A LADY DE MOTTS

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— PORQUE EU PRECISO TER AULAS de etiqueta mesmo? — questionei sentando na cama enquanto Jay saía do banheiro carregando o vestido da festa acontecida na noite anterior. — Quero dizer, a formação vai ser um momento de aprendizagem, não de ficar observando quem come corretamente com o talher ou quem tem má postura ao sentar.

— Que a senhora não te escute falando isso. Sua avó já colocou você a perder quando não te ensinou nada sobre quem você deveria ser. Agora precisa correr atrás do tempo perdido, embora apenas três dias não vão fazer a mínima diferença. As pessoas, em Isave, vão achar um jeito de te machucar por você não ser aquilo que esperam que seja. Sua mãe está tentando minimizar isso — concluiu. — Anda, vai se vestir. A Senhorita Hepburn deve chegar a qualquer momento. Vai adorá-la.

— Como a conheceu, Jay? — observei a mulher parar em minha frente. Eu não ia falar sobre o fato dela ter pertencido a branca em algum momento de sua vida, mas se ela era de lá, como poderia saber quem era a senhorita Hepburn?

— Ela é bastante famosa, menina! É a primeira opção quando se fala de tutoria em etiqueta. Sua mãe sempre dizia que ela era a primeira e única opção para a pequena Sophia. Que ela esteja em um bom lugar.

— Sophia?

— Você não sabia? — neguei com um aceno. — Então não serei eu a te contar. Pergunte para a sua mãe.

— Jay, me conta. Por favor! Se a mamãe escondeu isso de mim é porque alguma coisa há, não é? — pedi segurando em suas mãos. Ela revirou os olhos.

— Se alguém perguntar, eu não te contei. Está bem? — assinto imediatamente. Colocou o vestido em cima da cadeira e se aproximou de mim com a mão estendida e o dedo mindinho em riste. Era um juramento. Então estiquei minha mão contra a dela e selamos nosso pacto fazendo os nossos dedos se entrelaçarem. Ela sorriu e sentou-se ao meu lado na cama — Sua mãe e seu pai tiveram uma menina há dezessete anos. O nome dela era Sophia.

— Dezessete anos? — perguntei. Sophia teria a mesma idade que eu tenho agora. Não a Maya, mas a eu verdadeira.

— Por isso a duquesa é tão protetora. Ela já perdeu a Sophia e precisou se separar de você, para o seu próprio bem. Por isso ela quer o melhor para você. — Jay me empurrou levemente com o ombro. Coloquei um sorriso no rosto, mais parecido um esgar. A duquesa havia realmente se excedido naqueles dias e por um momento ou dois eu me senti sufocada com toda aquela atenção e cobrança. Então, finalmente, entendi pelo que ela passava, porque me via como uma substituta da Sophia. E por mais que isso fosse entendível, era algo problemático a um nível preocupante. Principalmente quando eu tivesse minha mãe e meu irmão de volta. Eu voltaria para eles e não queria fazer aquela mulher sofrer com a minha partida. Eu jamais poderia ser vista como substituta de outra pessoa, porque eu não era. Eu não era a filha da duquesa e quanto mais isso ficasse claro, melhor seria.

— Mas o que aconteceu com a menina? — questionei. Eu queria saber tudo sobre as pessoas que se diziam ser meus pais.

— A duquesa era bastante jovem na época e engravidou antes de se casar. Ninguém sabe quem era o pai. Acontece que aqui em Isave era uma coisa impensável a filha dos duques de Motts ter engravidado sem casar e não está tão diferente de hoje em dia. Uniões entre nobres é para firmar um contrato, seja ele por dinheiro, prestígio ou poder. Sempre é por interesse. Sendo assim, quem iria querer assumir a filha bastarda de outra pessoa? Então, para abafar o escândalo, a sua avó a levou para morar no exterior antes da Sophia nascer. Evelyn conheceu seu pai quando estava lá e se casou com ele, mas a Sophia ficou muito doente e morreu ainda bebê.

— Eu não imaginava.

— Sua mãe é uma mulher muito discreta sobre esse assunto e não sai falando sobre isso o tempo todo. Eu não tive a chance de ser mãe, mas imagino o quão difícil deve ter sido perder a Sophia. Me arrepio só de imaginar — me mostrou o braço com os pelos eriçados. — Desde então seus pais só tiveram você e mais ninguém. — Jay se levantou em seguida da cama, voltando a pegar o vestido. Virou-se para mim novamente e soltou o ar dos pulmões, enquanto me olhava. — Posso te fazer um pedido, querida?

Marcados - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora