Capítulo 4 - Luxúria

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O chilrear dos pássaros sinalizava o inicio de um novo dia. A serenidade excessiva do quarto o transformava em um recinto perfeito para uma longa soneca, mas Hidan foi incapaz de continuar sonhando profundamente ao sentir os raios de sol acariciando sua pele através da janela. Os ombros estavam rígidos; os braços dormentes por terem aguentado o peso de sua cabeça a noite toda. Não se lembrava de ter desmaiado em uma mesa tão dura.

Levantou-se para esticar as juntas e percebeu algo cair de suas costas, franzindo o cenho em estranheza. Quando abaixou-se para recolhê-lo, notou que era uma manta ainda cheia de calor humano nela contida e começou a se perguntar mentalmente sobre como ela havia parado em seu corpo.

— Kakuzu! — Chamou estridentemente, aproveitando para espreguiçar-se uma vez mais enquanto buscava o parceiro com o olhar. Não obteve resposta, portanto saiu em busca dele por todo o cômodo. Estava vazio. Suas mãos suaram frio e a veia principal da testa saltou com a raiva do pensamento de ter sido deixado para trás. — Não é possível... eu vou amaldiçoar esse desgraçado. — Rosnou cerrando o punho, criando um batalhão de insultos para usar em seu reencontro.

A sensação esquisita em seu âmago tornava-se gradativamente mais dolorosa à medida que os segundos corriam. Obviamente escutara o mercenário dizendo que o odiava inúmeras vezes desde que se tornara sua dupla, contudo apegar-se à uma pitada de esperança o tornava vivo; porque de alguma forma torcia pela reciprocidade de seus sentimentos guardados às sete chaves. Bom, aparentemente isso não passava de um simples desejo pessoal e impossível.

Kakuzu era um miserável ganancioso que exalava o aroma da guerra. Alguém como ele desconhecia o amor, certo?

Frustrado, deu um chute na escrivaninha e ouviu um som arrastado de metal atritar contra a madeira no momento do impacto. Sua visão rapidamente seguiu a audição e partiu em busca do objeto responsável pelo ruído.

Era a maleta de dinheiro.

Um suspiro involuntário escapou de seus lábios, dando espaço à um sorrisinho aliviado e cheio de ternura. Os batimentos tornaram-se rítmicos novamente e o gosto amargo embolado no fundo de sua garganta se esvaiu. Aquele homem jamais se esqueceria de levar sua querida recompensa, e assim Hidan percebeu não ter sido abandonado.

Apressou-se em escovar os dentes e partiu até o salão principal no intuito de encontrar o companheiro, sem importar-se com o fato de estar vestindo um roupão frouxo e de tecido fino. Danem-se as etiquetas, ele nunca fora o tipo de pessoa comportada. 

— Bom dia. — A voz do anfitrião ecoou por seus ouvidos, obrigando-o a cessar os passos. — O senhor é o hóspede do quarto de casal, não? Está procurando o seu marido? — Perguntou educadamente, tendo intenções de oferecer-lhe ajuda.

— Hã? "Marido"? — Franziu as sobrancelhas de maneira questionadora, sem acreditar na besteira dita pelo sujeito à sua frente. — Que porra é essa, cara? — Ralhou incomodado, já se preparando para atacá-lo.

— Essa fala é minha. — Um timbre muito familiar o deteve de iniciar uma briga, amaciando seu semblante. — Não está muito cedo para tanto barulho, Hidan? — Soou frio, repreendendo-o prontamente. Se possível gostaria de evitar conflitos desnecessários, mas aquele rapaz dificultava as coisas com seu temperamento explosivo.

— Ei, Kakuzu, aonde você tava até agora, porra? Te procurei em todo canto. — Desviou o foco da briga até o parceiro, apontando um dedo à sua face. — Custava ter deixado um recado avisando que ia sair? Eu fiquei puto achando que você tinha me sacaneado e ido embora. — Cruzou os braços, fazendo bico para evidenciar seu desgosto.

Devoção e ganância || KakuHida +18Onde histórias criam vida. Descubra agora