𝗰𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝘂𝗺.

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Era só mais uma madrugada comum. Eu achava. Todos os dias, não importava se era cedo ou tarde, aquela maldita bola, daquele maldito apartamento, daquela maldita pessoa, ecoava pelo corredor e dentro de casa. Eu odiava. Aquele barulho era irritante, ainda mais por estar fazendo isso em plena duas da manhã. Eu literalmente queria morrer. Estava já decidida de que se aquela merda não parasse, eu mesma iria arrombar a casa daquele idiota e fazer ele engolir aquela bola pra ele aprender a respeitar o sono dos outros. Me revirei na cama fechando os olhos com força tentando buscar meu sono de novo, coisa que parecia impossível.

Quando finalmente achei que tinha parado, um estrondo foi o estopim para mim. Me levantei da cama colocando o meu chinelo e prendendo meu cabelo, ajeitei meu short e minha blusa andando para fora do meu quarto em passos apressados e fundos. Com o semblante sério liguei a luz da sala procurando minha chave, fui até em cima da mesa pegando a mesma e abrindo minha porta, sem mais nem menos bati com força contra a porta daquele barulhento, não demorou muito para que ele me atendesse.

Cruzando meus braços eu o encarei. Ele estava com uma calça xadrez azul e banca larga e uma blusa azul escura também larga. Seu cabelo estava molhado e ele segurava a metade de um abajur na mão me olhando com uma feição triste e um pouco confusa. Fazia já bastante tempo que ele morava aí, mas nada se compara aos dois anos atrás que ele começou com essa palhaçada de jogar bola toda hora, especificamente de madrugada. O mais problemático é que quase ninguém reclama dele, parecia que só eu me incomodava com aquele barulho chato.

─ Boa noite, o q‐

─ Você poderia por gentileza parar de jogar bola à essa hora da noite? Não sei você mais EU preciso dormir, se você é atoa, o problema não é meu, mas pense que os seus vizinhos não suportam mais esse barulho. Na verdade eles eu já não sei, mas particularmente, eu não. ─ disse o cortando o olhando com raiva. Ele levantou uma sobrancelha me olhando de cima a baixo várias vezes. ─ O quê foi? Perdeu alguma coisa? ─ perguntei batendo meu pé no chão visivelmente irritada.

─ Sua mãe não vai brigar por uma criança estar saindo de casa uma hora dessas? ─ perguntou se aproximando. ─ Ela pode achar que eu estou tentando alguma coisa com você e me processar. Por favor vai embora, volta pra sua casa! Eu tenho um jogo amanhã eu não posso ser preso! ─ começou a choramingar olhando para os lados desesperado.

Ele é maluco? Eu tentei o acalmar dizendo, ou melhor, tentando dizer que eu já era maior de idade, mas aí foi que mais deixou ele doido, ele agora achava que meu "namorado" iria bater nele até a morte por eu estar lá. Nem namorado eu tinha! Por quê ele é assim? Será que ele tem algum problema? Talvez não tenha sido uma boa ideia ter vindo aqui.

─ Por favor, me escuta! ─ quase gritei fazendo ele parar de se mexer e olhar para mim. Aquele par de olhos dourados e brilhantes me encaravam com atenção, eles eram tão bonitos. ─ Eu não namoro e minha mãe não mora comigo, eu só vim aqui reclamar mesmo dessa barulheira toda, idiota. ─ revirei meus olhos e pude escutar um suspiro de alívio sair de sua boca.

─ Que susto, por quê não me falou antes? ─ deu um sorrisinho de canto me fazendo o olhar com uma cara de raiva. ─ Desculpa, eu estava treinando. Amanhã eu tenho um jogo importante. ─ disse animado com seus olhos brilhando novamente. ─ Mas agora que você falou, não irei mais fazer barulho, é que às vezes eu sou um pouco desastrado e acabo jogando a bola em lugares errados ou eu mesmo tropeço nas coisas. ─ coçou a nuca um pouco envergonhado desviando seu olhar para o lado.

A curiosidade de saber oque ele jogava se infiltrou na minha mente. Pela altura e pelo físico, ele parecia ser jogar de basquete, ou talvez jogador de futebol. Na verdade eu não fazia ideia, eu não ligava muito para essas coisas de esportes, nem assistia muito na televisão, mas queria saber o que ele jogava. Ele pareceu adivinhar o que eu pensava eu deu uma risadinha tornando a me olhar. Eu olhei para ele com uma sobrancelha levantada fingindo não estar interessada.

𝐒𝐖𝐄𝐄𝐓 ─ 𝗯𝗼𝗸𝘂𝘁𝗼 𝗸𝗼𝘂𝘁𝗮𝗿𝗼𝘂Onde histórias criam vida. Descubra agora