Nove

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Como não valia a pena voltar para casa quando terminara de prestar depoimento na delegacia de polícia, Joe se deitou no sofá velho do escritório e dormiu por três horas, até as sirenes o acordarem. Por hábito, seus pés atingiram o chão antes de se lembrar de que não precisava mais atender o alarme. Anos de treinamento lhe permitiriam apenas se virar para o outro lado e voltar a dormir. Em vez disso, levantou-se, os olhos vermelhos, e foi até a cafeteira, medindo o pó, ligando a aparelho. Seu único objetivo agora era levar uma gigantesca caneca de café para o chuveiro e ficar lá por uma hora.

Pegou um lápis que estava fora do lugar, e jogou no lixo, olhando com expressão severa enquanto o pote de café se enchia, gota a gota. A batida rápida na porta apenas lhe aumentou o mau humor. Voltando-se, dirigiu-o a Taylor.

- Cedo demais - resmungou, e passou uma das mãos no rosto. Por que diabos ela tinha que parecer sempre tão perfeita? - Vá embora, Taylor. Ainda não acordei.

- Não vou. - Lutando para não se sentir magoada, pôs a pasta no chão e as mãos nos quadris. Obviamente, disse a si mesma, ele dormira muito pouco ou não dormira. Seria paciente. - Joe, preciso saber o que aconteceu a noite passada para planejar os próximos passos que precisam ser dados.

- Contei-lhe o que aconteceu.

- Não foi muito generoso com os detalhes.

Resmungando, ele pegou uma caneca e se serviu da pequena quantidade de café que havia.

- Pegamos o tocha. Está preso. Não vai mais provocar incêndios por um bom tempo.

Paciência, lembrou Taylor a si mesma, e se sentou.

- Clarence Jacoby?

- É. - Olhou para ela. Que escolha tinha? Ali estava ela, maravilhosa, polida e perfeita. - Por que não vai trabalhar e me deixa organizar as coisas aqui? Farei um relatório para você.

Os nervos de Taylor se distenderam em sua espinha, para cima e para baixo.

- Há alguma coisa errada?

- Estou cansado - respondeu, ríspido. - Não consigo fazer uma caneca de café decente e preciso de um chuveiro. E quero que você pare de ficar atrás de mim.

A surpresa surgiu, primeiro, no rosto dela, substituída pela mágoa.

- Desculpe - disse ela, a voz fria e seca enquanto se levantava. - Estava preocupada sobre o que aconteceu a noite passada. Queria ter certeza de que você estava bem. Como posso ver que está... - Ela pegou a pasta. - E como não teve tempo de elaborar seu relatório, sairei do seu caminho.

Ele praguejou, passando uma das mãos pelos cabelos.

- Taylor, sente-se. Por favor - acrescentou quando ela permaneceu em pé, a expressão distante, na porta. - Desculpe. Estou me sentindo mal esta manhã e você cometeu o erro de ser a primeira pessoa na linha de tiro.

- Estava preocupada com você - disse ela, calma, mas não voltou para o escritório.

- Estou bem. - Virando-se, tomou o café. - Quer um pouco disso?

- Não. Devia ter esperado você entrar em contato comigo. Compreendo isso agora. - Era, pensou ela, como se subitamente estivesse pisando em ovos. Uma noite separados não devia torná-los tão desajeitados um com o outro.

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