Capítulo 1

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DEITO-ME DE BARRIGA para cima, controlando um suspiro de frustração

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DEITO-ME DE BARRIGA para cima, controlando um suspiro de frustração. Rolo para o lado e observo Gustavo, apagado, em um sono tranquilo. Admiro seu peitoral desnudo e rígido, sua barriga plana com trepidações dignas de um verdadeiro homem com H maiúsculo. Meu corpo ferve, clama por sentir seu toque quente em minha pele provocando as sensações mais insanas e abrasadoras. Salivo ao fitar sua grande ereção coberta por sua boxer preta. Corro minha mão por sua extensão suavemente, enchendo-a completamente. Suas pálpebras tremem, mas ele não se move. Apenas exala um meio gemido e suspiro, e se vira para o outro lado cessando o meu contato.
Mordo o lábio inferior sentindo uma dor aguda entre as minhas pernas. Chamas percorrem todo o meu corpo e lembranças do início do nosso casamento me invadem.
Quando ele me curvava sobre à mesa da cozinha em plena luz do dia. Como sugava meus seios, faminto. Como me fodia com vontade a qualquer hora ou lugar, priorizando sempre o meu prazer, em seguida o seu.
Ele não é mais o mesmo. E eu também não. Busco por prazer, quero sempre mais e mais.
Gustavo se tornou um homem frio, aquele fogo que existia no início do nosso casamento se apagou. O sexo se tornou algo automático que após conseguir chegar ao ápice, ele se desliga completamente.
Eu só queria aquele homem de volta, aquele por quem me apaixonei.
O homem capaz de dobrar o tempo, de provocar faíscas a cada beijo, a cada toque, a cada estocada.
Fecho os olhos, forçando-me a dormir mesmo que meu corpo esteja mais que desperto.
Abro os olhos lentamente deslizando minha mão direita sobre o colchão totalmente frio. 
Suspiro profundamente. Mais uma vez ele saiu para trabalhar sem se despedir de mim.
Tomo um banho rápido, visto-me com um vestido azul-escuro e calço um par de saltos baixos. Amarro meu longo cabelo loiro em um rabo de cavalo e coloco meus óculos de grau, que uso para ler, mas me acostumei a tê-los sempre por perto.
Alcanço minha bolsa e a chave de casa, passo na padaria da esquina para tomar um rápido café da manhã e seguir para a escola, onde dou aulas para crianças de três a quatro anos.
Amo meus alunos, não tenho filhos. Gustavo deixou claro não ter interesse nenhum em ter. De certa forma, estar com eles acalenta meu coração.
Toda vez que entro na pequena sala de aula, encontro muitos sorrisos e brincadeiras.
Diariamente o pequeno Arthur me presenteia com uma pequena rosa, que ele mesmo colhe do jardim do seu tio.
Ele me lança um sorriso tão meigo que qualquer angústia que corrói meu coração desaparece e me vejo espelhando o seu sorriso.
O sinal toca e olho no relógio constatando que faltam dez minutos para o meio-dia.
Começo a guardar minhas coisas quando me lembro de dar uma passada rápida no supermercado. Alguns suprimentos estão em falta. Decido passar em um que fica a duas quadras da minha casa.
Percorro as prateleiras tentando me lembrar quais itens estão faltando.
Quando ouço uma gargalhada histérica e o teor da conversa me chama atenção.
Continuo imóvel, até mesmo segurando a respiração, tentando fazer-me de invisível.
— Você continua saindo com o Gustavo?  Ele não é casado? — uma mulher pergunta, aparentemente chocada.
— Estou! E sim, ele é. Mas me prometeu se divorciar esse mês. A mulher dele dá aulas para um bando de pirralhos do jardim da infância. O Gu me contou que ela é muito fria na cama, que há muito tempo não sente nada, nenhum desejo por ela — comenta, baixinho, uma voz vulgar  que está a uma prateleira à minha frente.
Encolho-me como um caracol em sua concha. Nem um soco doeria mais do que escutar essas palavras saírem da boca da amante do meu marido.
Lágrimas começam a se formar em meus olhos e transbordam com as palavras a seguir.
— E você acredita que ele vai se separar da mulher com quem é casado há dez anos para ficar com você?
— Nove — a amante corrige.
— Não só acho, como tenho certeza. Gustavo é um homem fogoso na cama, um verdadeiro garanhão. Ele não se satisfaz com qualquer uma. E segundo sua confissão, a mulher parece mais um bloco de gelo. Ao contrário de mim, sou uma verdadeira fogueira. Menina, se eu te contar o que ele faz na cama... Fico toda molhada, só de lembrar.
Deixo um vidro de conserva se espatifar no chão, atraindo a atenção de algumas pessoas em volta. Um funcionário muito gentil do mercado, aproxima-se e se prontifica a limpar tudo.
Peço desculpas totalmente envergonhada e ele me lança um sorriso compreensivo.
Tropeço para fora do supermercado, totalmente atordoada.
Atrás de mim, ouço a mesma voz vulgar rindo em minhas costas. Viro-me para encontrar uma mulher de cabelos ruivos com peitos siliconados. Um corpo esculpido provavelmente por horas em alguma academia, e olhos azuis, astutos como ela.
Destravo meu carro e dirijo sem rumo. Lágrimas pesadas descem da minha face.
Escutar tudo que escutei, ter minha intimidade exposta dessa maneira… Isso não se faz.
Gustavo não só feriu meus sentimentos, como destroçou o meu coração.
Só de lembrar das suas mentiras, que as noites que chegava tarde e de banho tomado em casa falando que estava estudando processos, e que para não se atrasar para o jantar, tomava banho no escritório.  Que idiota eu fui!
Soco o volante com força, inúmeras vezes, até minha raiva estar parcialmente descarregada.
Paro em frente ao grande Píer da Aliança e fico ali, imersa em meu próprio sofrimento.

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