Capítulo Quatro: Palpitação

373 64 125
                                    


T s u k i s h i m a


—Então você estava dormindo quando a gritaria começou?

—Sim. —Respondo pela enésima vez. Já faziam sólidos 30 minutos que eu estava sendo interrogado e eu estava morrendo de fome. Tinham feito o favor de me acordar cedo só pra repetirem as mesmas perguntas. E para minha infelicidade não era Daichi quem estava me interrogando, teria sido muito mais divertido se fosse ele quem estivesse aqui me dando um sermão.

Os interrogatórios nos filmes são bem mais interessantes.

Eu já estava de saco cheio de ser bombardeado com as mesmas perguntas pelos dois policiais, não me deixavam sair, comer, ver meu irmão ou Yamaguchi, o que honestamente estava me deixando ainda mais puto.

—Eu tinha acabado de voltar da rua, cochilei no meu sofá e acordei com os gritos. Quando eu abri a porta do meu apartamento alguns vizinhos já estavam do lado de fora. —Engulo um pouco de saliva que tinha se acumulado na boca, com esperança de diminuir a rispidez na minha voz —O Yamaguchi-san é o meu vizinho, eu vi que a gritaria vinha do apartamento dele, que por sinal estava com a porta aberta, e eu entrei.

—E o que você fez quando entrou?
—Me coloquei na frente dele, usando meu corpo de escudo. O pai dele estava o espancando.
—Você é muito íntimo de Yamaguchi? —O policial mais alto perguntou, eu abri a boca pra responder e fechei.

Eu era íntimo dele? Porque eu fiz tudo aquilo? Eu não sou de me meter nos problemas alheios

—...Não —falo devagar —mas ele parecia precisar de ajuda. —O policial mais baixo fica com o olhar fixo em mim enquanto o mais alto me interroga.

—Certo, e os ossos quebrados do pai do garoto?

—Ele me bateu, então eu me defendi também. —Respondo como se fosse óbvio. Os dois policiais me olham.

—Isso é tudo? —O menor deles questiona e eu assinto na esperança que eles não me perguntem mais nada. Um deles desliga o gravador que eles carregavam desde o início do interrogatório. Dois toques na porta são ouvidos e eu desvio meu olhar em direção a mesma, vendo uma figura familiar passar por ela. Os dois policiais cumprimentam Daichi, que sorri e os dispensa.

—Graças a Deus. —Falo quando os dois policiais finalmente saem da sala. Daichi ri do meu desespero

—Não seja assim, eles só estavam fazendo o trabalho deles. Eles não te conhecem como eu conheço, embora às vezes eu ache que você seja capaz de cometer uma tentativa de homicídio.

—De novo essa conversa de homicídio? —Estalo a língua.

—Olha, eu já vi muitos casos de espancamento e tenho que dizer que você deu uma boa surra nele. Mas foi bem feito pra ele. —Daichi sussurra a última parte tão baixo que eu preciso ter que ler os lábios dele para entender.
—Vocês levam esses juramentos de não desejar morte a ninguém a sério ein. —Zombo.

—Ossos do ofício. —Daichi comenta. Ele limpa a garganta me olhando seriamente. —Fiz pressão no pai de Yamaguchi-san. Ele confessou tudo, e não apresentou nenhum remorso.

—O pai dele vai preso certo? —Pergunto mexendo nos dedos.

—Sim, e eu vou me certificar disso. Você sabe que casos assim são algo particularmente pessoal pra mim. —Ele se senta na cadeira próxima a minha cama, meio desconfortável.
—Foi difícil? —Pergunto baixo. Ele olha pra cima, pensando e suspira.

—Não é a primeira vez que eu vejo uma pessoa homofóbica Tsukishima. Eu passo por experiências parecidas no trabalho mais vezes do que gostaria de admitir, embora tenha diminuído bastante ultimamente. Muitas vezes eu achei que não ia conseguir. —Ele fala com um pouco de melancolia na voz— Algumas pessoas ainda acham que seu gênero ou sexualidade interferem na sua competência ou ditam o seu valor, e isso não é verdade.

Garoto do CondomínioOnde histórias criam vida. Descubra agora