CONFLITOS INTERNOS

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PERMANECEMOS NO CARRO POR MAIS alguns pouco minutos antes de entrarmos em uma propriedade com enormes portões negros, abertos automaticamente à medida que nos aproximamos. O carro seguiu por uma estrada cercada por grandes árvores verdes e flores do campo crescendo às margens. Também podia jurar escutar o barulho de água corrente, como se fosse um rio a nos acompanhar por todo o percurso.

Não demorou nem dois minutos e a mansão se apresentou diante de nós. Haviam janelas enormes em vários locais, bem como pilastras de mármore e enfeites de ouro. Era uma coisa surreal de se imaginar.

O duque deu uma volta em um jardim redondo — com uma fonte bem no centro — e parou o carro bem de frente para uma porta de madeira maciça com entalhes trabalhados na perfeição de detalhes. E bem de frente para ela havia um homem de meia idade, nos aguardando imóvel no final da escadaria. Ele usava uma roupa azul com detalhes brancos e logo percebi ser um dos empregados da casa, pois a cor de seu uniforme o entregou. Automaticamente me encolhi no banco de trás, quando ele se aproximou do carro e abriu a porta da duquesa e a minha. Ela saiu graciosamente e parou ao meu lado.

— Venha querida, essa é a sua nova casa — me estendeu a mão para me incentivar. Respirei profundamente antes de descer do carro e acompanhá-la escada acima. Um cachorro enorme, de cor marrom escuro, correu em nossa direção enquanto abanava a cauda e caia no chão com as patas para cima e com a língua para fora, por ter corrido para chegar até ali. — Esse é o Froid, Maya. — A duquesa se abaixou e começou a acariciar a barriga do cachorro. Me abaixo para também entrar naquele carinho e recebi uma lambida em retribuição.

Há muito tempo eu não via um cachorro. Não havíamos muitos na zona branca porque a fome não permitia ter.

— Bert, tem algumas malas aqui atrás. Você me ajudaria a carregá-las, por favor? — o duque pediu ainda de dentro do carro e abriu o porta-malas. Percebi e me espantei com a forma como ele tratava os empregados. Não era rude e nem altivo. Era simpático e ao mesmo tempo se prestava a ajudar o homem que o atendeu com um sorriso estampado no rosto. Em seguida, saiu do veículo e começou a tirar as malas, carregando duas para dentro da casa.

— Eu as levo. Não se preocupe — pedi me levantando e seguindo até o sujeito com as minhas malas.

— Não se preocupe, senhorita. Está bastante leve e faço com muito gosto — sorriu para mim. Assenti conforme ele se esquivava de minhas tentativas de lhe tomar os objetos. — Seja bem-vinda ao lar. Eu sou Bert, seu mordomo e fiel servo. Se precisar de mim, não hesite em me chamar. — Sorri sem graça. Durante toda a minha vida, eu era a serva e agora era servida. Aquilo era muito estranho.

Acompanhei Bert subir as escadas e passar por minha mãe adotiva. Ela me esperou o tempo todo no mesmo lugar — ao lado de Froid — e me estendeu novamente a mão quando me aproximei. Entramos todos na casa e eu simplesmente paralisei. Se eu já havia achado a casa do doutor um lugar estupidamente luxuoso, aquela casa estava em outro nível infinitamente superior.

Ao passarmos pela enorme porta, encontramos uma sala central gigante e duas escadarias que nos levariam ao andar de cima. Um piano de corda repousava bem de frente para nós, assim como uma escultura dourada do meu lado esquerdo, tão grande ao ponto de chegar quase a encostar no teto. As cortinas eram de um tom puxado ao ouro velho e cobriam as mesmas belíssimas janelas apreciadas pelo lado de fora. No chão havia um tapete perfeitamente trabalhado, tomando toda a extensão da sala e em cima dele algumas poltronas e cadeiras acolchoadas, próprias para um momento de leitura ou lazer.

— Gostou? — a duquesa perguntou e eu, boquiaberta, apenas assenti enquanto meus olhos corriam por todo o lugar. — Amanhã vou fazer um tour pela casa com você, para se acostumar o mais rápido possível e começar a se sentir mais à vontade. Quero que minha filha se sinta parte da família o quanto antes — concluiu por fim e eu a observei. Um sorriso largo tomava conta de seu rosto. Me perguntei se ela tinha tido filhos reais ou se era somente ela e o marido. Acabaria por descobrir mais cedo ou mais tarde.

Marcados - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora