Capítulo IV

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[ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE E ATAQUE DE PÂNICO]

...

Todas as cores, todos os sons

"Ossos frios, sim, esse é o meu amor

Ela se esconde, como um fantasma

Será que ela sabe que nós sangramos da mesma forma?"

SYML - Where's My Love

30 de Outubro - 7 dias antes do baile.

O vestido azul marinho contornava parte de seu corpo, e a saia, com seu volume, alcançava um pouco mais abaixo de seu joelho. Elizabeth se encarava em frente ao espelho com uma expressão intacta. Sua pele clara em contraste com o azul do vestido fazia destacar a cor intensa de seus olhos e cabelos escuros e bagunçados. Seu corpo havia muitas falhas, partes das quais ela odiava e tentava esconder, mas estar dentro daquele vestido fazia-a se sentir mais bonita, como se, por um instante, não fosse Elizabeth Kennedy, mas outra pessoa com os seus olhos, seus cabelos, sua pele, e que simplesmente ignorasse suas falhas, porque, afinal, suas falhas seriam insignificantes se estivessem em outra pessoa.

Se Harriet fosse real, seria assim que ela se pareceria. Forte e confiante, como Elizabeth gostaria de ser.

Faltava apenas uma semana para o baile da noite estrelada, um conto de fadas que Elizabeth queria escrever, ou viver, mas um sonho que foi interrompido. Porque, mesmo que ela quisesse, nada mais seria como antes. Talvez fosse o momento de aprender a viver em um mundo onde Trevor não existia.

Na tarde daquele mesmo dia, teve uma conversa com Dylan na cafeteria. O garoto que sempre parecia cansado, mas inquieto, sempre foi durão consigo mesmo, e não deixava suas fraquezas transparecer facilmente. Mas um pensamento sempre surgia em sua mente, e esse era: por que ele sempre parecia tão distante? Elizabeth ainda não entendia como conhecia tão pouco sobre os verdadeiros pensamentos de seu amigo. Naquele instante, ambos tentavam lutar contra uma dor interna incontrolável e tentavam seguir em frente, e ainda assim, Dylan não deixava nada transparecer. Na maioria das vezes, para qualquer outra pessoa, seria impossível perceber o tamanho da sua dor por trás de seu sorriso simpático que expressava todos os dias. Talvez esse fosse o maior problema de todos: não era tão fácil enxergar o que havia dentro do próximo, mesmo que estivessem passando por uma guerra interna constante. Elizabeth sabia sobre o que Dylan sofria em relação a tudo o que passaram recentemente, mas não enxergava suas fraquezas, apesar de querer ajudá-lo. Sempre.

— Eu abusei de sua bondade ontem sem querer, então se quiser posso ficar até fechar hoje. Vá embora mais cedo, eu te cubro. — dizia enquanto organizava o balcão da loja, sem olhar diretamente em seus olhos.

— Não precisa. Não se preocupe. — respondeu.

— Não acha que está trabalhando demais ultimamente? Deveria relaxar um pouco.

Dylan ri baixo.

— Não preciso relaxar. Mas obrigado pela preocupação.

Elizabeth suspirou, e então lembrou-se:

— Por que me respondeu às três da manhã, quando poderia estar descansando?

— Ah... não respondi antes porque o meu celular morreu e esqueci meu carregador em casa... — respondeu — e quando cheguei... decidi estudar para o teste de biologia. — seu tom de voz mudou, e o garoto pareceu pensar um pouco nessa resposta. Elizabeth sabia que não era a resposta certa, pois o próximo teste a ser marcado seria o de física. Dylan poderia ser um prodígio, mas era um péssimo mentiroso. — Aliás, o que pensa em fazer em relação ao baile de máscaras? — mudou para um assunto que, antes, a antiga Elizabeth talvez teria muito a conversar.

Todos os Tons de AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora