✞ Capítulo 4

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       Foi um alívio enorme chegar ao hotel e encontrar minha melhor amiga Naomi segurando uma sacola cheia de balas Fini e chocolates Hershey's. Estaríamos dividindo um quarto nesse hotel durante os próximos três dias, para o importante evento Geek no centro da cidade, bem pertinho daqui.

— Antes de tudo, Sabina, onde está a roupa de cosplay que você fez?! — Ela pegou a minha mala — Estou tão curiosa! Sério, você fez muito mistério sobre que personagem iria escolher dessa vez.

Nós duas amamos qualquer coisa relacionada a figurino, indumentária e maquiagem artística, por isso sempre adoramos fazer cosplay. Naomi era a fotógrafa mais talentosa que já conheci. De uns anos para cá, ela tem preferido me usar de modelo para fazer inúmeros editoriais de moda e figurino.
Somos a dupla perfeita: As duas decidem o tema da sessão de fotos, montamos o cenário ideal e testamos maquiagens diferentes. Eu desenho e costuro os figurinos. Naomi cuida de toda a parte fotográfica.

Se meu Instagram era famoso por eu ser uma cosplayer, o da Naomi era tão conhecido quanto o meu, pelos photoshoots fantásticos que ela postava.

Analisei minha amiga com carinho. Ela parecia tão animada com o evento Geek Friends.
Eu
também deveria estar animada.
Mas não estava.

Embora não fizesse o menor sentido, eu não conseguia parar de pensar naquele grupo de jovens do aeroporto.
ELE VIVE.
Lembrei-me do folder que o garoto do avião havia me entregado, sobre o evento para o qual eles estavam indo. Isso tudo ficou martelando na minha cabeça pelo resto do dia, insistentemente, e contra minha vontade. Mas não deixei Naomi perceber.
Como prometido, comemos muito mais sorvete do que é considerado saudável e maratonamos uma série coreana na Netflix até a hora de dormir.


-x-


Naquela noite, sonhei que estava morrendo. Exceto que eu ainda estava viva.
Não fez o menor sentido para mim.

Foi tão real, e tão assustador. Não havia nada à minha volta, apenas um vaso. Um vaso de barro, diante de mim, exatamente do meu tamanho.
Por que eu estava diante de um vaso de barro? Eu não sabia o motivo, mas aquele simples vaso de barro parecia tão familiar. Como se eu já o tivesse visto muitas e muitas vezes. Ele estava desgastado e com tantas rachaduras, que poderia se partir em pedaços a qualquer momento.

O vaso já não servia mais, eu sabia. Estava velho, sem utilidade, feio. Não servia nem sequer para decoração. Uma fisgada de dor intensa percorreu meu peito, me fazendo engasgar e ficar sem ar. Levei as duas mãos ao peito, onde deveria estar meu coração, tentando apaziguar a dor. Mas a dor continuava, cada vez mais intensa.

O chão tremeu sob meus pés, me fazendo entrar em pânico.
O vaso de barro partiu-se em dois, estilhaçando em vários pequenos pedaços pontiagudos. Eu gritei de dor, e me ajoelhei diante dos destroços de barro, chorando.

— Sabina. — Alguém falou.

Congelei, com a boca seca e o corpo tremendo, enquanto uma quentura invadiu todo meu ser como se me queimasse por dentro.

— Sabina — A voz me chamou outra vez.

Não era uma voz feminina, e nem masculina. Não tinha som, mas tinha significado, e eu podia entendê-la, sentí-la. Meus joelhos permaneceram no chão, minha boca não proferia uma palavra sequer para responder ao meu chamado.

Aquilo era muito pra mim. Muito forte. Muito poderoso.
Eu não fazia ideia do que era, mas estava com medo.

— O vaso... — Sussurrei.

Bendita FangirlOnde histórias criam vida. Descubra agora