Shingashina, 5 anos atrás.
Era mais um dia de plantão para Grisha e Carla, sobrando apenas dois adolescentes exaustos de tanto brigar, indo de um lado pro outro enquanto a tentativa de ganhar no argumento era mais pesada do que a tensão podia suportar. Adolescência, doce adolescência.
- Mikasa, você é sempre muito dramática. Não há necessidade de tanto estresse. Eu já te disse...
- Você em sua vidinha perfeita não tem a mínima capacidade de olhar fora da caixa. Eu estou desmoronando, Eren. É tão difícil entender?
- Eu sei o que você está sentindo.
- Não, você não sabe.
- Ok, eu não sei. Mas estou aqui.
Caminhei até a extremidade da sala, tomando distância do outro adolescente furioso no mesmo cômodo. Seu corte de cabelo era aparado e muito comportado. Eren gostava de tons verdes, sua camisa do Pink Floyd tinha essa cor. Um relógio inteligente, que abrigava mais funções do que eu podia contar, adornava seu braço. Ele deu uma rápida olhada nas horas e bufou, frustrado. Parecia cansado. Eu quase tive pena, mas ainda não estava disposta a negociar uma trégua.
- Miky. - Ele me chamou. Seus olhos verdes pediam um tempo.
- Acho melhor você aproveitar os últimos momentos que vai me ver livremente. O Japão não é tão perto. Claro, tem o lance do fuso horário também. - Adicionei uma pequena camada de veneno na fala. De brinde, ganhei um revirar de olhos.
- Mamãe prometeu, você sabe, ela não vai deixar que você vá. - Ele se sentou no sofá, ouvi alguns murmúrios, mas eram baixos demais para que eu pudesse compreender.
- Não é só querer.
- Nós prometemos, Mikasa.
Me virei para a janela que dava acesso ao jardim da casa. O sol era digno de uma tarde comum de verão. Sinceramente, era desgastante para alguém de 15 anos armazenar tantas informações ao mesmo tempo. Quer dizer, eu deveria estar vivenciando experiências normais agora, mas tudo que eu podia concluir é que não ter certeza nem mesmo sobre o seu lar é uma coisa longe do comum.
Kiyomi estava em mais uma viagem de 7 dias para o oriente. Pouco antes de ir, ouvi uma conversa baixa em que ela reclamava sobre a situação em que nos encontrávamos. Era difícil conciliar, se ao menos eu fosse de uma vez para o Japão, 90% dos seus problemas sumiriam. Eu sabia disso. Na mesma conversa ao telefone, Kiyomi confessou a outra pessoa na linha, que tentaria me convencer, novamente, a ir com ela. Naquela semana, eu adoeci. Na semana seguinte, meu período menstrual chegou. Foi uma boa, pude ter o direito de colocar a culpa das minhas frustações nas cólicas, ocasionando o péssimo humor que eu apresentava a todos, incluindo Eren. O Eren que estava a quase uma hora inteira tentando fazer com que eu desistisse dessa insegurança.
- Estou com medo, Eren. - Minhas primeiras lágrimas do dia desciam. - Eu não quero ir embora. Não quero sair daqui. Não posso sobreviver lá fora. - Minhas palavras eram um desabafo profundo. Eu me questionava se algum dia eu estaria pronta pra sair e descobrir novas coisas, mas era tudo tão pesado. Avançar significa deixar coisas para trás. O meu eu ainda não queria isso.
- Eu já disse, você não vai a lugar algum.
Eu não havia percebido, mas ele estava muito próximo. Suas mãos me abraçaram por trás. Meu rosto ganhou uma nova coloração. Recentemente havíamos descoberto esse tipo de carinho. Um abraço, beijo, cafuné... Antes disso era estranho. Mas então, de pouco em pouco, conforme a idade passava, isso virou o nosso comum.
- Promete? - A pergunta veio em um momento de fraqueza, mas era genuína. Minha cólica apertou, enviando sinais de que eu teria que tomar algum remédio logo, no entanto, as lágrimas caindo já eram de conforto.
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A Improbabilidade de Mikasa Ackerman - REVISANDO
FanfictionIndependente aos 20, notável na faculdade e com todo o futuro planejado. O que poderia dar errado? Senta aí, que eu vou te contar as improbabilidades da minha vida que me fazem questionar a linha tênue da felicidade.