Capítulo Dois, parte Um: Cacofonia

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"Eu respirei fundo e entrei no apartamento, me deparando com uma visão que me gelou os ossos."



T s u k i s h i m a

Varri o apartamento com olhar  vendo sinais de destruição por toda parte. No outro canto, abaixado, estava Yamaguchi. Seu sorriso característico não estava mais lá.

Ele estava encolhido contra a parede, desamparado como um animal ferido cheio de hematomas pelo rosto, com um deles sangrando bastante, enquanto aquele homem horrível erguia a mão pra cima dele e gritava palavras de ódio. Mesmo que ele estivesse no chão, Yamaguchi não baixava a cabeça pra ele.

—Não abra sua boca nojenta pra falar da minha mãe seu vagabundo miserável!

—Ora seu...

—O que vai fazer? Me bata! É só isso que você sabe fazer, você é um parasita, se aproveitou da minha mãe e no final ela morreu de exaustão por sua causa! Me bata como fazia com ela seu desgraçado! —Yamaguchi grita espumando de ódio. O homem na frente dele fechou as mãos prestes a desferir mais um golpe. Cerrei os olhos e rangi os dentes de ódio.

Antes que eu pudesse notar meu corpo havia se movido por puro instinto, eu estava correndo, indo pra cima de Yamaguchi pra protegê-lo de mais algum soco. Não aguentaria ver ele apanhar, ele era gentil, não merecia aquilo. Abracei o corpo encolhido do moreno usando meu corpo de escudo contra o agressor dele recebendo impacto atrás de impacto, soco atrás de soco, estes que antes eram destinados ao garoto que tremia embaixo de mim. Empurrei a cabeça dele contra meu peito para que ele não tivesse que olhar mais nada, não queria que ele olhasse para o agressor dele, nem que ele sentisse mais dor.

Cerrei o maxilar e puxei o ar com os dentes ao sentir a dor latejante na minha costela. Quantos socos Yamaguchi recebeu? Quantos ele aguentou? O quão forte ele foi todo esse tempo, aguentando isso tudo sozinho? Então foi por isso que ele não voltava mais para casa?

Continuei firme protegendo o garoto de qualquer lesão, embora quisesse sumir carregando ele porta a fora, ele tremia muito e segurava na minha camisa enquanto o homem tentava me tirar de cima dele a todo custo.

—Saia de cima dele! Saia de cima desse imprestável que eu tenho como filho! Ele tem que apanhar pra virar um homem de verdade!

Um homem de verdade? Metade dos homens que conheço não seriam capazes de aguentar esse sofrimento todo e erguer a cabeça, mesmo sabendo que não tinham chance de revidar.

Não havia mais homem de verdade que Yamaguchi, não havia ninguém mais homem que ele por suportar isso tudo sozinho.

Eu não aguentava mais.

Soltei o moreno e me impulsionei em direção às pernas do pai de Yamaguchi e o derrubei no chão. Eu não tinha chance contra ele, ele era mais robusto, mais forte e mais experiente. Minha costela doía, minha mente estava a mil e eu sentia que meu coração ia sair pela boca a qualquer instante, mas nem mesmo tudo isso me fez parar.

Eu não queria parar

Me joguei pra cima do agressor prendendo-o contra o chão e o soquei uma vez, sentindo uma satisfação bruta, quase como um formigamento, percorrer meu corpo quando meu punho fez o caminho até o rosto dele. Desferi o máximo de socos que eu podia, talvez eu machucasse demais o meu punho e ficasse incapacitado de jogar por um tempo, mas eu não ligava. Eu o socava na velocidade de um pistão, do jeito que Kuroo havia me ensinado, eu sentia cada impacto, e finalmente entendi porque ele era tão viciado no que fazia.

Queria que ele sentisse a dor que eu vi nos olhos de Yamaguchi, queria que ele sentisse o desespero, e que o corpo dele tremesse como o do moreno tremia enquanto eu o segurava. Queria que ele pedisse por socorro e se arrependesse de todas as besteiras cruéis que ele havia gritado.

Ninguém tinha direito de falar aquilo pra ele, ninguém

Eu estava completamente consciente dos vizinhos se aglomerando pedindo pra que eu saísse de cima dele, mas eu não conseguia parar. O homem de alguma forma tinha conseguido se levantar e conseguiu acertar um soco em mim, jogando meu óculos para longe com a força do impacto. Eu cerrei o maxilar tentando derrubá-lo novamente ou fazer com que ele saísse de cima de mim, mas ele havia me prendido. Eu conseguia ouvir Yamaguchi gritando pedindo para que ele parasse, eu conseguia ver ele vindo na minha direção pra tentar tirar o pai dele de cima de mim, eu ouvia tudo.

Era uma cacofonia infernal.

A última coisa que eu ouvi porém foi um grito de horror quando eu consegui dar mais um soco que reverberou do meu punho até o meu ombro no rosto do homem.

Garoto do CondomínioOnde histórias criam vida. Descubra agora