Prólogo

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(Strange Love – The Unlikely Candidates)

Calum Hood

Os faróis em luz alta do meu carro não iluminam mais de meio metro à frente, me deixando apenas com o clarão dos relâmpagos incessantes para ter noção da rodovia. Estou dirigindo em velocidade muito inferior a de qualquer motorista que trafega nesse trecho em situações normais, e o rádio que sempre embala minhas viagens já foi desligado há muito tempo. O barulho lá fora é mais do que suficiente pra encher a minha cabeça.

Ninguém gosta de dirigir no meio de uma tempestade, mas eu nunca vi um cenário tão ruim na minha vida. Estou preocupado. E minha própria preocupação me impressiona, porque eu costumo ser a pessoa mais tranquila que conheço no trânsito.

Definitivamente não hoje. Já pensei em não ver outro carro e acabar batendo, em alguém não me ver e bater em mim, do vento jogar algum galho na minha frente, ou algum animal estar na pista. Mas não há movimento nenhum e felizmente estou intacto, esses cenários ansiosos só comprovam que eu não posso continuar por muito tempo.

Mas onde parar se eu não consigo ver absolutamente nenhum clarão na beira da pista? Me lembro de haver casas ao longo da costa, alguns chalés que acompanham o litoral, mas o vento deve ter derrubado a energia, procuro há quilômetros e ainda não vi nenhuma luz.

Logo meus nervos estão exaustos e alcanço o fim de minha paciência, aumentar a velocidade e enfrentar a fúria da natureza começa a parecer uma ótima ideia, até que meus olhos param em algo.

Enfim, algo.

Não sei se é casa, hotel, chalé ou apenas um novo tipo de miragem. Mas estou vendo, e apostaria que é o único ponto de luz que vou ter o prazer de achar aqui. Por isso diminuo ainda mais a velocidade e entro com o carro em uma pequena saída de areia que leva até o local.

Segurança. Ou quase.

Ao menos o máximo de segurança que consigo encontrar agora, me dá um tempo para descansar e voltar a pensar direito. Paro o carro na lateral da construção e desligo as luzes para não incomodar nenhum morador.

Os pingos de água caem com força, continuam castigando a lataria do carro e zunindo com perseverança nos meus ouvidos. Deixo o aquecedor ligado e pego meu celular para avisar alguém. Se eu tiver sinal.

Enfim me encontro em segurança, uma paz enorme comparada a estrada turbulenta dos últimos longos vinte minutos. Parado aqui consigo imaginar, com clareza, Luke falando que é uma má ideia a cada 30 segundos, Ashton bolando o plano para o fora imediatamente, e Michael ficaria olhando as janelas a qualquer segundo, cuidando de qualquer coisa estranha.

É, eu estaria muito mais seguro com eles. 
Mas não, tinha que decidir voltar sozinho e logo agora. Eu mereço um prêmio por ser a mula da banda.

–Ash, cara, não vou conseguir chegar. – digo assim que meu melhor amigo atende.

"Chuva?"

Suspiro, prevendo o sermão que está chegando.

–Parece que o mundo vai acabar.

"Disse pra você esperar até amanhã. A previsão de tempestade tropical não ia estar no jornal por humor, Calum. Cansamos de avisar."

–Eu sei, parabéns. Devia ter ouvido. – resmungo – Tô ligando pra avisar que estou em segurança, parado pra esperar a chuva passar, quase entrada de Los Angeles.

"Ah, quase chegou então?"

–Sim, já passei o Marina Park. Mas estava andando tão devagar que não sei a distância agora.

Babylon - Calum HoodOnde histórias criam vida. Descubra agora