O girassol

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Eu tento me erguer

Às próprias custas

E caio sempre

Nos seus braços

Um pobre diabo

É o que sou

Os olhos pareciam enxergar miragens. Os passos lentos eram o exemplo perfeito do medo de não se tratar da realidade. Sarah viu Juliette de longe. A distância em que se encontravam na cama horas antes agora estava multiplicada por muito, mas era apenas o físico. Bastava tempo. Juliette ainda tinha as mãos pregadas em oração enquanto abria os olhos respirando os ares da madrugada quando o ponto cego sumiu da lateral dos olhos e a imagem do amor deixava de ser desfocada na distância. Como imãs atraídos pelo negativo e positivo, os corpos já não respondiam por si. Seguiam a lei da atração. Precisavam se conectar, se grudar, se envolver. Misturavam-se como se pudessem ocupar o mesmo espaço.

Os passos lentos na grama foram aumentando a velocidade. O compasso no peito era forte. Parecia música. Batiam em sincronia. Os peitos se encostaram e os braços se abraçaram como se o tempo distante equivalesse a uma década, mas passaram apenas horas. O início do amor é sempre demasiado. Juliette ficava na ponta do pé sempre que abraçava Sarah e a loira, por sua vez, adorava usar como desculpa a diferença de altura para enterrar o rosto no pescoço da paraibana. As mãos de Sarah apertavam o corpo da morena contra o próprio com força, os dedos seguravam firmes nas costelas opostas e ela respirava o perfume natural do corpo de Juliette como se fosse o ar necessário para lhe dar a vida. A morena mantinha os braços entrelaçados no pescoço da loira, deixando-a ainda mais perto de sua pele. Sentia o próprio coração bater rápido do lado esquerdo e as palpitações velozes de Sarah no peito direito. Os olhos de ambas seguiam fechados. O que não podia ser dito com palavras era perfeitamente entendido pelas duas apenas com o que o coração gritava.

Juliette tirou o queixo que mantinha apoiado no ombro de Sarah, afastando o rosto dela, com o corpo ainda colado. A loira seguiu os mesmo passos. Sarah olhava para Juliette como não tinha olhado até o presente momento. A visão transparecia uma mistura de carinho e mágoa, de amor e dor. Desejo e fraqueza. A morena passou as costas da mão na bochecha corada da brasiliense e voltou o toque para os fios loiros dela. Diferente de outros momentos, aquela ação não era guiada pela necessidade, mas pelo conhecimento. Sarah era uma borboleta em formação. Se fechava tão completamente que parecia viver presa em um casulo. Juliette era o raio de sol que batia na fresta mal construída. Que adentrava o ambiente e o enchia de luz. A claridade que cega.

Como eu sou um girassol

Você é o meu sol

A morena não precisou usar muita força para trazer o rosto da amada para mais perto. Sarah também precisava do beijo com a mesma urgência de Juliette. As bocas se encontraram já abertas. A loira não precisou abrir os lábios da morena como nos outros beijos, o caminho já estava livre. Ela passava a língua tranquila pelo céu da boca de Juliette, o que arrancava pequenos sorrisos da morena. Caminhava lento pelos lábios dela, circulava a língua da outra e tocava os dentes. A morena adorava os lábios. Sugava o lábio superior da brasiliense calmamente, sentia a língua passar pela pele macia do interior da boca e mordia o lábio inferior dela de leve. Até nisso eram diferentes.

Elas se beijaram por longos minutos. Separavam as bocas apenas quando precisavam de ar. O suspiro era o gás que as faziam engatar novamente nas carícias. Trocavam as mãos de posições e acariciavam os corpos por inteiro até onde os braços conseguiam chegar. Após um longo tempo, decidiram sentar na grama. No meio do gramado. A morena esticou as pernas e se apoiou nos cotovelos enquanto olhava o céu estrelado. Sarah aproveitou a posição da amada e deitou a cabeça nas coxas de Juliette, esticando o corpo, encarando o mesmo céu. O silêncio era confortável e nem mesmo o barulho das câmeras se movendo importava para elas. A morena endireitou o corpo e pôs-se a fazer carinho no cabelo de Sarah.

Tudo é questão de jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora