UM

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- Cada vez mais eu concluo que minha família é bem esquisita.

Estava rindo de nervoso, é claro. Comecei a mexer mais, haviam inúmeros papéis, documentos e fotos, não sabia porque minha avó guardava tanta tralha.

O pior quando uma das folhas estava dizendo o nome que eu deveria ter, antes mesmo de nascer, fotos da minha mãe com uma roupa hiper cafona e um pessoal que nunca vi ao lado dela nas fotos, me perguntei se minha avó conhecia esse povo estranho.

Estava tão distraída que não notei quando a porta abriu, eu estava comentando sobre os visuais, era engraçado. Minha avó gritou comigo, quase joguei tudo para o alto, ela dizia que aquilo era a chave do meu futuro e eu ri, como assim, chave do futuro?

- Dandara! O que pensa que está fazendo?

- Vó! Calma, desculpa, eu bati o dedo e achei isso, mas também não entendi nada. – Minha voz acabou tremendo.

Eu perdi meus pais muito cedo, não sei muito sobre isso, principalmente sobre meu pai, minha avó fala mais sobre minha mãe, somos amigas, sabe? Ela me conta algumas histórias dela, e diz que se ela estivesse viva seriamos as três melhores amigas. E em toda minha vida, minha avó nunca tinha gritado comigo, então me assustei.

- O que está acontecendo?

- Ô, querida, me desculpe! Não quis gritar, mas acho que agora lhe devo uma explicação.

Não consegui responder, minha avó fez sinal para que eu ficasse quieta e começou a trancar a casa e fechar as cortinas. Achei estranho, moramos aqui desde sempre, pode até ser humilde, mas nunca aconteceu nada. Será que é tão valioso? Se for, ela deveria vender, adoraria morar de frente a praia. Ok, Dandara, se controla.

Claro que fiquei em silêncio esperando minha avó, odeio silêncio, deve ser por isso que eu falo sozinha, mas obedeci. Minha avó diz que eu faço uma cara de interrogação, não preciso ir no espelho para saber que estou com ela.

- Acho que agora podemos conversar, mas lembre-se Dandara, eu a amo com todo meu coração, e te peço desculpas de antemão, mas saiba que quando eu começar a te contar, sua vida vai mudar e você vai ter que fazer uma escolha. Tudo bem por você?

Eu estava curiosa, muito curiosa, mas todo esse papo estava me assustando, entreguei a caixa para minha avó e me sentei, não disse mais nada.

- Imagino que tenha muitas perguntas, aliás, você sempre tem.

Ela ri para mim, como se tentasse me acalmar. Por mais que minha avó tentasse aliviar o clima, dá para notar que nós duas estamos tensas, mesmo assim, decido falar.

- É, acho que tenho algumas...

Penso um pouco e começo com uma pergunta leve.

- Vamos lá, porque tem fotos da minha mãe com essa roupas bizarra? Normalmente as fotos que eu vejo dela, minha mãe parecia menos do século passado e mais moderna, isso foi um espanto, era o que, um baile dos anos vinte?

Como sempre, toda vez que sinto o clima pesado, eu faço alguma piadinha, tende a piorar as coisas, já era rotina na minha vida. Mas pera lá, eu já fiz piada em enterro, público difícil. As pessoas costumam me dizer que sou espontânea, algumas dizem que sou sem filtro, mas não posso evitar, eu fico nervosa as palavras saem mais rápido do que eu posso segurar. Digo a primeira coisa que passa na minha cabeça, confesso que normalmente essa primeira coisa não tem muito senso, mas dessa vez eu tenho quase certeza que não foi a minha piadinha que incomodou a minha avó.

- Vó, não sei porque fez essa cara, mas mudei de ideia, estilo é para poucos, minha mãe tinha, eu não. – Abri um sorriso amarelo e continuei. – E, você disse que minha mãe escolheu meu nome, mas porque ela deixaria isso? Ela não morreu só cinco meses depois que nasci?

Peguei o papel que determinava que meu nome teria que ser aquele, para que tudo saísse conforme determinado e mostrei para minha avó.

- Minha filha, tenha calma, não me acerte com tantas perguntas.

Ela respira fundo e ri, se aproxima e me dá uma de suas mãos, antes de continuar.

- Vamos pular seu conselho de moda e vamos começar por você, a explicação sobre sua mãe vai ter que esperar. E, infelizmente, vou contar o mais depressa, porque não temos muito tempo.

Não entendi o que minha avó estava dizendo, como assim sem tempo? Hoje é domingo. Mas não abri a boca, ela iria explicar e eu estava curiosa.

- Sei que falta pouco para seu aniversário de dezoito anos, então eu já estava quase preparada para essa conversa. – Ela me dá um beijinho na testa e continua – Dandara, a escolha do seu nome foi muito importante na nossa família, aliás, sempre é muito importante e isso porque somos uma linhagem de guerreiras e algumas de nós herdamos dons e com esse dom, protegemos algo extremamente importante.

Ok, minha avó está doida.

- Ah, achei que fosse algo sério, para de brincadeira, me conta logo.

Eu falei rindo, óbvio, minha avó estava brincando, eu poderia rir. Mas infelizmente, eu tirei minha avó do sério de novo. Ela precisa de um médico, deve estar caduca.

- Dandara, isso é sério. Você vai entender logo que eu terminar de explicar.

Esse papo de ser de uma linhagem de guerreiras não tem como ser algo além de piada, eu não tenho a menor habilidade em esportes e tudo que precisa de coordenação motora, eu me atrapalho. Decido deixar a minha avó falar enquanto tento lembrar o nome do médico que ela costuma ir, devo leva-la nele.

- Minha querida, pode parecer estranho, mas sua mãe foi uma das guerreiras mais importantes e poderosas. Ela tinha um dom muito especial, que só foi visto nela, nenhum outro guerreiro jamais teve.

Ela tá certa, pareceu estranho. Minha avó estava mesmo querendo me convencer disso?

Ela pega uma foto e faz sei lá o que e me mostra outra imagem.

- Que? Mas como? O que você fez? Sempre olhei essa foto e nunca tinha visto isso. Você é uma bruxa e não me contou nada?

Tá, eu acredito em bruxas.

- Isso vai ser mais complicado do que parece.

A busca de DandaraOnde histórias criam vida. Descubra agora