Capítulo 3

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Andamos por quase dois quilômetros até que finalmente chegamos. A casa do Poco não possuía nada extravagante, ele morava em uma modesta pensão, no primeiro andar. Havia uma sala pequena acoplada a uma cozinha, com dois quartos e um banheiro. Por toda casa eu havia coisas que remetesse à música, seja notas musicais ou posters de alguns shows que ele fizera, tal qual tinha muitas coisas que faziam referência ao tão falado Star Park, que nunca havia tido a oportunidade de visitar. Assim que entrei, me senti um tanto desconfortável por estar na casa de um desconhecido e claramente o Poco havia notado isso. Não demorou muito para o esqueleto notar que as palavras ligadas à "casa" sempre me incomodavam, então ele pediu para que eu me sentisse à vontade e entrou em seu quarto. Fui até o sofá e me sentei em uma das pontas, enquanto eu esfregava com cuidado minhas mãos nos meus braços para esquentá-los, o meu anfitrião surgiu carregando uma muda de roupas nas mãos.

- Olha, não tenho certeza se ficarão boas, mas considerando sua condição física acho que elas vão servir. O banheiro fica logo ali - ele apontou. - pode usá-lo o tempo que precisar, vou preparar seu quarto para dormir e… tente não reparar na bagunça e nem na poeira hihihi - ele riu discretamente, devido a vergonha. - Normalmente eu não recebo visitas que possam dormir aqui. - Ele me entregou as roupas e eu as peguei para olhar. Era uma camisa preta de malha fria, com mangas e possuindo o desenho de um violão no meio, já a bermuda era amarela e nela continha várias notas musicais verdes, juntamente com uma toalha laranja que tinha alguns pequenos bordados de caveirinhas mexicanas.

- Ah, valeu. - Agradeci.

 Mesmo ainda mantendo minha desconfiança, fui até o banheiro e me tranquei. Assim que tirei minhas roupas, mais uma vez tive que lidar com meu detestável reflexo no espelho. Dessa vez, acabei sendo obrigado a ficar um pouco mais me encarando, apenas analisando toda a minha situação. Por mais que eu soubesse que já havia me ferido mais, ainda sim me incomodava ver tantos hematomas e feridas. Me direcionei ao chuveiro e reparei que ele estava já com a água quente ligada, mas alguma coisa dentro de mim me pediu para desligar e eu o fiz. Assim que abri, as gotas fortes da água que caíam pareciam querer perfurar meu corpo! Estavam extremamente geladas e quando batiam nas feridas, pareciam que agulhas penetravam na minha pele! Eu apertava os dentes com força e apertava a maçaneta para controlar a água do chuveiro que caia. Sem perceber, meu corpo estava tremendo de novo devido ao frio. Eu não sabia por que queria sentir aquilo, por que eu queria sentir dor, apenas atendia aos pedidos que minha mente fazia enquanto mais lágrimas caiam e se misturavam com a água que escorria em direção ao ralo.

Quando saí do chuveiro, meu maxilar fazia meus dentes inferiores baterem nos superiores em um ritmo que eu nem imaginava que seria possível. Meus olhos estavam vermelhos devido às lágrimas, e depois de me enxugar, andei todo encolhido em direção ao meu quarto provisório. De relance, pude ver que o Poco estava na cozinha, e ao me ver saindo do banheiro, acenou para mim e eu retribui com um sorriso fraco para ele. Mas quando estava prestes a fechar a porta do quarto, soltei um espirro, alto o bastante para que o Poco notasse.

 O quarto era mesmo simples, havia uma cama, uma cômoda, um guarda roupas, um ventilador e um espelho, no chão havia um pequeno tapete e na janela uma cortina branca. Na cama notei um casaco azul simples. Por que ele estava sendo tão gentil comigo? Com certeza ele vai pedir algo em troca. 

  "Não existe ninguém bom no mundo, todos são movidos por interesses" Mais uma vez as "sábias" lições da minha mãe voltavam a impregnar minha mente. terminei de me enxugar melhor e vesti a roupa que havia sido oferecida para mim antes, mas ainda deixando o casaco de lado por um tempo. Então, me sentei na cama e comecei a encarar as paredes do quarto, minha mente estava começando a ser preenchida com as memórias do meu antigo lar até que fui puxado de volta para a minha nova realidade.

Brawl Stars - Em Busca Pela Luz (Edgar Origem)Onde histórias criam vida. Descubra agora