Finn observou a floresta à sua frente, congelada como nas molduras que decoravam a sala de chá de sua mãe. A neve caía ao seu lado, o evitando, como se soubesse de quem se tratava. Seu irmão estava ao seu lado, mas tão silencioso que quase nem era notado. Fenrir, com uma considerável diferença de tamanho e idade que Finn, na verdade as vezes parecia uma versão mais velha. Os dois eram muito parecidos, os mesmos cabelos dourados, olhos de oceano e poder bruto.
— Um dia você vai entender Finn. — Seu irmão encarava a floresta quase tão avidamente quanto ele. — Vai entender porquê de esta floresta parecer tão atrativa.
Finn jamais esqueceu aquelas palavras. Isso havia acontecido algumas semanas antes de seu irmão nunca mais ser visto. E agora ele sabia, não era a floresta que parecia atrativa. Era a liberdade, ou qualquer coisa longe do que ele se recusava a chamar de casa.
— Vou erguer barreiras, mas com uma única entrada. Só precisarão vigiar ela, nada passará pelos muros. — Finn ergueu um olhar para Thalisnia antes de continuar. — Vou me certificar de fazê-los altos o suficiente.
Depois de passar as informações para Kalishta e Emory, Finn cuidou para checar os cavalos. Levariam suprimentos para uma semana, mesmo que o tempo de viagem fosse menor, Finn queria ir preparado. Deixou o suficiente para que Kalishta não precisasse caçar por pelo menos um mês, e todos pudessem se manter seguros, aquecidos e alimentados.
— Essa roupa vai aquecê-la melhor.
Finn procurou Imogen, para dar a ela um conjunto de lã, que ele procurou muito. Ela parecia a mais afetada pelo frio, já que ele não podia ser atingido, Lúcios desviava os ventos de si próprio, e Thalisnia literalmente andava descalça pela neve.
— Me sinto uma coisa pequena e fraca perto de vocês. — A garota comentou.
Finn riu.
— Pequena é a rainha Kalishta. E de fraca você não tem nada.
Kalishta gritou um "ei" atrás dele ao ouvir, o que fez Imogen exibir um sorriso. Ela era doce. Era meiga e poderosa, gentil. Finn tinha certeza de que seu pai aprovaria a união, então porque elenco para vade olhar ao redor, procurando a confusão ambulante?
Thalisnia surgiu das árvores da clareira, depois de ter aparentemente mandado seus soldados embora. Seriam só os quatro naquela viagem até Orn, pelo menos não levaria muito tempo. O caminho do rio era mais extenso quero normal, mas se esse era o preço por levar Thalisnia, Finn não se importava. A mulher pegou uma adaga da cintura, e conferiu seu fio.
— Posso providenciar para que seja afiada, se quiser.
A mulher semicerrou os olhos para Finn, como se soubesse o motivo da conversa fiada. Então ergueu as sobrancelhas e a encaixou de volta na bainha de couro.
— Não precisam estar afiadas, eu preciso.
Sem dizer mais nada, ela passou por ele, em direção ao rei que terminava de ajeitar suprimentos nos cavalos que levariam. Lúcios segurou uma risada quando olhou pra Finn, e viu o amigo completamente paralisado de surpresa. Definitivamente, Finn não era o tipo de pessoa que estava acostumado a ser ignorado. E exatamente por isso aquela garota o intrigava ainda mais.
Em menos de meia hora todos estavam prontos, em cima dos cavalos e prestes a ir. Kalishta se despediu do marido pela terceira vez, e lançou a Finn um olhar pesado de confiança. Finn sentiu a responsabilidade que carregava, não só por ser o único com um mínimo senso de direção do grupo, mas também porque a ideia fora sua. Pouco depois que o sol nasceu, eles já estavam cavalgando, e se mantiveram assim por algumas horas.
O ritmo deles era diferente do que foi quando saíram de Kibtaysh, e Imogen sentiu isso nos ossos da pelve conforme a cela se esfregava de mal jeito com o impacto. Seu cabelo parecia um emaranhado de fios negros desobedientes, seus olhos já estavam secos com o vento, e seu corpo tremia pra se manter ereto. Ela olhou para Thalisnia, completamente ereta e imponente, inexplicavelmente equilibrada em cima da égua mais arisca do acampamento, o cabelo prateado fixo e trançado em sua cabeça. Finn também estava olhando pra ela, até Lúcios tirar sua atenção.
— Veja.
O rei apontou para um córrego escuro, seguido pela divisão de terras entre o centro do país e Ellywe, o único local entre eles e Orn.
— É aqui que precisamos nos manter perto do rio.
Finn deu sinal para que se aproximassem, antes de cruzarem a fronteira, já estavam perto o suficiente do rio para que Thalisnia sentisse o mínimo de fraqueza possível. Seu coração se acelerou como maluco. Ela olhou por cima do ombro de seu país que se afastava, o país que ela nunca havia deixado. Ela só podia torcer para que as lendas estivessem certas, e ela fosse capaz de manter aquilo dentro de si.
— Olhe!
Imogen praticamente gritou, apontando para um ponto no rio que se mexia. O estômago de Thalisnia se revirou quando Finn pulou do cavalo, uma mão aberta e pronta para atacar. seu instinto primitivo de sobrevivência a mantinha fixa no lugar, mas seu senso de responsabilidade a incomodava para seguir o príncipe. A água turva do rio se mexer mais, até parar de uma vez. Lúcios imitou Finn, e se posicionou ao lado do amigo com os ombros tensos, na margem do rio. Longos minutos se passaram sem que nenhum movimento fosse captado debaixo das águas. E então, um grito humano, vindo do fundo do rio, ultrapassou as águas até o grupo. Finn estava prestes a se jogar no rio, quando Thali finalmente se mexeu. Em um impulso de poder, ela paralisou Finn e se jogou do cavalo, correndo para a frente do príncipe antes que o desastre acontecesse. Com um agitar de águas poderoso, Finn só conseguiu ver o flash azul antes que Thalisnia os protegesse com um escudo dourado, jogando a criatura longe.
— Mas o que...
Finn foi atingido por um golpe, vindo de Thalisnia, para afastá-lo da criatura que relinchava na grama. A mulher se aproximou da coisa gosmenta e azul. a criatura tinha pelo menos dois metros de comprimento, uma calda espessa e a parte de cima até que... humanoide. Imogen encarou de longe, impressionada pela forma como o monstro encarou Thalisnia com medo quando a viu. Os olhos negros da coisa se encontraram com os de Thalisnia, e com um grito de desespero, ela começou a se afastar. Mas assim que Thali ergueu um dedo, a criatura foi completamente paralisada. Com passos vagarosos Thalisnia se aproximou, até estar próxima o suficiente da coisa para poder sussurrar;
— Morra.
Um silêncio sepulcral tomou conta de toda a floresta quando Thalisnia se virou, e a coisa simplesmente explodiu.
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Filho de Bulhart
FantasyJá haviam se passado dois meses desde o incidente que quase levara todo o país dourado, e os herdeiros tentavam se recuperar do ocorrido. A política se reestabelecida em alguns reinos, mas em outros... nada parecia funcionar. Com protestos e revolta...