O TEMPO PASSOU E PERMANECEMOS naquele quarto do pânico por mais alguns minutos. Eu me sentei em uma das cadeiras, porque eu estava sentindo muita dor e essa dor me fez começar a delirar. Eu ainda estava me recuperando do acidente de alguns dias atrás e então levei um tiro. Meu corpo estava fragilizado.
Um dos médicos correu até mim, observando que o ferimento em meu ombro voltou a sangrar e, por causa disso, ele refez o curativo. Em seguida, me deu um comprimido forte para dor. Era só esperar o tempo do efeito para que tudo ficasse melhor.
Bernard mantinha na tela a imagem da câmera que focava no rei. Os soldados roxos o encontraram em seguida, causando um alvoroço sem precedentes na sala do trono. O novo rei de Isave observou aquilo por um tempo até que voltou sua atenção para os médicos. Apertou o botão que destrancou o lugar e a porta abriu.
— Podem ir. Estão seguros — mandou ele. Patch e Monica foram até mim, para me ajudar a ficar em pé, mas Bernard segurou o braço de minha amiga, para que ela não saísse — Fiquem, por favor. Preciso falar com vocês.
Aos poucos, os profissionais de saúde saíram da sala ficando apenas nós.
— Eu sinto muito, Bernard — Monica comentou, voltando a observar a tela da televisão e perceber o trono vazio. Os roxos já haviam retirado o rei de lá.
— Vamos aproveitar a deixa, Amanda. Eu prometi que você sairia com sua família daqui e vamos fazer isso. Os pegaremos nas masmorras e iremos embora daqui antes que eles sintam a minha falta — comentou Bernard se levantando e eu não conseguia desviar a atenção dele.
— Como assim? Você é o novo rei — Patch o lembrou, mas a atitude que Bernard teve me assustou imensamente. Ele derrubou tudo de cima de uma mesa, enquanto gritava. Patch me abraçou e me afastou dele, colocando eu e Monica para fora do quarto. Era natural que o príncipe estivesse em uma crise de raiva depois daquilo. Sua mãe e seu pai haviam sido mortos no mesmo dia e ele acabou assumindo para si uma responsabilidade grande demais. Administrar um país como Isave era uma das tarefas mais árduas que alguém poderia ter, sem contar que não apenas uma vez, ele já havia expressado sua vontade de não fazê-lo.
— O meu desejo é que tudo isso queime. — Se aproximou de Patch, mas ele nem sequer se mexeu. Era uma barreira entre nós e Bernard. — Não tenho direito a nada aqui. Como eu disse para a Amanda uma vez, eu sou tão descartável como um copo de papel — Empurrou o meu amigo, que o puxou novamente e o segurou pela gola da camisa, o encarando face a face.
— Podemos fazer do seu jeito, mas preciso que você me convença de que não nos causará problemas e que não será um risco — pediu. Bernard puxou as mãos de Patch para baixo, fazendo-o soltá-lo.
— Eu estou do seu lado, Tooley — sussurrou, novamente o empurrando e saindo do quarto do pânico. Arremessou a máscara em cima da poltrona e nos encarou novamente. — A nossa deixa é essa. O palácio está um caos e garanto que não haverá ninguém nas masmorras para nos impedir. Quanto mais demorarmos, mais perdemos a oportunidade — concluiu por fim, abaixando perto de um soldado morto e pegando uma pistola. Saiu então a passos largos, desviando das outras dezenas de corpos espalhados pelo chão.
Olhei para minha amiga e para Patch, que apenas assentiram com a cabeça. Patch fez o mesmo que Bernard, pegando três armas no chão. Me entregou uma sem dizer nada, porque sabia que eu tinha sido uma roxa até os oito anos de idade. Entregou uma também para Monica, mas a minha amiga se recusou a pegar.
— Então se mantenha sempre atrás da gente — comentou enquanto checava a quantidade de balas restantes. Fiz o mesmo antes de sairmos.
A cena que vimos entre os quartos e as masmorras pareciam aquelas vistas em filmes de terror ou talvez um massacre de uma guerra. O cheiro de sangue fresco me embrulhou o estômago, principalmente quando eu escutava os gemidos de dor pelo local. Foi uma das cenas mais difíceis de toda a minha vida. Eu estava horrorizada com a proporção daquele ataque, em poucos minutos. Todos foram pegos desprevenidos e aquilo me assustava imensamente. Se nem o exército mais bem treinado não conseguiu prever esse massacre, quem conseguiria?
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Marcados - Livro 1
Ciencia Ficción[Vencedor do prêmio Wattys 2022 na categoria "Ficção Científica/Distopia" 🎖️] Quando completam dezessete anos, os jovens de Isave, um país independente situado em uma parte remota do Canadá, são forçados a seguir dois caminhos distintos: os colorid...