"Não há cura para o que não é doença."
***
T s u k i s h i m a
Faz dois dias desde que eu tinha visto Yamaguchi pela última vez, ele tinha voltado para o acampamento dele pelo que me dissera. Confesso que me deixava tenso saber que ao menor sinal de chuva ele tinha que descer aquela escada de metal e ir pra Deus sabe onde, se abrigar da chuva. Meu estômago dava voltas só de lembrar dele encolhido passando frio na minha sacada. Mas ainda estando naquele estado ele arranjou um jeito de sorrir.
-Eu não sabia que você gostava de acampar Tsukishima.
E é por isso que eu estava agora enfiado numa loja de departamento com Sugawara e Daichi.
-É, eu resolvi tentar. -Minto desviando de uma mãe e uma criança.
Eu odiava lugares lotados com todas as minhas forças, é um dos motivos pelo qual eu evito ir a mercados. Sugawara ri e continua divagando e falando sobre o trabalho, Sugawara sempre foi tagarela, isso era um fato. Era um complemento a personalidade paternal e quase estóica de Daichi.
-Daichi olha! Podemos comprar uma luva dessas?
-Suga, já temos uma luva dessas, meu bem.
Quase estóica.
-Mas a luva tem patinhos, como você pode ser tão insensível a ponto de ignorar esses patinhos lindos? Esse patinho mal humorado parece até o Tsukishima! -Sugawara põe as luvas estampadas com os ditos patinhos na frente do corpo e faz cara de cachorrinho. Daichi sorri e suspira segurando as mãos do noivo.
-Tudo bem. Vamos levar -Daichi sorri e Suga dá um beijo na bochecha dele.
-Arrumem um quarto vocês dois pelo amor de Deus. -Resmungo e solto um suspiro. Os dois apenas sorriem sem graça por eu ter testemunhado aquele momento íntimo enquanto eu olho pelos lados procurando uma tenda.
-Um dia meu caro Resmungoshima você vai achar alguém que te faça boiolar como eu boiolo pelo Daichi. Escreva minhas palavras.
-Eu tento ao máximo evitar esse tipo de incomodo na minha vida. Por favor não jogue suas pragas de mãe pra mim Sugawara-san.
-Não importa o quanto você tente se afastar Tsukishima, quando tem que acontecer, simplesmente acontece. -Daichi fala.
-Isso não é o nome de um filme, aliás? -Pergunto franzindo o cenho.
-Acho que sim.
-Preste atenção, estamos sendo dramáticos e tentando te passar uma lição de vida. Mas que droga Resmungoshima! Daihi ele tá tentando fazer a gente mudar de assunto! -Suga cruza os braços.
-Se eu quisesse fazer você esquecer do que estava falando eu teria perguntado do casamento. -Falo
-Se continuar me provocando não deixo mais você ser um dos padrinhos. -Suga cruza os braços me olhando sério.
-Tá, ok, desculpe.
-Você vive dando uma de que não se importa mas na verdade você se importa sim não é? -Daichi sorri. Eu mordo minha bochecha por dentro para evitar sorrir e ajeito os óculos olhando pra frente seguindo na minha busca pela maldita tenda.
-Achei. -Falo deixando o fantasma de um sorriso passar pelos meus lábios.
***
Fechei a porta do apartamento e liguei a luz, deixando a sacola de compras no tapete da sala, agora eu só teria que arranjar um jeito de entregá-la a Yamaguchi sem parecer que eu me importo com seu bem estar, o que não era verdade. Afinal de contas eu tenho uma reputação a manter.
Fui tirando a camisa e andando pelo corredor, pondo ela na cesta de roupa suja. A camiseta e a calça moletom que eu tinha emprestado a ele não estavam mais aqui, ele as tinha levado para casa dizendo que me entregaria quando as lavasse e aqui estamos nós dois dias depois, e nem sinal do meu moreno.
Espera desde quando eu trato ele como meu?
Balanço a cabeça de um lado pro outro afastando o pensamento. Ele não é seu Tsukishima, pare de pensar coisas assim.
Isso não pode acontecer de novo, nunca.
-Acho que sair com o Daichi e o Suga está me fazendo pensar em coisas que eu não devia. -Resmungo para o nada.
Volto minha atenção ao cesto de roupa suja pondo elas na máquina de lavar, as roupas de Yamaguchi ainda estavam aqui, já secas pois eu tomei o cuidado de colocá-las na secadora.
Quanto mais eu não tentava pensar no estado deplorável do moreno de sardas que eu tinha como vizinho, mais difícil ficava. Eu poderia bater na porta dele, devolver as roupas e entregar a tenda a ele e aproveitar e checar se ele estava bem, não era um plano ruim e não mancharia minha reputação de jovem adulto indiferente desapontado com a vida e a geração futura.
Termino de botar as roupas pra lavar ligando a máquina e me deito no sofá ainda sem camisa. Rodei aquela loja inteira atrás daquela tenda e estava exausto graças aos treinos e a faculdade. Grande ideia fazer engenharia Tsukishima, grande ideia, se eu não gostasse tanto eu já teria largado tudo e ido viver nas montanhas como um monge eurudita. Me ajeito no sofá olhando para o teto.
-Tirar um cochilo não vai matar ninguém... infelizmente. -Me espreguiço e fecho os olhos caindo no sono.
***
Toc, toc, toc!
Franzo o cenho ainda de olhos fechados.
Toc, toc, toc!
-Ah pelo amor de Deus. -Pego duas almofadas e as aperto contra os ouvidos tentando abafar o som de alguém esmurrando a porta. Tudo fica em silêncio por um instante, eu já estava caindo no sono de novo quando um barulho forte na parede ao lado do sofá e o som de algo quebrando no chão me fez levantar de supetão.
-Você é um imprestável! -Mais coisas caem no chão
-Saia da minha casa!
Esfreguei os olhos olhando para os lados, os gritos eram abafados mas ainda sim audíveis.
-Sua casa? Sua casa não é aqui, você vai voltar comigo agora!
-Eu não vou voltar! Eu não tenho mais 17 anos e se vier atrás de mim eu vou fugir de novo!
-Você não tem culhões pra isso, é um mariquinha covarde igual a vagabunda da sua mãe!
-Não fale assim da minha mãe seu porco!
Arregalei os olhos e corri pro quarto pegando a primeira camisa que vi pela frente, se o barulho foi na parede perto do sofá, o único apartamento desse lado era...
Abri a porta num estrondo e olhei para o apartamento do meu vizinho, a porta estava escancarada e os gritos não paravam, outras pessoas apareceram timidamente em suas portas, mas ninguém fazia nada.
-Seu viadinho de merda!
Eu respirei fundo e entrei no apartamento, me deparando com uma visão que me gelou os ossos.
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Garoto do Condomínio
Fiksi PenggemarTsukishima Kei é um universitário e jogador de vôlei que recentemente se mudou para um condomínio mais próximo da faculdade e tem um vizinho de porta que gosta bastante de plantas. Quando Tsukishima esqueceu de fazer as compras do mês ele ficou bast...