Capítulo Cinco: Irmandade

466 80 134
                                    


A k i t e r u


—Alô? Mãe? —Houve um breve silêncio do outro lado da linha. Eu continuei: —Você não vai acreditar no que aconteceu com o Kei. —Sorrio. Sinceramente, nem eu mesmo acreditava.

—Akiteru, o seu irmão piorou? Eu preciso ir aí? —A voz feminina e familiar de tom preocupado da minha mãe inundou meus ouvidos. Eu ri.

—Não! Não mamãe, tá tudo bem, eu já atendi ele... —Ela me interrompe novamente jorrando preocupações enquanto escuto o som de água caindo, ela devia estar cozinhando. —Não mãe, ele tá bem, você não precisa vir pra cá. Sério, eu juro, palavra de escoteiro. —Falo a medida que me dirijo até a máquina automática de café e pressiono os botões.. —Mãe, cá entre nós, ele não iria se arrebentar tanto assim por qualquer um. —Espero a máquina preparar o cappuccino e tomo um gole, me deleitando com a invasão açucarada na minha boca. Eu não suportava café puro, sempre tinha que ter bastante açúcar ou chocolate, diferente de Tsukishima que era capaz de beber litros e litros de café sem uma colher de açúcar sequer. —Nós dois sabemos que ele não é só introvertido mãe. —Ando até um canto mais afastado sorrindo acenando para meus colegas, e alguns pacientes; olho de um lado pro outro como se eu estivesse prestes a cometer algum crime e falo perto do telefone com a voz mais discreta possível:
 —Ele é gay mãe. —Sorrio.

Um silêncio se estendeu do outro lado da linha me deixando ligeiramente preocupado

—Mãe? Você não caiu e quebrou a bacia né?... Mãe pelo amor de Deus

—Eu sabia! —Ela gritou me fazendo afastar o telefone da orelha e atraindo o olhar de algumas pessoas que passavam por perto. —Mas ele admitiu? Falou bem falado?

—Não precisava estourar meus tímpanos, sabe? Mas é, eu acho que sim. Ele não disse com todas as palavras, mas mãe você tem que ver como ele fica só de falar no nome do garoto. Nem parece que é o meu irmão! — Escuto um gritinho entusiasmado dela e começo a rir imaginando ela pulando pela casa por Tsukishima finalmente ter "admitido" que era gay. Eu e ela sempre suspeitamos, mas respeitamos as escolhas e privacidade dele acima de tudo, por isso nunca o questionamos sobre nada. Quando eu finalmente liguei os pontos eu fiquei muito feliz.
—Vou facilitar as coisas pra eles... —Falo confiante

—Filho, não se meta tanto nos assuntos do seu irmão...

—Mãe o Tsukishima é inteligentíssimo mas é emocionalmente constipado, se eu não ajudar eles o pobre Yamaguchi vai ter um treco coitado! Acho que até uma pedra tem mais emoções do que ele. —Explico enquanto ouço minha mãe segurar uma risada do outro lado da linha.
—Depois te ligo, se aparecer alguma fofoca eu aviso na hora.

—Não, não espera aí! Me conte tudo, detalhe por detalhe! Akiteru!

—Beijo mãe se cuida!

Guardo o celular no bolso e termino de tomar meu cappuccino
—A falta de fofocas ainda vai fazer a mamãe ter um treco. —Comento pra mim mesmo.


***


T s u k i s h i m a


—Não acredito que você contou pra ela. Puta mer-- —Me interrompo fechando os olhos e largando um suspiro. Eu já estava sentindo o início de uma dor de cabeça.

—Contei sim, ela te ama, te criou esses anos todos e carregou você 9 meses na barriga como um parasita, e é nossa mãe. —Ele põe as mãos na cintura exatamente como o Suga fazia quando me dava um sermão —E nem diga mais nada.

—Tá, ok, você que sabe. —Abano as mãos como se espantasse o assunto.

—Claro que eu sei, eu sou o mais velho.

—E eu o mais alto. —Digo e ele belisca meu pé na maca. —Ai! Eu vou te denunciar por tortura e agressão.

—E eu vou te denunciar por estresse no ambiente de trabalho! Agora fecha a matraca e me escuta. —Ele diz se sentando na cadeira com um sorriso convencido no rosto. —Você vai poder ver o Yamaguchi hoje. —Ele põe as mãos na cabeça.

Finalmente!

—Quando? —Pergunto tentando esconder a emoção.

—Depois das 15. Ele precisa dar um depoimento também, sabe? Já que ele foi a vítima e tal —Ele explica. Eu apenas suspiro

—Ele precisa mesmo? —Pergunto, ele mal tinha se recuperado de tudo.

—Sim, eu conversei com o Daichi, eu atrasei o depoimento dele o máximo que consegui, mas o Yamaguchi precisa falar tudo pra que eles possam saber se mais algum crime foi cometido e garantir a ele tudo que é de direito. Faz parte da burocracia. —Ele explica.

—Achei que você fosse médico, não policial

—Eu só repeti tudo que o Daichi falou, ficou legal né? Ensaiei durante 15 minutos. —Ele sorri orgulhoso do próprio trabalho. Seguro o riso com todas as fibras do meu ser:

—As vezes eu fico surpreso por você ser o mais velho.

—Essa doeu, bem aqui no meu coraçãozinho. —Ele responde fazendo uma carinha triste e beicinho.

—Agora entendi porque você nunca teve namorada.

—E você teve alguma por acaso? —Akiteru me olha de cima a baixo

—Eu sou ocupado demais pra essas coisas. —Rolo os olhos

—Você não é ocupado Tsukishima, você é gay!

Fico em silêncio

—Não.

—Sim.

—Talvez.

—Gay, gay, homossexual, gay. —Akiteru cantarola. Eu bufo ficando de saco cheio e exclamo:

—Tá bom Akiteru, pronto, eu sou gay. Satisfeito!?

—Finalmente! —Ele levanta e pega o celular

—O que você tá fazendo? —Me estico e faço menção de sair da cama.

—Vou ligar pra mamãe! Você finalmente admitiu! Eu e ela já sabíamos, mas agora é oficial.

—Pera vocês o que? Não!

—Sim! Temos que comemorar!

—Não, me dá esse celular —Levanto da cama.

—Não, fica aí senão eu vou te sedar —ele ameaça apontando o dedo pra mim

—Me dá logo essa droga! —Ando atrás dele.

—Se você não parar eu vou contar pro Yamaguchi-san!

—Akiteru me logo essa droga de celular —Suspiro

—Yamaguchi!~ —Ele cantarola pondo ênfase na última sílaba.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 08, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Garoto do CondomínioOnde histórias criam vida. Descubra agora