39. companheira

1.6K 136 174
                                    

noah urrea_

Foi tudo rápido. Tudo odiosamente rápido e em minha opinião, mal sucedido. Dessa vez conseguiram me deixar realmente furioso.

Ainda abraçado ao garotinho eu olhei para trás e vi Dom Matteo dominado pelos policiais, sangrando um pouco. Krystian estava ao lado, agachado com uma expressão de dor.
-Krystian?

-Estou bem, chefe. Apenas caí sobre a mão, meu pulso está inchado.
Logo minha preocupação deu lugar à raiva.
-O que eu falei sobre não atirar, Krystian?

-Ouvi o tiro, pensei que ele tivesse acertado você. Mas eu não atirei para matar... acertei o braço dele.

Quando me distraí com o garotinho, Dom Matteo avançou sobre mim. Ainda tive o sangue frio de erguer a arma, caso ela disparasse. E foi o que aconteceu.

Disparou para o alto, assustando ainda mais o garoto. Então Krystian invadiu o quarto com a arma apontada para Dom Matteo. Eu corri até o garoto, gritando para que Krystian não disparasse, mas já era tarde.

Felizmente o tiro acertou o braço. Dom Matteo gritava enquanto era seguro pelos policiais.

-MALDITO! MALDITO URREA! TIRE AS MÃOS DO MEU GAROTO! TIRE... TIRE.

O garoto tremia um pouco e eu apertei sua cabeça em meu peito para que ele não visse a cena. Sabina e Priscila continuavam estancadas, me olhando. Alguém me devia uma explicação.

-Senhor Urrea?
Ergui minha cabeça e encarei o policial.
-Precisamos levar o garoto.

-Eu... não poderia falar com ele? Só alguns minutos?
O homem suspirou e coçou a cabeça.
-Tem que ser rápido.

-Serei rápido. Obrigado.

Saíram arrastando Dom Matteo aos berros. Fiz sinal para que os demais se retirassem.

-Sabina? Pode trazer um copo com água, por favor?
Ela desapareceu e rapidamente voltou com a água.
-Pode ir.

Assim que a porta se fechou eu peguei o garoto no colo e sentei-me com ele na cama.
-Beba.
Ele bebeu, sem me encarar.
-Como se chama?

-Joseph. Por que estavam brigando?

Merda. Não esperava uma pergunta assim tão direta. O que eu diria? Que o pai dele era um maldito pedófilo filho da mãe? Ele nem entenderia nada. Tampouco eu teria coragem de dizer isso.

- Os adultos às vezes se desentendem e não sabem resolver as coisas muito bem.

Ele não respondeu, mas dessa vez me olhou. Era branco e tinha cabelos castanhos e lisos e olhos azuis esverdeados.

-Quantos anos tem?

-Oito.
Tão franzino. Parecia ter menos que isso.
-Então você é filho de Dom Matteo. Eu o conheço há anos, nunca soube que tinha um filho.

-Ele me pedia pra chamar de pai, mas ele não é meu pai de verdade.

-Não? O que são então?

Ele torceu as mãos no colo, olhando pra mim quase com medo. Tentei fazer de tudo para suavizar a expressão sisuda em meu rosto e não assustá-lo ainda mais.

-Eu ficava com minha mãe. Ajudava ela vender balas. Mas um dia ela sumiu. Então ele apareceu e disse que cuidava de mim.

-Ah... então ele não é nem parente seu, não é?

-É.

-E há quanto tempo aconteceu isso?

-Poucos dias... ele me trouxe pra cá.

 𝐎 𝐏𝐎𝐃𝐄𝐑𝐎𝐒𝐎 𝐔𝐑𝐑𝐄𝐀↯ ησαηчOnde histórias criam vida. Descubra agora