só um sonho extremamente estranho.

A água não afastava o emaranhado de pensamento sobre o futuro e o cansaço que sentia, eu queria que tivesse resolvido mas não estava resolvendo.

Saio do banheiro depois de incontáveis minutos que não me preocupei em contar pós minha mente estava nublada.

Havia cercado minhas paredes e janelas de escuridão, andei ainda molhada sem me preocupar em pega a toalha, podia sentir a água ainda escorrendo sobre meus cabelos agora quase descoloridos e amarelados, as cortas sobre meu corpo nu rolavam e ensopava onde passava, meu pés faziam barulho no piso de granito preto.

Podia senti a bile amarga sobre minha garganta querendo que eu vomitasse tudo que havia no meu estômago e o que não havia.

Me sentia tonta e febril, estava me sentindo fraca.

Sentei na cama ainda molhada, olhando para as pontas dos dedos dos meus pés, havia uma pequena cicatriz no meu dedão de uma vez que deixei cai plástico derretido nele e sofri uma pequena queimadura de terceiro grau, meus dedos estavam brancos e frios, balançava ele para frente e para trás como se o movimento fosse afastar a sensação angustiante do meu peito e minha mente.

Tudo que conseguia pensar e que eu deveria fazer várias coisas e estava fracassando em todas.

A colcha da cama estava ficando úmida, não sei quanto tempo fiquei ali mas então suspirei e levantei e fui pega uma roupa.

Peguei um blusão de manga comprida que era do Raffael, segurei firme e cheirei ela, sentia falta dele mas me sentia tão mal que não tinha forças para socializar com as pessoas até mesmo ele.

Coloquei um short samba canção que também tinha pegado dele, prendi meu cabelo em um coque bagunçado e nem me importei de trocar a colchão úmida, só deitei e suspirei.

A pressão no meu peito parece ter aumentado, não sei em que momento cheguei na borda da minha resistência mas quando percebi já estava chorando, meu peito subia e descia em intervalos irregulares e acelerado, meus olhos queimavam e minha boca tinha gosto de soro e suor, meu estômago doía e eu deitei de lado sacudindo violentamente tentando segurar os soluços altos, sentia como se meu coração estivesse sendo rasgado ao meio lentamente.

Não sei como aguentei tanto choro por esse tempo, a bile amarga estava borbulhando na minha garganta e as lágrimas ensopavão o resto da colcha que estava seca, ao meu redor todos os meus elementos rodopiavam loucamente.

Me questionava se estava chegando a beira da insanidade e minha ansiedade fazia todo o resto da minha imaginação concordar com as dúvidas.

O que para mim foram segundo chorando se transformaram em segundos, se eu não tivesse sido interrompida por um barulho estranho eu tenho certeza que ficaria horas chorando.

Meu corpo ainda fraco e trêmulo ficou em alerta.

Ouvir o que parecia ser o trinco da porta destrancando e uma frecha se abriu, a luz amarelada brilhava em comparação ao mar de escuridão que estava aqui dentro.

- Hannah - Ouvir a voz de Raffael sussurrando entre a porta.

Ele colocou a cabeça para dentro, vi a sombra dos seu cabelo desgrenhado, os fios espetados e o formato do rosto dele.

- Ra...ffa...a...el - Tentei falar em meio ao soluços que voltaram com toda a intensidade.

Em um momento muito rápido ele entrou, trancou a porta que ele tinha aberto e correu na minha direção, no momento em que ele abriu a porta o escudo que eu havia criado ao meu redor caiu.

Ele correu e me abraçou, sem perguntar o que aconteceu ele simplesmente beijou minha testa e sussurrou calmante para mim.

- Estou aqui, está tudo bem - Ele fez carinho no meu cabelo que já estava todo bagunçado - Eu estou aqui com você agora, vou te ajudar a cuidar de tudo.

Aquelas palavras doeram e aliviaram ao mesmo tempo, meu peito começou a subir e descer mais violentamente e o choro não cessou igualmente como o carinho e as palavras de Raffael.

- Eu te amo Hannah - Ele falava.

- Vai dá tudo certo, você vai ver.

Ele sentou mais no centro da cama.

- Vai dá tudo certo - Ele beijou minha testa - Eu te amo meu amor.

No momento em que ele recitava as palavras de calma e amor para mim me levantei, sentei na frente dele cruzando minhas pernas em sua cintura e abracei ele o mais forte que podia.

O cheiro dele me invadiu como um sobro de vento no inverno, o cheiro de algo que eu não conseguia distinguir exatamente mas que parecia ser algo como uma flor e ao mesmo tempo misturado com um cítrico de limão mas que ao mesmo tempo era tão familiar para mim me fez finalmente parar de chorar.

- Raffael - Finalmente conseguir falar sem chorar - Eu amo você e seu cheiro.

Ele riu, aquela risada rouca que ele dava sempre que ele implicava comigo e eu revidava ou quando algo que ele gostava acontecia, a risada de aprovação e diversão, a mesma que percebi que ele deixava somente acontecer quando estávamos a sós.

- Eu também te amo my lady - Ele afastou seu rosto e passou os dedos secando minas lágrimas, sua palma quente pousou na minha bochecha e nos encaramos.

- Está pronta para me contar o que tem te deixado mal esse tempo? - Ele falou - Já dei todo o espaço que você parecia querer mas não aguento mais ficar longe de você e te ver assim, e como ser apunhalado todos os segundo.

Então ele sabia esse tempo todo que eu estava mal e que precisava de espaço para lidar com tudo, ele se importou esse tempo todo com meu espaço para me resolver sozinha, porque ele acreditava que eu era forte e que era capaz de fazer as coisas no meu tempo sem precisar de ninguém.

Eu conseguia ler isso em sua mente, então eu não precisei contar a ele tudo que estava dentro do meu coração e mente, eu simplesmente mostrei a ele sobre aquele laço psíquico que tínhamos formados nos nossos momentos mais íntimos.

Sem dizer uma palavra, mas com a mente explodindo de declarações e afirmações de que tudo iria dar certo, em momento algum sentir insegurança ele me abraçou mais forte, até que cai no sono em seus braços.

Ali, o lugar mais familiar do mundo, com o cheiro mais familiar do mundo, estava no meu lar novamente, nenhuma preocupação dos últimos dias podia me acalmar ali e me senti muito bem por isso.

Por ele está aqui comigo.

Por ele está aqui comigo

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