Dezesseis de abril.
Que dia péssimo, meu despertador não tocou, não tem água na minha casa e eu ainda esqueci o dinheiro do café! Estou precisando de um banho, morrendo de fome e para completar cheguei depois de Alfonso no ensaio.
Alfonso: Veja se não é a Senhorita "eu sei respeitar muito bem meus compromissos" chegando atrasada. – Disse com desdém enquanto mexia em uma pilha de CDs que estavam ao lado do som. Respirei fundo tentando controlar minha raiva, não estava com humor para provocações hoje.
Anahí: Agora não Alfonso, por favor! – Pedi e fui me trocar sem lhe dar tempo para uma resposta. Quando voltei ele colocou a música para tocar sem dizer uma só palavra e nós finalmente começamos a dançar.
(First Love - Utada Hiraku – versão instrumental)
https://www.youtube.com/watch?v=0Nn9HKOcD-0&ab_channel=PinkikayCorner
Nós dançávamos com leveza e precisão. Os passos eram meticulosamente calculados e nossos corpos se mexiam em uma incrível sintonia. Esse estava sendo sem dúvida alguma o melhor ensaio de todos. Quando finalmente chegamos na parte em que Alfonso me levantava ele o fez com perfeição pela primeira vez. Pude sentir suas mãos fortes em minha cintura e o contato direto do meu corpo com o dele enquanto escorregava de volta para o chão. Assim que meus pés tocaram o solo ficamos nos olhando por alguns segundos tentando controlar as respirações pesadas após o esforço físico que a coreografia exigia e eu me perdi naqueles olhos esverdeados, ele também parecia perdido nos meus quando por impulso tomou minha boca me beijando com certa urgência e desespero. Apesar de nossos corpos ainda estarem colados ele me puxava ainda mais para si com as mãos que ainda não haviam soltado minha cintura e eu, burra, me deixei levar por longos minutos para um local onde Alfonso tinha total domínio sobre meus desejos e vontades.
As notas musicais ainda preenchiam o espaço quando nos separamos e todo encanto foi quebrado com o som do tapa que desferi em seu rosto.
Anahí: Está louco? Pensa que pode ir me beijando assim?
Alfonso levou a mão até onde havia ficado a marca dos meus dedos esfregando o local sem parecer acreditar no que eu havia acabado de fazer: Louca é você de pensar que algum dia eu ia querer te beijar!
Anahí: E o que aconteceu aqui foi o que? Só falta você dizer que eu te agarrei a força ou algo do tipo. – Falei aumentando o tom de voz e vi ele me lançar um sorriso sarcástico – Nem vem! Você dá em cima de todas as meninas da academia.
Alfonso: Todas exceto você. – Disse com desdém tirando a mão do rosto e me puxando para perto novamente
Anahí: Me solta. – Rangi entre os dentes.
Alfonso: Quem você pensa que é para me dar um tapa? – Ele parecia furioso – Nunca me bateram no rosto, nem meus pais fizeram isso.
Anahí: E você vai fazer o que? Revidar? – O desafiei – Para tudo tem uma primeira vez Alfonso.
Alfonso me olhou extremamente irritado, em todos esses anos nunca o havia visto daquela forma, o encarei de volta, tão próxima quanto quando terminamos a coreografia, então com um último suspiro ele me soltou, pegou a mochila que estava ao lado do som e saiu batendo a porta. Só então desmontei a pose que sustentava e pude me permitir respirar aliviada, não que eu achasse que ele fosse capaz de me bater ou algo do tipo, mas também nunca me passou pela cabeça que ele poderia me beijar, ainda mais com a intensidade que tudo aconteceu. Segui seus passos e após guardar os materiais de ensaio fui embora, ele certamente não voltaria mais naquele dia então liberei a sala para uso dos outros alunos.
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Vinte e três de abril.
Havia se passado exatamente uma semana desde que eu e Alfonso nos beijamos e ele simplesmente sumiu. Não apareceu em nenhum dos ensaios e eu estava ficando apreensiva com isso, afinal, sem ele não tinha apresentação, não vou negar que no primeiro dia dei graças a Deus pela sua ausência, aliás seria maravilhoso se eu não precisasse vê-lo nunca mais. Mas esse não era o mundo ideal e apenas por isso resolvi pedir o endereço dele para Maite que na mesma hora arrumou uma forma de conseguir.
Agora aqui estou eu, parada na porta de sua casa, ensopada e no meio de um temporal absurdo que resolveu cair do nada me pegando de surpresa. Respirei fundo e toquei a campainha, não precisei esperar muito para que uma senhora me atendesse.
Hilda: Pois não? – Ela perguntou assim que me viu e pude perceber que seus olhos eram exatamente iguais aos de Alfonso.
Anahí: O Alfonso está?
Hilda: Sim minha querida, entre, você está toda molhada. – Disse me dando passagem – Vou pegar uma toalha para você se secar.
Anahí: Não precisa se incomodar. – Falei envergonhada.
Hilda: Não é incomodo.
Assim que ela saiu comecei a analisar cada detalhe da sala, era um espaço amplo e claro, a televisão estava ligada passando o que parecia ser um filme bem antigo e o cheiro de rosas tomava conta de tudo. Despertei dos meus pensamentos quando ouvi Alfonso descer as escadas.
Alfonso: Quem era vovó? – Ele parou assim que pisou no andar de baixo e ficou estático ao me ver ali.
Anahí: Oi. – Sorri sem graça, talvez não tivesse sido uma boa ideia ter ido até sua casa, mas em minha defesa Maite tentou entrar em contato com ele inúmeras vezes pelo telefone e teve todas as mensagens e chamadas ignoradas.
Alfonso: O que faz aqui? – Sua voz tinha um misto de irritação e curiosidade.
Anahí: Vim ver se você estava machucado. – Ele me olhou confuso – Porque só isso explicaria seu sumiço repentino.
Alfonso: Claro, não se preocupe com isso, estarei de volta amanhã.
Anahí: Por que sumiu? – Antes que eu pudesse obter uma resposta a avó de Alfonso voltou com uma toalha roxa nas mãos.
Hilda: Aqui. - Ela colocou a toalha em volta dos meus ombros e eu agradeci – Vejo que já encontrou Alfonso. Faça um favor para mim meu amor? – Pediu ao neto.
Alfonso: Faço vovó.
Hilda: Vá conversar com a menina lá em cima, eu estou vendo o filme preferido de seu avô aqui na sala.
Anahí: Não precisa, eu já estou indo embora. – Dispensei - Vai aparecer amanhã? – Perguntei para ele.
Alfonso: De manhã e de noite. Temos que recuperar o tempo perdido.
Anahí: Tudo bem então. – Entreguei a toalha para ele e fui em direção a porta – Até.
Alfonso: Até.
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Doce Encanto
Romance"O ódio nunca nasce da indiferença, e esse sentimento pode ter origem no medo de perder o outro, receio de ser rejeitado ou até mesmo ser uma reação desencadeada por uma admiração profunda." Anahí e Alfonso estudavam juntos há anos na academia Silho...