Dia de Ressaca na Taverna

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Finalmente!  Deixo as coisas que carrego para o trabalho em casa, e vou direto para a taverna. -  Era final de semana, e esses eram os únicos dias nos quais eu poderia ir para a taverna que fica próxima da minha casa -  Caminho pelas ruas lamacentas por conta da chuva incessante, e observo carroças, animais, homens e belíssimas mulheres pelas ruasChegando em frente ao local, passo por ele, lendo a placa: "Taverna do Porco".  Ao adentrar o local , sinto o costumeiro cheiro de álcool, suor e porco assado; Vejo alguns homens com mulheres em seus colos, outros gritando e batendo na mesa, rindo descontroladamente; e ao fundo, os músicos tocando.

Passo meus olhos ligeiramente pelas mesas, até encontrar uma mais ao fundo, perto de uma janela, vou até ela e me sento.  Uma das mulheres da taverna vem me atender, e eu peço um copo de cerveja, e algumas costelas de porco. Logo a bebida chega e então trato de dar um gole e observar a rua pela janela, mas logo volto a minha atenção ao bar, e ficando atento a conversa da mesa ao meu lado, percebo que não se trata de uma real conversa, mas sim, de cantigas sobre histórias antigas - eles cantam entre risadas e goles, todos batendo o pé no ritmo da canção do bardo - até que ele começa:

"A muito tempo, não muito longe, estava em ascensão um rei, 

que dentre as pessoas do povoado surgiu, 

para a tentativa de retirar a espada da pedra.

Descobrindo que em suas veias corria o sangue de um nobre, 

de um sucessor ao trono, saiu empunhando excalibur, a espada do destino.

Mas em outro canto da Terra, mais perto do que você possa imaginar, 

estava a espera de um senhor, a espada Sadta Basgrea.

Entre os troncos das árvores e o limo que cobria as pedras, 

passando pelas quedas da cachoeira, bem ao fundo da caverna, 

onde outrora, ali, habitava um concelho. 

Estava encravada a espada, na mesa dos cinco. 

Imcubido de proteger a espada, um guerreiro vagueia pela sala, 

preso naquele mesmo lugar, ano após ano.

Todos que ousaram desafiá-lo, morreram ao fio da sua espada. 

Um guerreiro habilidoso, que com sua sabedoria em batalha, 

liderou exércitos e dizimou seus inimigos. 

Foi escolhido pelos deuses, para ser o protetor da espada, e assim ele o fez. 

Não era imortal, mas também não era mortal. 

Diz a lenda, que apenas quem derrotá-lo em um duelo, poderá se apossar da espada."

O bardo para, e em seguida para as batidas dos pés, as conversas e a risadas. A mesa que ocupam fica em um completo silêncio, até que se escuta batidas leves no chão de madeira, que vão aumentando até que todos voltam a cantar repentinamente. - Sorrio comigo mesmo. - Como poderiam inventar tantas histórias? Talvez eu seja apenas um cético, mas acho tudo isso tão absurdo e fantasioso... Seria uma forma de se sentirem em um conto, no qual eles seriam os heróis? Ah, tanto faz!

Termino minha refeição, dou o último gole da minha sétima caneca de cerveja e vou aos arrastos para casa. Passando pelas ruas sujas e escuras, me recordo como sinto que minha vida é algo insignificante - e como me tornei uma pessoa amarga e sem expectativas. Já em minha casa, sinto um enorme desgosto e peso ao passar pela porta. Retiro minhas botas, deito em minha cama, fecho os olhos e logo sinto tudo rodando. Quando abro-os novamente: que diabos! Abro minha janela e olho diretamente para a lua, sentindo o vento frio bater em meu rosto, fazendo minhas bochechas e nariz corarem rapidamente. Olho para aquela bola gigante iluminando o céu e as estradas, - realmente havia algo hipnotizante nela e queria ter notado mais cedo... - me deito novamente e sinto o coração pesar e os olhos arderem. Fecho-os e me concentro em tudo, focando nas lembranças, cheiros e sensações. Sinto seu cabelo tocar a minha pele novamente, assim como suas mãos pequenas, com a trilha sonora de sua risada ao fundo. Apertei mais os olhos para que aquilo se tornasse mais nítido.

"Lu! Lucas!" - escuto me chamar - "Sei que aqui está muito bom, mas precisamos voltar. Há muito oque fazer hoje!".

Encaro seus lábios pequenos e grossos, de cor rosada, como se nunca os tivesse visto.

"Oque houve?" - Ela faz uma careta de curiosidade, que sempre me fazia rir, de tão fofa e engraçada. A toco suavemente no rosto.

"Não houve nada, meu sol." - Encosto nossos rostos, beijando sua testa em seguida. - "Eu amo você, nunca se esqueça disso!"

Sinto as lembranças ficando distantes e desfocadas. Me esforço mais para poder ficar ali, e ouvir as últimas palavras: "Seu bobinho, eu também amo você. Jamais esquecerei isso, assim como você também não irá, coração!"

Ela usa o apelido favorito dela em relação a mim, então tudo fica desfocado e sem vida, até que vem o escuro absoluto. Adormeço entre as lágrimas, assim como todas os outros finais de semana.

Coração E EspadaOnde histórias criam vida. Descubra agora