2. jogada de poder

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🏒❄️⛸️

O ar frio bagunçava os cabelos desgrenhados de Jungkook conforme seus pés deslizavam cada vez mais rápido pela superfície lisa do gelo, o som das lâminas dos patins riscando o rinque com determinação ecoando em seus ouvidos. Era o primeiro treino da manhã; o sol ainda se escondia, tímido antes do amanhecer, mas isso não era tão importante assim pro patinador. Ele já estava acostumado a acordar o mais cedo que podia.

O caminho escolhido pelo rapaz de dezenove anos o levou a amadurecer muito rápido, talvez mais rápido do que gostaria. Ele ainda se lembrava de como tudo começou: com os patins antigos de seu pai, o lago congelado pelo inverno perto de sua casa de infância e o incentivo de sua família. Na primeira vez em que havia patinado no lago, tão irregular e escorregadio, o pequeno Jungkook sentiu uma chama acender em seu peito, em contraste com o vento cortante da estação. De repente, tudo o que ele conseguia pensar era no gelo, nos patins desgastados e na sensação livre de quase voar na superfície congelante.

Foram muitos anos de treinos e mais treinos. Desde que tomou a decisão de se tornar um patinador artístico profissional, a vida do garoto se transformou em um caos organizado: treinamento logo nas primeiras horas da manhã, escola até à tarde e mais treino até o cair da noite, combinados com muita disciplina, academias e suor. Ao completar treze anos, foi selecionado para competir no Campeonato Sul Coreano de Patinação Artística no Gelo na categoria júnior e venceu sua primeira medalha de ouro. Depois dessa, muitas outras vieram, acompanhadas do reconhecimento como um dos melhores patinadores do país — mas também da solidão, esforço físico e cansaço mental.

Em dias particularmente difíceis, Jungkook pensava consigo mesmo o porquê de ter escolhido um caminho tão solitário; mas a cada girar de seu corpo no ar em seus saltos, no encontro das lâminas em seus pés no gelo duro e nos aplausos fervorosos após toda a sequência de sua apresentação, o sonho antigo de patinar internacionalmente e ser reconhecido como o melhor do mundo era renovado em seu peito.

— Jungkook! — ouviu um chamado à distância: era Namjoon, que acabara de chegar no rinque. O patinador tinha começado a praticar mais cedo que o normal naquele dia.

O jovem de cabelos compridos deslizou até chegar perto da borda do campo de gelo, próximo do treinador. Parou à frente do outro com um breque repentino dos patins, espalhando lascas de gelo por todo o lugar. Namjoon revirou os olhos e perguntou, curioso:

— Por que começou sem mim, JK?

O mais novo deu de ombros, respirando forte pelo esforço. Ele só notava o quanto a patinação exigia de si quando parava.

— Quis vir mais cedo pra me acostumar com o rinque — explicou, entre fôlegos.

Namjoon sorriu com a resposta do patinador. Jungkook podia ser um pouco metódico, às vezes.

— Espero que tenha se acostumado bem, porque vamos precisar treinar com bastante consistência nos próximos meses. As Olimpíadas estão logo aí e você é o favorito pro ouro de novo! — disse, animado com o pensamento. Jungkook já era medalhista olímpico: foi o mais jovem coreano a receber uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Inverno, aos quinze, e um dos objetivos de Namjoon era fazê-lo chegar ao pódio novamente

O patinador assentiu, o nervosismo se espalhando mais uma vez em suas veias com a menção dos Jogos Olímpicos. Ele já sabia que seu trabalho exigia muito de si, mas isso não o impedia de sentir a pressão borbulhando lentamente no peito a cada lembrete.

— Vamos começar praticando os seus giros e depois seguir para os saltos de edge, tudo bem? A gente precisa aperfeiçoar o seu Loop quádruplo — pediu Namjoon, que recebeu um aceno de concordância do outro. Jungkook se afastou do treinador e começou a patinar novamente, concentrado na tarefa que tinha à sua frente.

stick together  •  jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora