Capítulo 6 - Devoção e ganância

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Hidan acordara feliz em sua última manhã na pousada. Parecia completamente satisfeito com os acontecimentos mais recentes, ainda que houvesse sido obrigado a ouvir horas e horas de sermão por parte de sua dupla após ter chegado perto de assassiná-lo. Não era o maior fã de dias chuvosos, mas aquele em especial ele apreciava com gosto; porque a chuva que caía dos céus era do sangue de suas vítimas. Esfoladas, trucidadas, picotadas e torturadas, todas elas tiveram um único fim mórbido:

Tornaram-se sacrifícios para Jashin através de seus rituais.

Cabeças rolavam pelo chão manchado de escarlate vívido, gritos desesperados ecoavam por toda a estalagem, assim como as risadas estridentes e animadas do devoto. O local transformara-se no próprio purgatório, e quando o último alvo marcado pelo caçador de recompensas deu um suspiro final atestando o fim de sua vida, o silêncio tomou conta. A chacina estava concluída, e só restava agora entregar todos os corpos no ponto de troca antes de seguirem rumo à próxima missão.

— Se passaram duas horas. Ainda não terminou, Hidan? — Kakuzu questionou em um timbre que esbanjava repreensão. Estava sentado no soalho, com as costas na parede e os pés apoiados acima de um cadáver desconhecido enquanto traçava a rota do destino, aguardando o fim da interminável e rotineira cerimônia religiosa do parceiro.

— Fica quieto, não atrapalha o meu ritual. — Retrucou ríspido.

— Não dá para pular uma parte dessa prece perversa que você reza toda vez? Pensei já ter te mandado fazer isso. — Bufou, colocando o mapa de lado e levantando-se até um dos cadáveres. — Eles vão apodrecer se continuar enrolando assim.

— Pra merda com esse seu "pular uma parte". Isso é uma blasfêmia contra Deus. — Ralhou irritado, sentando-se para retirar a estaca fincada em seu coração. — É um saco pra mim também, mas os mandamentos são rígidos, então eu não tenho escolha, caramba.

O mercenário grunhiu desgostoso, prontificando-se a pegar um dos livros contidos atrás da bancada na recepção antes de acomodar-se de novo. Honestamente já estava acostumado com a demora do parceiro, contudo seus rituais o obrigavam a recordar-se sobre a noite anterior; mais especificamente, sobre o fato de terem dormido juntos, e isso por si só aparentava ser um enorme problema. Era inevitável. Ele o havia quase matado, afinal, e esse tipo de memória não se apagava de um segundo para o outro. Talvez Hidan tivesse feito de propósito; utilizado a desculpa do sacrifício para cravar aquela maldita imagem em sua mente e atormentá-lo pelo resto da eternidade.

"Cretino miserável", pensou, encarando-o pelo canto dos olhos.

— O ponto de troca não fica tão longe daqui. — Comentou indiferente, empenhando-se em retirar aqueles pensamentos profanos da cabeça. Considerava inaceitável sequer cogitar uma relação romântica com alguém tão oposto à sua natureza, e se fosse necessário criaria uma barreira invisível entre eles para não seguir alimentando esses sentimentos inúteis. Se permitira cair em tentação uma vez, mas não ocorreria uma segunda. — Nós partiremos assim que você finalizar suas orações.

— Certo. — Assentiu, percebendo os padrões de sua maldição desaparecendo gradativamente. Havia finalizado tudo por ali, exceto por uma coisa que lhe atacava a curiosidade de uma forma anormal. — Kakuzu? — Chamou, percebendo-o simplesmente olhar em sua direção, impassível e desinteressado como sempre, aguardando-o explicar o motivo de tê-lo convocado. Obviamente sobraria para si mencionar o tema, porque aquele homem jamais se daria ao trabalho de discutir algo que julgava ser tão trivial. Não que desse a mínima importância para a opinião dele a respeito de seus sentimentos, mas queria tomar a dianteira e resolver as coisas por si mesmo, portanto respirou fundo antes de prosseguir e completou: — Você ainda não falou nada sobre a minha declaração.

Devoção e ganância || KakuHida +18Onde histórias criam vida. Descubra agora