O GAROTINHO DE OLHOS AZUIS MELANCÓLICOS

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— PORQUE VOCÊ ESTÁ ME AJUDANDO? — questionei quando percebi o nosso destino final se aproximar. — Você é um soldado, vai se encrencar por minha causa.

— Você foi a única pessoa a ficar do meu lado quando eu mais precisei. Precisava devolver esse gesto mais cedo ou mais tarde. E se você, a pessoa mais doce que eu conheci, precisou matar alguém é porque essa pessoa fez muito por merecer. Tentar estuprar alguém? É um ato muito canalha e covarde. Se eu tivesse lá... — Parou de falar de repente e eu sabia porquê. Eu me encolhi na cadeira e abaixei a cabeça. Fiquei tão desesperada na tentativa de escapar e não me dei o direito de pensar sobre o assunto e processar todo o ocorrido. Minhas mãos começaram a suar outra vez e as mesmas sensações surgiram. Eu não podia entrar em desespero naquela atual situação. Já estava ruim demais para me deixar levar. Por isso juntei o máximo de autocontrole, respirei fundo e virei minha atenção para a janela e a noite escura. Minha feição mudou e Patch pareceu notar, porque pigarrou e resolveu iniciar outro assunto. — E sobre ser um soldado, eu ainda não sou um. Vou para a formação na próxima equipe — respondeu sem tirar os olhos da estrada.

— Então porque você foi me procurar, se nem ao menos um soldado você é? — questionei segurando minha mão e tentando impedi-la de tremer. Eu ainda estava em choque com a possibilidade de ser pega. Patch franziu o cenho.

— Eu só queria provar ao meu pai que eu posso ser um soldado superior a ele e a qualquer um da minha família — sussurrou. — Meu bisavô foi o primeiro a entrar no exército e ajudou na construção do país, assim como meu avô. Meu pai veio em seguida e conquistou dezenas de medalhas na caça aos não-marcados. Meu irmão também se tornou alguém grande dentro do exército azul — assenti. O exército azul é composto pelos melhores soldados do exército roxo. Eles são convocados pelo próprio rei para se tornar guarda real. — Para meu pai, eu não vou ser tão bom quanto meu bisavô, meu avô, ele ou o meu irmão mais velho. Por não ter concordado com as atitudes tomadas para com seu pai. Quero provar para ele que eu posso sim ser um bom soldado, sem precisar deturpar os meus valores morais ou trair um amigo. Eu consigo ser melhor e ele também tem essa certeza. Isso o assusta.

— Seu pai... — parei de falar. As lembranças de anos atrás me socaram o estômago com a força de cem homens. Lágrimas queriam correr pelo meu rosto novamente, um pouco mais ferozes.

— Nunca tive a chance de conversar com você sobre e embora tenha se passado oito anos desde o ocorrido... eu sinto muito. Sinto muito mesmo, Mandy.

— Você não deve pedir desculpas. Foi ele quem o entregou para o exército roxo, não você — respondi. O pai do Patch era parceiro do meu e foi ele a denunciar o fato de meu pai permitir um roubo nas plantações dos vermelhos.

— Mas eu sou filho dele! As ações de meu pai recaem também sobre os meus ombros, como uma herança maldita. Eu sinto muito, de verdade — concluiu. Balancei a cabeça em afirmação quando o carro parou em frente ao prédio. Patch se esticou em direção ao meu lado do carro, abriu o porta-luvas e de lá retirou um boné e uma máscara. — Coloque isso. Aqui pode não ser igual a zona branca, com centenas de câmeras em todos os lugares, mas ainda assim tem algumas. Não podemos correr o risco — finalizou apontando para uma caixinha preta no alto de um poste, bem na esquina da rua do enorme prédio da Gebhart Industries.

Coloquei a máscara e prendi meu cabelo por baixo do boné — algo bastante difícil devido aos cachos grossos e ao cabelo grande. Patch balançou a cabeça positivamente ao me perceber pronta, mas fez uma cara de preocupado após me analisar de cima a baixo. Ele então chegou seu corpo para frente e retirou a jaqueta. Me passou em seguida.

— Todos sabem com que roupa você saiu do trem. As câmeras podem não escanear seu rosto, mas será fácil os soldados compararem suas roupas e associarem você com a assassina procurada.

Marcados - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora