Imogen se afastou. Thalisnia se aproximou. Com passos lentos e certeiros, ela se colocou na frente dele. Não havia círculo daquela vez. Eles se encararam por alguns instantes, e nenhuma palavra foi pronunciada, sobre regras ou limites para aquela luta. Finn decidiu que não usaria poderes, mesmo que Thali se atrevesse. Um sopro de seu poder usado do calor do momento, poderia muito bem fugir do controle e se tornar um problema. Por isso o príncipe apenas se manteve ereto, sentindo o vento gelado no cabelo loiro enquanto esperava a garota se posicionar. Se é que aquela força da natureza podia ser chamada daquela forma. Os olhos escuros da garota se estreitaram, e Finn pensou ter visto estrelas brilhando naquela beleza.
— O que está esperando príncipe?
O homem manteve a postura. A coluna ereta com graciosidade, as mãos soltas ao lado do corpo, os dedos longos relaxados... não era uma posição de luta. Finn estava convencido da vitória, e Thalisnia não via a hora de acabar com aquela certeza.
— Eu nunca avanço.
— Que pena. — Theli exibiu um sorriso felino. — Lá se foi sua chance.
Arrogante. Mas aquilo divertiu a Finn. Ele sempre gostou de mulheres com um gênio forte, isso as deixava mais perigosas, mais... interessantes. Ela avançou. Ele esperou até que a distância entre eles fosse pouco mais que seu braço esticado para adquirir uma pose de luta, mas foi tarde. Ela esticou uma mão delicada para ele, e o paralisou. Um sopro de susto escapou pela garganta do príncipe, suas veias congelaram de medo. Ele viu a escuridão.
Aquela negritude que presenciou naquele dia, em que estavam apenas os príncipes e a rainha em uma sala fechada, o dia em que todos descobriram que Kai era o herdeiro negro, quando se livrou do juramento de sangue. Foi a primeira vez que Finn sentiu na pele o poder do herdeiro, quando Kai tentou se virar conta a rainha, e ele teve que congelar tudo para tentar mantê-la viva.
Finn estava observando os céus quando começou. O príncipe Edwin estava recostado em uma das árvores do jardim, olhando ao redor. Lúcios chegou um pouco depois, e apoiou as mãos na cintura. Só aquele movimento, foi o suficiente para fazer o ruivo acobreado ao lado de Finn estremecer. Ele sabia que os irmãos não tinham uma relação, mas não imaginava que era tão tensa assim. O príncipe pensou em algum assunto para puxar, mas seus olhos não queriam abandonar os céus escuros e belos daquele momento. Mas ele nem sequer teve tempo para isso, porque Jasper invadiu os jardins, apressado e ofegante debaixo do tecido negro que cobria metade de seu rosto.
— A rainha está chamando. Provavelmente é urgente.
Nenhum dos garotos ali se demorou, quando se retiraram para seguir o príncipe mascarado. Como sempre, todos ali transmitiam suas emoções, até Jasper por trás do tecido escuro, menos Finn. Os príncipes já sabiam quem era o herdeiro, graças à mente afiada do príncipe do gelo. Finn investigou cautelosamente, desde os aspectos das provas reais até a conversa que Kalishta ouviu na floresta. E após seguir o príncipe Kai durante algumas semanas, teve sua constatação. Mas assim que conseguiu, o astuto herdeiro negro também fez sua jogada. De alguma forma, enlaçou Jasper na teia da mentira, e realizou o juramente de sangue. Através de ameaças, todos os herdeiros acabaram caindo, menos Kalishta e Emory.
E agora lá estavam eles, caminhando pelos corredores altos do palácio de Elliwe, na direção da sala de guerras. E mesmo assim, o príncipe loiro não perdeu a postura, jamais perderia. Ele não sabia o que era medo até ali. Quando eles entraram na sala, encontraram os irmãos de Kalishta e a rainha, sem sinal das princesas pelas quais lutavam. Finn procurou ignorar aquele fato. Então a rainha começou. Ela fez um interrogatório breve, atirando palavras por um tempo. Ela apontou suspeitos, mas nenhum sólido até que finalmente...
— Diga-me Kai. Qual é o gosto do sangue de seu irmão?
Não foi um blefe, a rainha sabia. Finn se sentiu aliviado por finalmente alguém descobrir, ainda que duvidasse que Kai não tinha um plano para aquilo também. Astuto, o maldito era astuto. Mas virou uma discussão. Finn se segurou para não atacar, para não tentar deter o mal bem ali. Ele não tinha noção daquele poder. Lúcios se contorcia ao lado dele, enquanto a rainha e Kai debatiam, o segundo contando as coisas horrendas que havia feito com a própria irmã por anos. Finn estremeceu. Encarou aquela garganta exposta, e pela primeira vez sentiu que não poderia se conter para rasgá-la. Mas o olhar da rainha se encontrou com o dele... e ele soube.
Mesmo sem nenhuma palavra sair dos lábios da sábia mulher, Finn soube o que ela queria dele. Ele era o único que poderia prendê-lo, atrasá-lo sem gastar muito tempo ou correr muito risco de vida. A porta estava fechada, e os príncipes em sua maioria, paralisados de medo. Precisavam sair dali. A rainha começou a distrair Kai, até que ele estivesse virado o suficiente para terem uma chance. Ela estava se sacrificando. Finn não permitiria. Antes que pudessem impedir, ele reuniu seu poder, apenas uma parte, e lançou estacas para cercar o homem do mau.
— Corram.
Não foi um grito, foi uma ordem. A voz baixa e grave, quase cruel. Nenhum deles ousou discutir. Se Kai tinha poderes para sugar vitalidade, então... eles tinham no mínimo que bolar um plano melhor. A rainha correu para a porta logo atrás dos príncipes, e Kai não tentou fugir. Quase como se não valesse o esforço, como se eles estivessem fazendo exatamente o que ele esperava que fizessem. O herdeiro negro sorriu.
— Você era um bom partido pra minha irmã Finn. É o único entre eles que pensa o suficiente.
Finn não se intimidou. Kai não era nada além de um garotinho mimado com poder demais, e era só questão de tempo para que o derrubassem, afinal eram cinco contra um.
— Meus sinceros agradecimentos.
Kai ergueu uma sobrancelha.
— Sabe, a única ameaça que sempre senti, foi vinda de você. — Kai admitiu. — Apesar de muito forte, Lúcios não sabe usar seu poder. Edwin é um genocida maluco, e Jasper se deixa levar pelas emoções. Você... seria interessante brincar com você príncipe Finn.
Ele sabia que deveria correr. Ele odiava dar às costas para o inimigo, mas percebeu o quão crucial era dar o fora dali o mais rápido possível. Kai pareceu ler seus pensamentos, porque uma rajada de poder fez a porta lateral atrás de Finn bater com um estrondo.
— Já sentiu poder de verdade príncipe?
Ele sentiu. Kai ergueu a mão com uma calma monumental, e escuridão, pura e bruta flutuou ali. Uma onda de poder, algo tão errado e perverso que Finn sentiu seu corpo paralisar completamente. Foi a primeira vez que o príncipe perdeu a compostura.
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Filho de Bulhart
FantasyJá haviam se passado dois meses desde o incidente que quase levara todo o país dourado, e os herdeiros tentavam se recuperar do ocorrido. A política se reestabelecida em alguns reinos, mas em outros... nada parecia funcionar. Com protestos e revolta...