Capítulo III

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Um Mundo Além Do Preto e Branco

"Que dia é hoje

E em que mês?

Este relógio nunca pareceu tão vivo"

You and me - Lifehouse

💙

Noite de 11 de Outubro.

Era tarde da noite e a rua estava deserta. Scarlett ainda estava no banco de madeira ao lado de fora da casa junto a Benjamin, e se perguntava se havia feito ou dito algo de errado que pudesse tê-lo feito fugir.

- Eu falei demais? - Perguntava ao garoto que havia lhe dado a certeza de que Charlie não voltaria.

- Você não fez nada de errado. - respondeu - É um tipo de sistema de defesa. Uma hora você se acostuma. - disse por fim, dando um gole em sua bebida.

- Um sistema de defesa? Do que ele está tentando se proteger?

- Está tentando te proteger dele, e se proteger também. Mas é complicado, não acho que ele gostaria que eu lhe dissesse mais sobre isso. - Scarlett ficou ainda mais confusa.

- Isso não faz sentido, a não ser que seu irmão seja um serial killer apaixonado por sua próxima vítima. - brincou, fazendo Benjamin rir.

- Ele se isola de tudo e de todos. Talvez pense que já tem pessoas demais para machucar.

- Isso é deprimente. Mas, se ele quer viver assim, isolado do mundo, como quer encontrar algo que o faça sentir vivo?

- Ele disse que queria isso? - ela assentiu.

- Não por vontade própria, mas disse. Você acha que há algo que eu possa fazer para ajudá-lo?

- Se quiser mesmo tentar ajudá-lo, não fuja.

- E o que isso significa?

- Que ele vai tentar fugir, não porque não gosta de você, mas porque se sente na obrigação disso. E se você quiser mesmo ajudá-lo, não fuja também.

(...)

Duas semanas mais tarde.

28 de outubro - 9 dias antes do baile.

A casa ao lado era quase sempre quieta demais, como se nunca houvesse ninguém ali.

Elizabeth era sua vizinha, mas Charlie não a viu naquele lugar em nenhum momento desde aquele dia.

Desde que havia se mudado, nunca vira aquelas vidraças abertas. Não era surpresa que houvesse demorado duas semanas para descobrir. "Mas por que ela?" se perguntou. De tantas outras pessoas, em uma cidade com mais de 29 mil habitantes, por que logo Elizabeth? A melhor amiga das únicas pessoas com quem Charlie falou desde que se mudou, pessoas muito gentis e amigáveis que faziam questão de enxergar pessoas invisíveis como ele. Era difícil permanecer sozinho desta forma. Se sentia mais confuso ainda ao se perguntar porque, por algum motivo, pensar naquela garota mexia tanto com ele.

Desde o início, Charlie viveu na mesma pequena cidade de sempre, e conhecia cada ser humano daquele lugar. Seu primeiro melhor amigo - ex-melhor amigo de infância - foi Nick. Imprudente e radiante desde criança, mas facilmente influenciável. Quase sempre brincavam juntos no parque depois da escola, junto com os seus outros colegas, além de ficarem sempre juntos durante os intervalos. Até Charlie não poder mais ser como era antes. Quando passou a ser diferente, todos se afastaram, e Nick fez o mesmo. Anos mais tarde o garoto passou a fazer parte da turma dos valentões, mesmo que aquilo não tivesse nada a ver com a sua personalidade, fez aquilo apenas para ser aceito. Fazer coisas impensadas faziam parte de sua rotina. Rebaixar o seu ex-melhor amigo de alguma forma fazia Charlie pensar no quão as pessoas se tornavam desprezíveis apenas para se sentirem aceitas. No fim, Nick também se ferrou feio, e Charlie nunca soube se ele se arrependeu do que fez, afinal, àquela altura não faria mais tanta diferença.

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