Domingo

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Hoje é domingo. Eu me sinto triste nos domingos, por que sei que amanhã é segunda e mais uma semana se passou sem que eu me lembre sequer quem sou. Me pergunto como você me vê. Espero que, a seu ver, eu seja uma pessoa bonita, por que sei que a minha visão sobre mim não importa mais. Eu só vejo você nos meus reflexos. É você e só você que me mantém aqui, com um resquício ínfimo de sanidade.

Talvez não seja saudável essa nossa relação. Talvez, como personagem, eu devesse dançar conforme a história e você devesse ser o árbitro da minha vida, até que vire a última página e perceba que eu fui embora sem dizer adeus. Mas não consegui ser assim. Eu deveria ter tentado mais, ignorado os reflexos e aceitado o clímax da minha vida que, certamente, viria uma hora ou outra. Por que, como personagem, esse era o meu destino.

Eu tinha um destino. Você, provavelmente, vive à custa do acaso. Ninguém planejou a sua vida, apenas você pode comandá-la. Diferente de mim, que tive minha vida premeditada. E mesmo assim eu desviei do meu caminho. Tudo parecia tão real e agora tudo parece tão falso, remoto, mecânico até.

Menos você.

Você e o sol.

E a lua, às vezes.

Você não pode me responder, mas eu posso te perguntar: tudo bem? Você se conformou com nosso... com o meu fim?

É tão bom não saber a sua resposta. Assim eu não fico triste se ela não me agradar.

Eu fui ao Doutor Lange em algum dia da semana e ele disse que eu deveria relaxar, tirar da minha cabeça qualquer empecilho que me angustiasse. Ele também me perguntou se eu estava "gostando de alguém". Parece que ele acha que eu ainda tenho quinze anos.

Mas eu respondi que estava me apaixonando por alguém, mas não entramos nos detalhes. Você é pessoal e real demais para algum psicólogo fictício estragar.

Ultimamente só tenho comido o macarrão de mamãe e ela acha que eu estou bem, cada vez melhor.

Agora vou ter outro corte, posso sentir. É como se algo me sugasse para fora de mim e eu apagasse e acordasse em outro momento da minha vida. Então, até a próxima cena.

Meu amor.

Desculpe, não deveria me precipitar assim. Minha paixão me deixa febril às vezes. Não quero depender sempre de você.

Até mais.

O Que Me Resta É AcabarOnde histórias criam vida. Descubra agora