(Harden the paint – Foster The People)Andara Hendrix
Vivemos á beira do precipício. Todos os dias no limite. Limite do hoje e do amanhã, do passado, presente, do futuro.
Não sabemos o que vai acontecer a seguir, nem como, quanto menos porquê. Até quanto tudo vai estar no lugar, ou começar a desmoronar. Se vai ruir aos poucos, ou colapsar de uma vez só. Não sabemos quando o incêndio começa, nem de onde vem a chama.
Viver não é fácil. Nunca foi, nem será.
Visitar os hospitais todos os sábados me faz lembrar disso de forma que jamais esquecerei. Ouvir cada história, ver cada rosto, sorrindo ou emocionado com as coisas simples que tentamos levar a eles. O mínimo de carinho.
Há tanta tristeza por ai, que não me conformo em como todos não se empenham para ajudar, ao menos um pouco. Mas talvez eu entenda. Cada vez que sei da tristeza de alguém ela se torna um pouco minha também, seria mais fácil virar o rosto fingir não ver nada. Menos doloroso.
Mas é justo? Deixar que alguns levem sozinhos um fardo que poderia ser dividido?
Eu vi meu pai se acabar, assisti sua decadência aos poucos sem saber o que fazer para salvá-lo. Por isso digo com todas as palavras que, não, não é justo. Nunca foi, nem será.
Diferente do meu pai, conhecer os pacientes do hospital me dá algo em troca. Esperança, muitas vezes até inspiração. Não existe lugar com maior força do que a deles. Enfrentando seus medos, preocupações, e coisas imensamente piores todos os dias. Mas ainda estão aqui, estão lutando, e sua recompensa vai chegar. Estão sempre vivendo, um dia de cada vez, um passo atrás do outro.
Devíamos aprender.
Eu tento aprender. Eles não desistem, eu também não devo desistir.
Não é bobagem quando dizem que todos somos guerreiras e guerreiros, viver é uma luta até mesmo quando não sabemos disso. A nossa própria forma, estamos sempre na batalha. Sempre. Tentando compreender a vida.
Vidas diferentes. Circunstâncias diferentes. Momentos diferentes. Sempre na luta.
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Os dias que se seguiram da nossa visita deixaram Calum pensativo. Amo isso sobre ele também, não deixa as coisas passarem diante dos olhos sem pensar a respeito. Conversamos sobre tudo, sobre coisas demais. Ele diz que lhe ensino algo novo todos os dias e espero realmente estar contribuindo, mas sei que aprendo muito mais com ele.
Debaixo das noites estreladas do lado de fora do chalé, o barulho das ondas nos embalava escuridão a dentro enquanto pintávamos aquarelas inéditas no céu extenso acima. Tantas palavras sérias seguidas de risadas e beijos que me tiraram do eixo, doamos tantos tons para o universo estendido ao alcance de nossas mãos que o mundo parecia perfeito de novo.
Parecia que a realidade atormentada do meu chalé nunca ia voltar, só por ele estar aqui do meu lado. Que, em um passe de mágica, eu havia sido concertada para sempre.
Mas não fui.
Na primeira manhã depois da nossa folga, o mundinho ideal se despediu e a realidade me alcançou como uma mancha de óleo se espalhando pela superfície da água. Acordei cedo, retirei todo meu material e posicionei perto da janela da sala onde costumo trabalhar.
Abri minhas tintas. Peguei os pinceis. Precisava pintar. Precisava criar. Qualquer coisa.
Mas não consegui.
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Babylon - Calum Hood
FanfictionI thought we had a place, just our place, our home base, my headspace Was you and I always, but that phase has been phased in our place I see it on your face, a small trace, a blank slate, We've been erased But if we're way too faded to drive, you...