A busca de Dandara

TRÊS

Já estava escurecendo, estávamos em um táxi, percorremos metade da cidade, e agora íamos para um bairro mais rico e pouco familiar para mim, me deixou mais curiosa ainda, nem achei que isso seria possível.

Ao longo do caminho, tentei perguntar algumas coisas, minha avó disse que só falaríamos sobre quando chegássemos ao destino, um saco.

E eu pensando que passaria o final de domingo assistindo Grey's Anatomy... Nem tô reclamando de ser parente de umas bruxas guerreiras ou sei lá o que isso significa, mas cara, nem terminei a décima sexta temporada.

Chegamos onde minha avó Martha disse que era o destino, mesmo sendo em bairro chique, paramos em uma casa mais escondida e de aparência humilde.

É claro que eu não estava num "Diário de uma princesa" e minha avó seria a rainha, até tava estranhando esse bairro, mas agora que vi a casa fez sentido. Esse povo guerreiro não junta dinheiro mesmo.

Pensar isso me fez rir e minha avó olhou para mim bem séria, eu estava conseguindo perturbar ela hoje.

- O que foi, Dandara?

- Nada...

Entramos na casa parecendo que saiu de um filme de terror, se eu me lembro bem das aulas de história, diria que é gótica. Mas assim que passamos pela porta...

- MENTIRA! COMO ESSA CASA FICOU TÃO CHIQUE?

Preciso perder meu mal hábito de gritar por aí tudo que passa na minha cabeça doida, vejo minha avó sinalizar para que eu fale baixo e soltamos um risinho.

- Milha filha, passamos apenas pela defesa da casa, se ela fosse chamativa por fora, acha mesmo que seria fácil de esconder?

Talvez eu estivesse no diário de uma princesa.

- Venha, Dandara, vou te contar tudo e preciso te apresentar a alguém.

A casa que antes era pequena, escura e assustadora, estava cheia de luz, tinha pelo menos uns três andares e me senti protegida nela, uma sensação estranha, mas eu estava me sentindo bem com isso. Poderia me acostumar com isso, mas talvez precisasse de um decorador para dar uma vida extra ou quem sabe algum crochê da minha avó, era elegante demais.

No segundo andar, entramos em um quarto, minha avó fecha a porta e começa a falar.

- Depois do que aconteceu hoje, vou te contar apenas um resumo de tudo e bem rápido, porque a partir disso, preciso te deixar com os outros dois cavaleiros.

- Achei que éramos guerreiras.

- Sim, nossa família é uma longa linhagem de mulheres guerreiras, mas eu ainda não te disse, que existem mais duas famílias espalhadas pelo mundo. Essas famílias também tem seus próprios herdeiros do dom, e há séculos, nós nos unimos para proteger algo em comum.

Minha avó respira e olha para mim, como se quisesse saber se eu estava entendendo, era estranho, mas eu entendia, ainda parecia pegadinha, mas vamos lá.

- Cada família e cada herdeiro tem seu próprio dom e a forma de lidar com ele desde o nascimento. Como você é diferente de qualquer herdeiro que já existiu sua criação foi mantida em sigilo até de nossos companheiros. Você é a primeira herdeira com sangue de duas famílias, nunca aconteceu isso antes. Seu pai também era um poderoso cavaleiro, mas nunca pude falar muito dele, para sua proteção.

Meu pai também era poderoso? Eu sou especial? Acho que me confundiram, se me acham especial é porque nunca me viram tentar pular o muro de casa quando esqueço a chave.

Respirei fundo, precisava absorver cada detalhe maluco que minha avó insistia em dizer, se eu fosse ficar por conta própria precisava saber o que estava acontecendo ali, tenho certeza que estou batendo algum recorde de maior tempo sem piscar.

- Escute bem, Dandara, eu não tenho tempo para contar tudo, mas quero te dar uma coisa, ainda não sei o que você pode ou não fazer, mas aí tem um feitiço que te leva para pessoa que mentalizar, como um portal. Seu pai era um grande feiticeiro e acho que você vai ser capaz de usar sem problemas.

Isso foi intenso, bem emocional, nunca fiquei longe da minha avó, mas a cada palavra sinto que ela está indo embora e eu não tenho ideia de onde ela vai. Então eu a abraço o mais forte que posso.

- Eu te amo, minha neta querida. Quando precisar de mim, use sem pensar. Meu coração estará com você.

- Eu te amo, te amo mesmo!

- Minha neta, as pessoas de hoje te acharam porque o feitiço feito por seus pais para que você só pudesse ser encontrada depois do seu aniversário de dezoito anos, já estava fraco. E você acabou abrindo a caixa da sua mãe, era um sinal do que estava por vir.

- Porque alguém quer me encontrar?

- Como eu disse, além dos seus pais serem guerreiros notáveis, eles deram um grande prejuízo para os inimigos da nossa causa. Um prejuízo incalculável.

- Qual seria nossa causa?

Espero que ambiental e pacifista.

- Nossa causa é a proteção do coração de Antônio. Por enquanto só isso que deve saber.

Ficou estranho rápido demais. Quem diabos é Antônio? Ele que lute.

- Aqueles homens de hoje, fazem parte de uma família que se opôs, eles querem controlar o poder que emana do coração. Eles são pessoas além poderosas, são influentes na política, Há muito tempo tentam roubar, como não conseguiram combater os três cavaleiros de Antônio com poder, através dos séculos eles ocupam grandes cargos para terem vantagem de obter informações.

- Olha, vó, não me leva a mal, mas além da minha mãe ser uma guerreira sinistra e meu pai um grande feiticeiro, meu deus, minhas palavras nem fazem sentido.. Bom, o que faz alguém pensar que eu posso com eles?

- Não sabemos se pode, você vai descobrir sozinha.

Ótimo, super esclarecedor. E eu já achava minha família disfuncional antes...

- Antes de ir, quero me certificar que o outro cavaleiro chegou e que vai ficar segura.

- Beleza, mas eu tenho duas perguntas.

- Vai, diga.

- Aonde você vai? Eu vou ter que usar roupa de ferro?

Minha avó suspira e ri, eu faço minha cara de interrogação, ora, é uma pergunta válida, aliás, são duas perguntas super válidas.

- Dandara, o nome é armadura, e por enquanto nada disso..

Por enquanto? Ah não.

- Eu vou para casa principal da nossa família, mas não posso te passar a localização, só quando puder se defender.

Eu entendi, fraca, obrigada pelo apoio, avó.

- Tá, tá.

Ela se aproxima de mim e passa a mão pelos meus longos fios negros, me dá um beijinho na testa e se levanta.