Dois

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— Ela chegará a qualquer minuto. — A promotora-assistente distrital Gigi Hadid apoiou as mãos nos quadris. — Quero toda a história, Zayn, antes que a Taylor chegue.

Zayn colocou mais uma tora de madeira na lareira antes de se voltar para a esposa. Ela trocara o terninho de trabalho e vestia uma macia calça de lã e um suéter de caxemira azul-escuro. Seus cabelos estavam soltos, caindo quase até os ombros.

— Você é linda, Gigi. Não digo isso com a frequência necessária.

Ela ergueu uma sobrancelha. Oh!, ele era um negociador astuto e encantador, e inteligente. Mas ela também era.

— Sem evasivas, Zayn. Você conseguiu, até agora evitar me contar tudo o que sabe, mas...

— Você esteve no tribunal o dia inteiro — lembrou ele. — E eu, em reuniões.

— Isso agora não interessa, estou aqui.

— Certamente que está. — Caminhou até ela, passou-lhe os braços em torno da cintura e puxou-a para perto. Os lábios desceram sobre os dela.

Em mais de dois anos de casamento sua reação a ele não diminuíra nem um pouco. A boca de Gigi se tornou macia, os lábios se abriram, mas, então, ela lembrou o que queria e se afastou.

— Não, você não vai começar. Considere-se sob juramento e na cadeira de testemunhas, Malik. Pode começar a falar, sei que estava lá.

— Estava. — O aborrecimento brilhou nos olhos antes dele cruzar a sala para servir água mineral a esposa. Sim, estivera lá, pensou, tarde demais.

Tinha seu jeito próprio de combater o lado sombrio de Urbana. O dom — ou a maldição — lhe fora outorgado depois que sobrevivera a um tiro que poderia ter sido fatal, e lhe proporcionara uma vantagem. Fora policial por tempo demais para fechar os olhos à injustiça. Agora, com o estranho presente do destino, combatia o crime à sua maneira, com seu talento especial. Gigi observou-o olhar para as próprias mãos, flexioná-las. Era um hábito antigo, que revelava que ele estava tentando mais uma vez descobrir como fazia aquilo, como ficava "invisível". E quando ficava, era Nemesis, uma sombra que patrulhava as ruas de Urbana, uma sombra que se insinuara em sua vida e em seu coração, tão real e tão querida como o homem que estava diante dela.

— Eu estava lá — repetiu ele, e se serviu de uma taça de vinho. — Mas tarde demais para fazer qualquer coisa. Cheguei apenas cinco minutos antes do primeiro carro de bombeiros.

— Você não pode chegar sempre à frente na cena de um crime, Zayn — murmurou Gigi. — Nem Nemesis é onipotente.

— Não. — Entregou-lhe o copo de água. — O problema é que não vi quem começou o incêndio. Se foi mesmo um incêndio criminoso.

— Mas você acredita que foi. —  Ele sorriu de novo. — Minha mente é cheia de suspeitas.

— A minha também. — Bateu o copo na taça dele. — Gostaria de poder fazer alguma coisa por Taylor. Ela trabalhou tanto para começar essa empresa, desde os primeiros passos.

— Você está fazendo alguma coisa — disse-lhe Zayn. — Está aqui. E ela reagirá.

— Pode contar com isso. — Gigi deitou a cabeça de lado. — Acho que ninguém o viu em torno do depósito a noite passada.

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