Capítulo 4

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O céu estava estrelado, o que era estranho já que de dia uma massa cinzenta tomava conta de tudo. Entrei na academia e pude perceber que ela estava mais vazia do que o normal, nesse horário diversos alunos costumavam se apinhar nos corredores, mas dessa vez apenas alguns poucos estudantes passavam apressados com seus materiais, subi as escadas correndo e esbarrei em Alfonso assim que abri a porta da sala de ensaios.


Alfonso: Epa! – Ele exclamou me segurando pelos braços.

Anahí: Desculpa. – Disse sorrindo – Quase cai.

Alfonso riu: Percebi! Estava indo trocar de roupa.

Anahí: Eu já vim pronta. – Falei o olhando, ele ainda não havia me soltado, então, como em câmera lenta Alfonso aproximou o rosto do meu e pude sentir seu hálito quente em minha pele. Fechei meus olhos em expectativa, nossos lábios estavam a milímetros de distância e eu desejava aquele beijo mais do que qualquer outra coisa.


"Toi mon amour, mon ami
Quand je rêve c'est de toi
Mon amour, mon ami
Quand je chante c'est pour toi"


Acordei com meu celular que tocava insistentemente em cima do criado-mudo, o peguei e ao ver o número de minha mãe na tela resolvi que ligaria para ela mais tarde, havia deitado mais cedo para ler um livro e acabei pegando no sono. Fui até o banheiro, me apoiei na pia de mármore e fitei meu reflexo confuso no espelho: Afinal, desde quando aquele simples trecho de uma música havia se tornado verdade e Alfonso habitava meus sonhos?


Nota mental: Preciso trocar o toque do celular urgente.


Depois de um banho rápido eu fui ao encontro dele na academia, no caminho chequei se o céu estava realmente estrelado, por instantes tive medo de o meu sonho ter sido uma espécie de premonição, mas de fato o tempo estava fechado como esteve o dia inteiro e nenhuma estrela podia ser vista naquela escuridão. Quando entrei na sala de ensaios Alfonso não estava por lá e eu aproveitei para começar o alongamento enquanto o esperava.


Alfonso: Anahí. – Ele chamou enquanto passava pela porta.

Anahí: Eu. – Respondi me virando para ele e parando o que estava fazendo.

Alfonso: Desculpe o atraso, tive alguns problemas em casa.

Anahí: Alguma coisa com a sua avó? – Perguntei preocupada.

Alfonso sorriu de leve e pela primeira vez eu não vi ironia ali: Não, ela está bem, foi besteira mesmo. – Disse sincero e eu retribui o sorriso.

Anahí: Vamos começar?

Alfonso: Vamos!


Nós ficamos ali até a hora de fechar e na volta ele me deu outra carona, a terceira do dia.


Vinte de maio.


Nunca pensei que diria isso, mas Alfonso e eu nos tornamos amigos, claro que não era uma amizade sólida como a que tenho com Maite e ele nem faz ideia de que aparecia em meus sonhos todas as noites. Descobri que nós podíamos ficar horas conversando sobre os mais variados assuntos e percebi que ele sabe fazer uma pessoa rir como ninguém. A única coisa que me incomodava era o fato de mesmo sem querer estar me interessando de uma forma que não tinha nada de amigável.


Alfonso: Cansei! – Exclamou enquanto se sentava no chão e encostava o corpo na parede.

Anahí: Falta pouco para o grande dia. – Constatei divertida enquanto me sentava ao seu lado, mas a verdade era que aquilo me assustava.

Alfonso riu cansado: E sabe a melhor parte disso tudo? – Perguntou olhando para mim que respondi negando com a cabeça – Eu nunca mais vou precisar te ver depois da apresentação. - Respondeu em tom de brincadeira.

Anahí: Pois é! Nem tinha pensado por esse lado. – Falei rindo, eu realmente não havia pensado por esse lado e não gostei nem um pouco de perceber isso. Um aperto no peito e um nó na garganta se formaram imediatamente, mas não deixei que transparecessem.

Alfonso: Você deve estar se sentindo aliviada com isso.

Anahí: E como. – Pisquei para ele sorrindo e fiquei calada novamente.


Vinte e cinco de maio.


Desde quando me dei conta de que não veria mais Alfonso todos os dias eu simplesmente não consegui mais tirar isso da cabeça, e agora, nesse exato momento, estou desabafando com Maite enquanto brinco distraidamente com um pedaço de torta de amora em meu prato.


Maite: Nossa! Por essa eu não esperava. – Ela me pareceu espantada.

Anahí: Nem eu. – Resmunguei.

Maite: Fala com ele sobre isso. – Disse com incerteza e eu desviei minha atenção para ela na mesma hora.

Anahí: Nem você tem certeza se eu devo ou não fazer isso.

Maite: Amiga, pensa comigo, vocês já se beijaram...

Anahí: E logo em seguida ele ganhou um tapa na cara. – Completei a interrompendo.

Maite sorriu de maneira divertida e deu de ombros: Isso é só um detalhe, me deixa terminar, ok? – Assenti - Vocês já se beijaram, e como ele mesmo disse depois da apresentação final um não vai mais ver o outro. Se você se declarar e ele sentir a mesma coisa vocês ficam juntos, se não é só nunca mais procurá-lo e partir para outra.

Anahí: Não é tão simples assim. A gente se beijou quase por acidente e há pouco tempo um não aturava o outro.

Maite: Não dizem que do ódio ao amor basta um passo?

Anahí: Ele vai me achar uma louca se eu me declarar.

Maite: Isso você só vai saber se tentar.

Anahí: E acabar sendo me tornando mais uma iludida na infinita lista de Alfonso O Galinha Herrera? Não, obrigada.

Maite: Amiga...

Anahí: Não Maite! – Afirmei categórica – Maldita hora que a Madame Charlie nos colocou juntos nessa dança. – Repeti pela milésima vez desde que havia descoberto que dançaria com Alfonso.

Maite: Nós sabemos o que levou ela a juntar os dois, vocês são os alunos mais talentosos do corpo de dança.

Anahí: Pois eu preferia fazer par com o Christian!

Maite: Meu parceiro de canto Christian? – Confirmei – Mas ele nem dança.

Anahí: Exatamente. – Respondi a fazendo rir.

Maite: O homem mal se mantém de pé no palco, tentamos uma coreografia supersimples uma vez e foi um desastre total.

Anahí: Eu sei, me lembro de assistir aos ensaios.

Maite: E mesmo assim trocaria Alfonso por ele? – Provocou cética.

Anahí: Sem sombra de dúvidas.

Maite: Pois eu duvido... – Disse para logo em seguida emendar – Se bem, que depois de tudo o que você contou, nada parece impossível.

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