✞ Capítulo 3

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       Se para mim a decolagem do avião era um pesadelo, o pouso era o equivalente a um filme de terror de proporções altamente assustadoras.
Respirei fundo quando a aeromoça nos alertou sobre colocar os cintos de segurança, retirando meus fones de ouvido e fechando os meus olhos, imaginando que eu estava em qualquer outro lugar que não fosse ali.
Ignorando toda a tensão dos solavancos do avião, me concentrei em ficar calma e encarei fixamente a poltrona da frente.

Pela minha visão periférica, percebi que alguém estava olhando pra mim. Provavelmente era meu vizinho de poltrona — também conhecido como Benjamin Coburgo —se divertindo com meu pavor de pousos e decolagens.
Olhei para o lado, e ele instantaneamente virou para frente.
Mas estava sorrindo.
— Voo divertido? — Perguntei, usando o tom mais ofendido que consegui fazer.
— Surpreendentemente divertido — Ele concordou.

Assim que pousamos, Benjamin se levantou, levando seus pertences consigo — a bíblia de capa bonita, seus cadernos de estudo e o estojo do violino.
Me levantei logo depois, pegando minha mochila do chão e me preparando para sair dali o mais rápido possível.
Fiz menção com as mãos para que Benjamin fosse primeiro, já que ele estava na poltrona ao lado do corredor. Mas ele saiu para o corredor e ao invés de prosseguir, bloqueou a passagem do grupo que estava logo atrás de nós.

— Pode ir primeiro. — Ele disse, indicando o corredor com a mão livre. — Eu imagino o quanto você quer sair dessa máquina mortífera que chamamos de avião.
Quase sorri.
Fui tomada pela percepção do quão mais alto que eu ele era. Eu mal chegava aos ombros dele.
— Obrigada. — Murmurei, seguindo para o corredor.
Uma das pessoas de seu grupo atrás de nós protestou.
— Ei, Ben! — Uma garota reclamou com ele — Anda logo!
— Eu preciso comer, cara. — Dessa vez foi um rapaz quem falou, em um tom dramático demais — É urgente. Sinto minhas forças saindo do meu corpo. Burger King?
— Burger King, com certeza. — Benjamin riu e concordou.
Apertei o passo. Precisava sair dali muito, muito rápido.


-x-


Eu realmente achei que todo o drama do avião tinha acabado. "O pior já passou", foi o que pensei. Mas é claro que perto das esteiras de malas, estava o grupo de jovens de camisa azul marinho ELE VIVE. Sério?
E isso estava me deixando nervosa, por algum motivo desconhecido.
Fiz o meu melhor para ignorar a presença de qualquer um deles, encarando a esteira de malas tão intensamente que poderia parti-la em dois só com o poder da minha mente.
Avistei minha mala, com um suspiro de alívio. Mas nunca tive muito talento em pegar malas de esteiras que correm rápido demais se comparadas à minha coordenação motora digna de um bicho preguiça.

Na minha primeira tentativa, a minha mala preta com bolinhas brancas escapou dos meus dedos em segundos. Tentei novamente, e a agarrei pela alça, mas não consegui puxar devido ao peso. Será que eu havia trazido coisas demais?
Antes da minha terceira tentativa, alguém foi mais rápido que eu e pegou minha mala rapidamente, pousando-a no chão bem ao meu lado.
Sem sequer me virar, eu já tinha uma ideia de quem poderia ter sido.
E eu estava certa, porque lá estava Benjamin Coburgo, meu ex-vizinho de poltrona, bem na minha frente.

— Parecia pesada. — Ele disse, com um meio sorriso de lado. — Só quis ajudar.
— Obrigada. Eu não sou muito boa pegando malas — Usei um tom de quem se desculpa, sem nem saber por que eu estava constrangida.
— Requer muita habilidade, não é culpa sua. — Ele tentou me consolar, com aquele ar de brincadeira que eu já havia percebido no avião.
— Uau. Você é muito bom nisso. — Fingi a minha melhor expressão de admiração.
— Verdade. Mas eu tento não parecer muito convencido.
— Não está dando certo. — Eu disse e ele riu.
— Eu viajo bastante. Então tenho anos de prática — Benjamin explicou, um pouco tímido dessa vez.
— Oh. Então você sempre salva a mala de damas em perigo nos aeroportos? — Ergui uma das sobrancelhas, pegando a alça da minha mala de rodinhas.
— Só aos finais de semana. Eu tenho uma agenda lotada.
Acabei rindo, antes mesmo de perceber. Balancei a cabeça logo depois, ainda constrangida de alguma forma.
— Obrigada de novo, Benjamin — Me despedi.

Bendita FangirlOnde histórias criam vida. Descubra agora