Capítulo 51 - Cemitério

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Mesmo estando ao lado de Cesar, as duas primeiras noites de Joui fora do hospital foram aterrorizantes, pois acordava assustado três ou quatro vezes no meio da madrugada, com medo de estar novamente preso naquela escuridão, ou de volta àquele quarto branco e sem vida, sua mente as vezes lhe pregava peças, dizendo que tudo o que viveu fora daquele inferno não passou de um sonho longo demais. Naquela noite não foi nada diferente. Acordou eufórico e suado, olhando para todos os lados tentando verificar se estava mesmo em casa, ou se retornara ao mesmo breu eterno de sua mente. Tentava fazer o mínimo de barulho possível para não acabar acordando o namorado, mas daquela vez não teve como, a crise veio forte demais. Como o quarto estava todo escuro e gelado, realmente pensou que tinha retornado à sua prisão particular.

"Não não não não não não não não!! Eu não posso ter voltado eu não posso ter voltado!! Eu não posso perder tudo de novo eu não posso ficar aqui! Eu tenho que voltar eu tenho que voltar pra ele... Por que ta tudo escuro por que eu não vejo nada? Por que eu to aqui de novo? Não pode ter sido só um sonho não pode ter sido um sonho... Eu quero voltar eu quero voltar isso não pode ter sido só na minha cabeça não pode não pode não pode foi tão real foi tão real! Eu quero ele de volta nos meus braços eu não posso ficar aqui eu preciso sair eu preciso sair eu preciso ir embora eu preciso voltar eu quero voltar me tira daqui me tira daqui me tira desse lugar deixa eu sair ME DEIXA SAIR!!"

Cesar acordou assustado com os barulhos da cabeça de Joui batendo levemente na madeira lateral da cama, se levantou correndo e acendeu a luz, assustando-se com a imagem do asiático com os olhos vermelhos e o rosto coberto de lágrimas, sentado no chão abraçado aos joelhos enquanto se balançava para frente e para trás, muito assustado. Ficou imediatamente preocupado com a situação do namorado e correu até ele, ajoelhou ao lado dele para igualar a altura de olhares.

- Joui olha pra mim, olha pra mim! Tá tudo bem, ok? Eu to aqui, eu sou real, tudo isso é real, ta vendo aqui? – asseverou enquanto segurava fortemente a mão dele – Você não ta sonhando, você não está mais no escuro, ta vendo? Você está em casa.

Abraçou o namorado com toda a força que tinha, nunca tinha visto ele daquele jeito, e não foi uma experiência agradável. Desbloqueou o celular do asiático e entregou a ele já no bloco de notas, mas percebeu que mesmo se ele quisesse, não conseguiria digitar absolutamente nada. Joui estava trêmulo e confuso, olhava para o pequeno teclado na sua frente e o encarou por vários segundos, levou seus dedos até algumas letras, mas nenhuma palavra se formou. As lágrimas ainda acorrentadas aos seus olhos borravam e distorciam sua visão, esse desespero desencadeou um choro ainda mais angustiado e agora, culpado. Tentava regular sua respiração, mas seu cérebro ainda estava enviando sinais de pânico para o resto de seu corpo, e isso o sufocava em emoções nebulosas e pensamentos maçantes.

Repetia para si mesmo "Eu to na luz eu to na luz isso não é um sonho isso é real ele me disse ele me disse ele me disse que tudo isso é real eu não to sonhando eu não to no escuro ta tudo claro ta tudo claro... Eu to em casa eu não voltei pra lá ta tudo bem ta tudo bem nada daquilo era de verdade era tudo mentira! Para com isso para com isso eu to bem nada aconteceu comigo mas eu ainda to com medo eu não quero voltar pra lá eu não posso voltar pra lá! O que eu faço o que eu faço? Eu não quero ficar no escuro eu tenho medo de ficar no escuro eu tenho medo de lá eu não quero sair da luz me ajuda me ajuda me mostra a luz eu não gosto do escuro... Eu to bem eu to bem eu to bem eu to na luz eu to em casa ta tudo bem nada aconteceu eu to bem eu to bem eu não voltei pra lá eu não voltei pra escuridão para de pensar nisso ta tudo bem a luz ta aqui é tudo real tudo é real tudo é real"

Cesar buscou rapidamente um copo d'água e o entregou ao Jouki, realmente preocupado com essas crises repentinas. Perdera completamente o sono e se concentrou em cuidar do homem que amava, tinha muito jeito pra isso, afinal, lidar com suas próprias crises durante toda a sua vida lhe deu alguma experiência, então ele sabia exatamente o que estava fazendo. O levou para algum lugar mais claro e agradeceu internamente por já ter amanhecido.

Sentimentos - JoesarOnde histórias criam vida. Descubra agora