Capítulo 47 - Brontofobia

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Os pingos de chuva caíam sobre seu rosto, o vento farfalhava seu cabelo e irritava seus olhos, o capuz cobrindo sua cabeça o lembrava algo. Encarava seus pés e mal prestava atenção para onde estava indo. O Sol nascia no horizonte, capeado pelas pesadas e escuras nuvens que avançavam cada vez mais em sua direção, aumentando ainda mais o risco de um eminente temporal.

Enquanto caminhava para o local indicado por seu pai, o fotógrafo pensava em como aquela história acabaria: Com ele vivo? Com ele morto? Ele teria o seu tão desejado final feliz com Cesar? Ele finalmente conseguiria orgulhar as pessoas que ama? Conseguiria realmente orgulhar sua mãe de onde quer que ela esteja? Terminaria os assuntos com seu pai de uma vez por todas e colocaria um fim definitivo em todo esse sofrimento? Como ele iria encarar Yoshiaki depois de tudo o que descobriu? Depois que descobriu que a morte de Ayumi era culpa dele? Não sabia como poderia continuar olhando nos olhos daquele monstro depois de tudo o que ele passou por culpa dele; como poderia perdoá-lo?

- Eu sei que você disse que eu tinha que perdoar meu pai, mamãe... Mas eu não sou tão compreensivo quanto você... Eu não sou tão gentil, amável e doce que nem você... Então me perdoe, mas depois do que ele fez a você, eu não consigo fazer outra coisa a não ser vingar sua morte... E fazê-lo pagar por todas as coisas horrendas que fez... Não posso fazer outra a não ser fazer meu pai sofrer o dobro do que sofremos... – murmurou para si mesmo.

Cerrou os punhos com tamanha força que quase rompeu a pele, as lágrimas de ódio se misturavam com os respingos d' água. Parte de si se odiava por não conseguir perdoar Yoshiaki; parte de si realmente queria perdoá-lo, mas mediante aos sentimentos envolvidos, com os sentimentos esmagados e destruídos, Joui não conseguia nem perdoar as pequenas coisas que lhe foram ditas por conta do tamanho rancor que havia em seu coração.

O vento murmurava coisas para si, mas não conseguia assimilar seus sussurros. O coração acelerado se assustava com os trovões e relâmpagos que caíam com uma frequência preocupante, deixando Joui inseguro com o ambiente em que se encontrava. Seu medo sempre foi um empecilho em sua vida, afinal, sempre que tinha uma chuva forte na escola, ou em qualquer lugar, ele sempre causava problemas por causa das crises que tinha. Sua Brontofobia fazia com que pensasse que corria perigo a qualquer momento em e qualquer lugar que chovia, e mesmo que contraditoriamente com seu próprio pavor, era reconfortante ver as águas caindo dos céus.

Alguns poucos carros passavam por ele naquele início da manhã de um domingo frio e vazio. Os grandes prédios do centro de São Paulo não eram nada acolhedores dada a situação.

Por outro lado, Yoshiaki Jouki esperava por seu filho já no local previsto para o fim, ele estava em pé no viaduto vazio e interditado, com a chuva vinda do Norte. Olhava para os lados e fixava sua visão no horizonte nublado, imaginando como estariam as coisas em sua casa, imaginando o que estava acontecendo lá com a sua ausência. O empresário realmente achava que seus funcionários estavam empenhados cuidando de sua casa todo santo dia até o momento em que voltasse para o Japão. Mas a verdade era muito diferente do que ele pensava: Seus cozinheiros, faxineiros, "servos" e mordomos comemoraram durante dois dias seguidos a saída dele, tiraram esses dias que Yoshi ficaria fora para poderem curtir com suas esposas e filhos, coisa que eles quase nunca tinham direito de fazer, nem em feriados; torciam para que ele nunca voltasse e os deixasse em paz, trabalhando em um lugar que respeitasse os direitos humanos e com um empregador minimamente gentil e compreensivo.

Como em cena de um filme, o empresário se encontrava distraído quando, de re pente, a voz de seu filho se fazer presente no gélido e sombrio ambiente escondido na penumbra fria do local. Virou-se lentamente, dando a seus olhos o encontro com o olhar de Joui. Imediatamente, Yoshiaki percebeu o ódio que o rapaz carregava consigo, deixado o ambiente mais pesado, o ar quase palpável. Um sorriso se abriu no rosto envelhecido do empresário, e este começou a falar:

Sentimentos - JoesarOnde histórias criam vida. Descubra agora