As escolhidas.

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   Ela fazia força a mais de horas, mas sua filhote ainda não saia.

—Força, Elizabeth!–Pede a parteira de onde esta, abaixada entre as pernas da fêmea. Manuseando panos molhados com sangue e líquido que escorria de dentro dela.

—Você consegue, meu amor...–Robert fala com carinho enquanto segura a mão de sua companheira, lhe põe panos molhados na testa e lhe beija os lábios — Nossa caçula vai ser linda, como você! Como nossos outros filhos.

—Estou cansada...–Soluça a ruiva, estremecendo com dor e fraqueza. —Estou com medo, Robert!

    Os olhos castanhos do macho nublam com preocupação, mas ele sorri, beija a testa de sua mulher e a incentiva a continuar.

—Vocês duas ficarão bem, nossa filha nascerá saudável e forte, e você ficara bem, eu a protegerei até que recupere as forças e cuidaremos de nossos filhos juntos. Tenha coragem, meu amor.–Com a mão trêmula acaricia o rosto suado de sua fêmea. Medo, ambos estavam com medo, o parto estava demorando demais, Elizabeth perdendo sangue demais e a criança em seu feto começava a se remexer, sufocando sem o líquido da bolsa que havia estourado.

   A fêmea fecha os olhos, sentindo uma nova contração chegando, e lança uma preçe para a lua, cuja a luz entrava pela janela aberta do quarto.

Ajude-me, minha senhora, me ajude a ter o meu bebê...

  E fazendo força pela última vez,  ela empurra, sentindo a dor rasgar pelo seu corpo, ela grita alto, seu companheiro a segura e usa a ligação deles para que suas forças sejam a de sua fêmea, a parteira incentiva, falando que ja conseguia ver a cabeça da criança, então a fêmea empurra, empurra e urra sua resistência, seu corpo cai desvalecido na cama, cansada e zonza, mas não precisaria mais fazer forças. Um choro baixo se faz presente, manhoso e que pede colo. O macho ri, se aproximando da parteira e pegando sua filha de seu colo.

—Senhor Betha! O cordão umbilical!–Grasna com uma tesoura em mãos.

—Corte de uma vez, mulher!–Reclama e quando ela o faz, ele pega sua filhote de novo, sem se incomodar com o sangue que lhe cobre o pequeno corpo. —Olhe, querida!–Ri novamente, se agachando ao lado da femea que sorri fraca, mas cheia de felicidade.

—Ela se parece com um pequeno Rubi.–Responde acariciando os cabelos de um ruivo forte.

—Rubi...eu gosto!–Fala o macho —Temos a Safira, e agora a Rubi. Duas preciosidades. Sem contar com o nosso herdeiro, nosso orgulho. –A fêmea concorda com a cabeça, esticando os braços para pegar a filhote e o pai imediatamente a acomoda nos braços da mãe.

—Rubi–Cantarola a fêmea, testando o nome –Ru-bi. –Como se soubesse que estavam falando dela, a criança para de chorar e devagar abre os olhos, azuis, tão azuis quanto os da mãe.

—Eu disse que ela seria a sua cara!–O pai fala. A parteira se levanta de onde estava terminando de trabalhar na fêmea.

—Ja terminei por aqui!–Anuncia com um sorriso —Parabéns pela caçula.–Fala antes de sair com seus materiais



   Os dois mais velhos entram como dois furacões no quarto, uma aos tropeços e o outro aos pulos.

—Papa, mamã! Nas...–O mais velho é reprimido pelo pai que rosna pelo barulho.

—Nasceu, nasceu sim. Mas façam silêncio!–A mãe fala amavelmente e estende uma mão na direção dos filhos, um chamado. —Venham ver a irmã de vocês, essa é Rubi!

—Oi, neném...–Sussura baixinho o mais velho, se inclinando sobre a bebê que sugava com ferocidade o peito da mãe. —Ela é ruva, que nem eu!–Ri o garoto passando as mãos pelo próprio cabelo vermelho.

—Sim, querido, que nem você e eu.

—Bebê...–Balbucia a do meio, Safira força suas pernas a se firmarem e se inclina para ver a nova integrante da família, um sorriso que mostrava apenas dois dentes se abre em seu rosto e ela estica a mão para tocar a de sua irmã —Bebê!

—Sim, meu bem. É um bebê!–Concorda o pai.

As mãos se tocam, e então um clarão surge, duas vozes falam ao mesmo tempo, cantarolando.

—Rubi, Safira, Safira e Rubi. Escolhidas pelas deusas, para lhes substituir, uma da lua, outra das trevas. Rubi, cabelos prateados herdara, Safira, os negros como a noite sem estrelas. Juntas, completarao a profecia, juntas serão deusas...– Ambas as vozes somem, assim como a luz que cegava, os pais se encaram atonimos,  então encaram suas filhas, os cabelos negros de Safira estavam flutuando e aos poucos voltavam ao normal, ja os cabelos ruivos de Rubi haviam subitamente virado prateado, a cor clara agora escorria do cabelo, deixando o vermelho voltar.  A mãe arfa quando percebe em seu colo dois medalhões da lua, uma da lua em um eclipse e outro da lua na fase cheia.
   Os pais estão assustados, ainda assimilando as informações, e de pouco em pouco eles entendem.

Suas duas filhas, Safira e Rubi, seriam Treva e Lua. Suas filhas eram abençoadas por duas das deusas mães.

Eram as escolhidas.

ANOITECER- Contos de Rejeitada Pelo AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora