Capítulo 2

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Capitulo 2

Scarlet Limburg

Eu já havia notado as frequentes piadinhas dos outros professores e até mesmo dos alunos sobre a mulher de trinta ser trocada por duas de quinze, ou o que eu faria se descobrisse que meu marido estava me traindo. Como eu pude ter sido tão burra? Quando lembro dos vídeos dele com as alunas sinto meu estomago revirar.

O patife ainda teve a coragem que colocar a culpa toda nas minhas costas, dizendo pra todo mundo que eu era uma mulher fria, que ele procurava na rua o que não encontrava em casa, que qualquer um em seu lugar teria feito o mesmo.

Sigo para o banho tentando tirar tudo aquilo da cabeça, não quero mais derramar nenhuma lágrima por ele. Pego um vestido azul escuro de crepe e me fito no espelho, notando que eu pareço uma velho de sessenta anos. Eu não posso ir para a faculdade com essa roupa. Não posso permitir que todos me olhem e digam que Walter tinha razão. Abro novamente o guarda-roupas e procuro por uma roupa mais jovem, mais sexy talvez, mas não encontro nada.

Jogo as roupas no chão e fito o meu corpo insatisfeita. A calcinha larga cobre todo o meu bumbum. É inacreditável que com trinta e dois anos eu nunca tenha usado um fio dental. Olho para o relógio e percebo que tenho que me apressar se não quiser chegar atrasada. Se eu pudesse, nunca mais voltaria naquela faculdade. Eu sei que Walter foi demitido e agora está residindo em outra cidade, mas não encontro coragem para encarar nem os professores e tão pouco os alunos daquele lugar.

Por fim visto uma calça e uma blusa social, fechando o conjunto com um casaco preto, mesmo que eu tente mudar o meu visual e tentar parecer mais jovem, não consigo, parece que a rígida educação religiosa que recebi de meus pais vai me acompanhar até o tumulo.

Voltar a faculdade foi tão pavoroso como eu esperava, as alunas sem qualquer discrição me fitavam e cochichavam entre risinhos, como se eu fosse sega e surda. Outras me fitavam com olhares enfurecidos, como se eu fosse a estraga prazer da festa. Ergui a minha cabeça e segui séria para a sala dos professores. Eu poderia desabar em lagrimas na minha casa, mas ali, ninguém iria me derrubar.

A diferença entre os professores e os alunas, era que os professores eram mais sutis. Clarice me abraçou depositando um beijo no meu rosto, um beijo que fiz esforço para não limpar e cuspir na lixeira. Ela era minha melhor amiga, sabia de tudo e não me contou nada. Se desculpou dizendo que não queria interferir na minha vida pessoal. Tenho vontade de me esganar quando lembro de tudo que havia dividido com ela. Suspirei fundo e fingi que nada havia mudado.

Contei cada segundo daquele dia implorando para que ele acabasse e eu finalmente pudesse ir embora, mas a ultima aula daquele dia foi a cereja que faltava no bolo desastroso que se tornara minha vida. O maldito jogador de hockey novamente estava na minha turma e desta vez estava sentado na primeira fileira, interrompendo a minha aula a cada vez que eu abria a minha boca.

- Sr... – procurei o nome do infame no meu livro de chamadas, ele tinha um sobrenome estranho e difícil de pronunciar.

- Me chame de Hannu – ele ordenou como se eu fosse um dos subordinados do pai dele. Tive que me segurar para não amassar o livro de frequência.

- Sr. Hämäläineni, parece que o senhor voltou o semestre com muitas dúvidas! – Ponderei a voz em um tom profissional, fingindo não me sentir abalada com a beleza devastadora dele. Por mais que ele soubesse que era bonito, pois as garotas não cansavam de massagear o enorme ego dele, eu não lhe daria a satisfação de me desestruturar, trataria ele como uma formiga insignificante, nem que para isso eu precisasse constantemente beliscar as minhas coxas.

- Todas que a senhora puder imaginar – ele sorriu com um descaramento que revirou meu estomago.

- Talvez o senhor precise voltar mais que um semestre – eu o alfinetei sem paciência. Todo o mal humor acumulado nos últimos meses, implorando para ser atirado contra ele.

- Acredito que um semestre tenha sido o bastante – ele respondeu com a voz carregada de ironia, como se eu fosse a culpada pelo desenvolvimento insatisfatório dele em sala de aula.

- Quero aulas particulares – exigiu.

- Aulas particulares? – eu peguei minha agenda, o semestre ainda estava começando e eu ainda estava sem ninguém na agenda – Qual o horário? – perguntei contrariada, não queria dar aulas particulares aquele semestre, mas as faturas não queriam saber se eu estava passando por um momento difícil.

- Pode ser as oito da noite.

- Eu não dou aula a noite – pelo menos não dava quando era casada.

- Pela manha não tenho tempo, mas posso pagar dobrado se for o caso.

- Dois dias na semana?

- Terça e quinta. Na sua casa ou na minha? – Lá estava o problema, a faculdade fechava as oito da noite.

- Me dá seu endereço – eu pedi, pois não conseguia me imaginar recebendo um homem em minha casa, mesmo sendo um aluno. 

Beijo GregoOnde histórias criam vida. Descubra agora