Capítulo 17 - Família

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-V-você teria alguma bebida aí?

- Calma... Eu ouvi o que eu ouvi mesmo? – Olhou perplexo para o amigo

-... Desculpa...

- Não se desculpe, eu só fiquei um pouco surpreso.

- E-eu só preciso esquecer do que aconteceu hoje...

- Bom, nesse caso...

Viu Cesar indo até a cozinha e puxar algo de baixo do balcão, caminhando de volta com um sorrisinho no rosto, trazendo consigo o que parecia ser uma garrafa de Whisky, o nervosismo começava a tomar conta do asiático, ele sabia como ficava quando bêbado, sabia dos pensamentos que carregava e continha dentro de si então sabia bem do rumo que isso poderia tomar, porém realmente precisava esquecer de tudo que aconteceu pelo menos momentaneamente, e a única forma de fazer isso era enchendo a cara até onde conseguisse, mesmo sabendo dos riscos que corria de estragar tudo. O Cohen se sentou em frente ao amigo e segurou e garrafa na altura dos olhos, com um olhar levemente preocupado.

- Tem certeza disso Joui? – disse entregando a garrafa já aberta ao amigo

- Tenho... Agora... Me desculpe pelas coisas que eu talvez faça quando estiver bêbado – virou o primeiro gole

- Relaxa, eu também faço algumas coisas estúpidas quando to bêbado...

- Caralho! Eu tinha me esquecido... Do quanto isso é horrível

- Realmente... Whisky não é famoso pelo gosto

Sentou-se ao lado do amigo e ficaram conversando enquanto se embebedavam cada vez mais sem se importar com o que aconteceria em seguida, precisavam da presença um do outro e sabiam bem que a noite seria longa para eles, não sabiam exatamente em que sentido. Nunca tiveram uma conversa tão profunda como aquela, um contando para o outro sobre o passado e coisas que aconteceram em diferentes épocas, traumas, medos e coisas assim, ficando alterados conforme o tempo passava e iam bebendo. Cesar tinha muita mais tolerância do que Joui, então viu o amigo ficar embriagado antes dele, lembrou-se do dia na casa de Elizabeth e das palavras de Thiago, ficando um pouco nervoso por não saber o que aconteceria e como agiriam. Chegando em um certo assunto na conversa, ambos começaram a contar histórias da infância, coisas que aconteceram entre eles e os parentes, não parecia grande coisa para quem visse de fora, mas para eles era um ponto bem pesado em suas vidas, o Cohen contou sobre o pai a princípio, lembrando e dizendo sobre o período em que teve que morar com uma família adotiva depois da morte de sua mãe, a época em que Cristopher, consumido pela dor e mágoa pela perda da mulher, se mudou para os EUA, deixando o filho para trás, o cabeludo contava isso numa naturalidade incrível, demonstrando já ter superado essa intriga a muito tempo, afinal agora mantinha uma boa relação com ele. Já o Jouki parecia não lidar com a história que contara muito bem, ao tocar no nome de sua mãe, algumas lágrimas surgiam no rosto do fotógrafo, Ayumi era o anjo da guarda dele, e agora realmente era um anjo que olhava por ele, faziam quase dez anos desde a sua morte, o acidente de carro na estrada a caminho de casa, as palavras finais de sua vida, o desespero do filho ao ouvir o acidente com a ligação ainda conectada, tudo aquilo machucava o coração do mais novo de um jeito estranho, principalmente o fato de nunca ter visitado o túmulo de sua mãe, ou talvez o pensamento que o destruía por dentro "eu a deixei ir... Eu podia tê-la impedido, dito para esperar a chuva parar... Ela morreu sozinha, sem ninguém ao lado dela para segurar sua mão, e a culpa disso tudo é minha, eu podia ter salvado Ayumi" este era o pensamento que o assombrava sempre que lembrava disto.
Contou o quanto a médica era incrivelmente amável e gentil, como sempre conquistava a todos com seu sorriso.

- Sua mãe me lembra muito a minha... – Cesar pensou em voz alta.

- Sente muita falta dela?

- Olha Joui... É impossível não sentir.

Sentimentos - JoesarOnde histórias criam vida. Descubra agora