Todo Lugar Que Eu Vou
"Eu me pergunto se estou sendo real
Eu falo o que penso ou eu filtro como me sinto?
Eu me pergunto, não seria bom
Viver em um mundo que não é preto e branco?"
Wonder - Shawn Mendes
A música cantada por uma doce voz ecoava solitária na floresta que agora era o seu lar. Harriet a ouvia quase todas as noites há algum tempo, como uma canção de ninar. Fazia quase um ano desde o ataque à sua vila. Ninguém havia a encontrado naquele bosque, assim como Oliver havia prometido. No entanto, aquela doce voz de um pequeno garotinho era quase um mistério.
Harriet imaginava que ele era assim como ela, e estava fugindo de algo ou alguém que ele não conhecia, e talvez também não quisesse ser encontrado. Mas naquela noite, em especial, sua voz vinha acompanhada por uma onda de tristeza e medo mais intensa.
"O mundo é cruel, frio e sombrio, e eu tenho medo da escuridão."
A dor amarga em sua fala chorosa fazia o coração de Harriet apertar. Ela queria o encontrar, o abraçar e dizer que tudo ficaria bem. Todavia sentia um medo intenso de que aquilo fosse uma armadilha para a atrair ou de que o dono da voz fugisse quando ela tentasse se aproximar. Mas a garota era curiosa e não poderia fugir do que fazia parte dela.
Todas as noites, naquele mesmo lugar, próximo ao lindo lago refletindo a luz da lua. Harriet ouviria aquela canção a qual já havia decorado.
"Me guarde sob a luz do luar, e as estrelas irão me guiar. Me leve a um mundo onde eu possa existir sem sentir dor."
Delicadamente os pezinhos pequenos cobertos pela velha e rasgada bota marrom de Harriet pisoteavam a grama alta e úmida da floresta, se aproximando da grande árvore ainda mais próxima de onde vinha aquela voz. Lentamente a garotinha se aproximou, apoiou-se no tronco e espiou o outro lado.
Como ele poderia chamar aquele lugar tão claro e belo de sombrio? Aquele lugar era um paraíso para crianças perdidas como eles dois.
O garotinho estava vestindo roupas velhas e rasgadas assim como ela. Estava sozinho abraçando suas pernas, tremendo, como se estivesse morrendo de frio, olhando apenas para a lua cheia e cantarolando baixinho como se aquela fosse a única escapatória para a dor sentida. Olhando mais de perto ele parecia assustado. O seu braço amarrado por um pano sujo cheio de sangue. Ele estava ferido.
Assustando-o, a garotinha completou a próxima frase daquela canção.
"Eu apenas quero me libertar."
Ela se aproximou sem pensar duas vezes, olhando em seu rosto e enxergando através da escuridão lindos olhos azuis escuros, como o oceano, que insistiam em deixar suas lágrimas caírem.
- Eu posso te ajudar, deixa-me te ajudar. Estou sozinha, mas não tenho medo do escuro. - Estendeu-lhe a mão, ajoelhando-se ao seu lado.
[...]
10 de Outubro, Stratford - Canadá
Três semanas antes do baile.
As pequenas coisas que acontecem em um dia comum podem levar à grande mudança em uma vida. Uma mudança da qual acreditamos ser repentina, mas que passou por vários obstáculos até se desenvolver por completo. No entanto, temos alguns pequenos vestígios os quais passam despercebidos ou são apenas ignorados por nós, vestígios que às vezes, no fundo, sabemos o quão importantes são para impactos futuros. Impactos grandes ou pequenos, todavia que fazem diferença. Ainda assim, insistimos em ignorar, pois sabemos nem sempre estarmos preparados. Nunca saberemos qual vai ser a mudança que acarretará no pior ou no melhor dia de nossas vidas, porém sabemos que esses dias sempre começam como um dia comum.
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Todos os Tons de Azul
RomanceApós sofrer uma perda dolorosa e traumática, Elizabeth procura uma maneira de juntar os caquinhos e seguir em frente. Charlie quer se sentir vivo, mesmo que todas as circunstâncias o leve para o caminho contrário. Em Shakespearean Gardens, na peque...