A condenada e a luz

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Luz sabia que não devia estar ali, Lua havia lhe avisado varias e varias vezes para ficar longe daquela cela, para sua própria segurança e saúde mental.

Bem, mas ela também precisava fazer isso, apesar dos avisos frequentes de sua irma mais velha e rainha. Ceus, ela estaria tão encrencada quando Lua descobrisse que esteve ali, mas ela sabia, não poderia estar em paz até fazer aquilo, então estava na frente das portas da cela de Trevas, dois soldados de Luz, Serafins, guardavam a porta, suas lanças enormes seguradas pela mão esquerda enquanto a direita descansava sobre a enorme espada em suas cinturas. Eles a reverenciam quando a vem, mas não saem da frente, olhando nervosos entre a deusa e o corredor.

— Deixem-me vê-la. – A fêmea diz calmamente, suas inúmeras visões a mostrando as inúmeras versões de como aquilo poderia dar errado.

— Alteza... Vossa Majestade nos ordenou que a senhora não passase por essas portas. – O macho da esquerda diz, Luz acena, eles eram bons soldados e temiam a furia da rainha, ela entendia, mas mesmo assim, iria passar.

— Eu sou sua mãe, criança, saia da frente. – Diz levantando o queixo, ela nunca fora bem em intimidar, deixava aquilo com Lua, ela preferia ser a conselheira, meditar sempre e ter suas visões num lugar calmo para que possa prever o futuro. Mas ela seria um pouco de Lua agora, aqueles eram suas crianças, e iriam obedece-la.

— Minha mãe, eu...– O da direita tenta falar, mas é interrompido.

— Eu disse para sairem. Agora! – Sua pele brilha perigosamente, fazendo com que os dois Serafins dem passos para trás, assustados, e então para os lados, abrindo espaço para a menor passar. O que ela faz, queixo levantado e postura reta, andando com a elegância de sempre para dentro, empurra as portas enormes e adentra o local.

É tudo tão claro lá, ela não vê nenhuma sombra dentro da cela, tudo é luz, ela mesma ajudou a fazer aquele local, espeficio para que sua irmã não tente outro motin, para que não fique forte o suficiente para tal. Trevas estaria ali até o proximo milênio se completar e um novo escolhido ser necessário, o próximo filho de Trevas seria ensinado desde cedo a ser uma boa pessoa, saberia dos erros de sua mãe, suas escolhas ruins e seria ensinado do que era certo e errado desde criança.

Claro que acabar com uma espécie milenar que sua irmã criou só porque está com tédio é algo ruim.

Sentada no centro na sala, com correntes de pedra da lua banhadas em luz a prendendo por todo o corpo, estava Trevas.
  O cabelo negro estava sem o brilho e adornos afiados de sempre, a cabeça baixa, usava uma túnica bege simples, as correntes estavam em seu pescoço, quadril, braços e pernas, ela estava magra e abatida.

— Veio zombar de mim como sua rainha, irmã? – A figura no chão questiona, levantando a cabeça para Luz, que engole em seco, mas não se deixa abater, o rosto de Trevas estava magro, mas seus olhos ainda continham o ódio que Luz viu todos os dias quando estava presa na escuridão da irmã, tendo seu poder sugado para fora de si por suas lâminas, sendo torturada todos os dias e empurrada para os soldados de sua irmã para o bel prazer deles.

Preciso que meus soldados fiquem satisfeitos para lutar bem, você entende, certo?

Ela não entendia na verdade.

— Não vim zombar de você. – Diz, a garganta fechada. Fora uma péssima ideia vim ali, seu corpo formigava, estava com medo, apesar de saber que dali Trevas não sairia, que ela não tinha forças nem para levantar os braços, imagine lhe fazer algum mal novamente.

— Veio fazer o que então, cãozinho? – Passa a língua sobre os lábios rachados, sorrindo ferozmente para a menor .

— Você me machucou, machucou muito. – Luz fala baixo, encarando a irmã no chão.

— Ai que dó...

— Calada. – Repreende em um sussuro. — Calada, eu vim aqui para falar e você vai ouvir, ouvir tudo calada e depois vou sair e só vou voltar quando for para escolher seu novo filho.

— Fale o que tem para falar e caia o fora, chorona.

— Eu sou chorona? – Ri, dando passos para frente até ficar próxima da outra, todo o medo sendo substituído pela raiva, o ódio e nojo reprimido durante todo o tempo que ficou na mão da irmã, sofrendo coisas inimagináveis. — Chorona é você, que não conseguiu aceitar onde é seu lugar, Lua foi e sempre vai ser a mais forte entre nós, ela sempre será a rainha, mas naaao, a chorona tinha que bater o pé e inicar uma guerra, só para perder, porque você é fraca!

— Fraca é você, que virou cadelinha de meus soldados! Luz estremece, mas se mantém firme.

— Sou uma sobrevivente, sofri coisas que você mandou eu passar e que você não conseguiria passar , eu estou aqui, você não me quebrou! EU ESTOU AQUI!

Seu grito reberda pela sala, ela encara a outra com fúria, seus olhos ardendo em tom dourados.

— Você foi repugnante, foi um monstro, me deu como presente para os monstros que você criou e me torturou, roubou minha magia e me humilhou todos os dias, você é o monstro chorão aqui, repugnante, eu tenho nojo de você!

Se levanta devagar, encarando a outra de cima, fazendo questão de demostrar todo o nojo e raiva que sentia pelo ser aos seus pés.

— Lua não te matou, pois ela disse que é necessário o equilíbrio entre Trevas, Luz e Lua até a próxima escolha, mas por mim, você poderia arder no fogo do inferno e ficarmos só eu e minha irmã aqui. Minha verdadeira irmã, você é só um bichinho agora.

Então sai da sala, deixando no chão o ser desagradável, gritando coisas que ela se recussa a ouvir.
  Do lado de fora, estava Lua, os braços cruzados e lhe encarando com os lábios franzidos e os olhos preocupados, mas orgulhosos.

— Você foi ótima irmã.

Luz soluça, e se joga sobre a  mais velha, que a apara com facilidade, beijando sua cabeça e a apertando forte.

— Foi otima, forte e corajosa! Vamos, vamos para um lugar mais calmo, hoje estarei contigo o dia todo.

— Não está chateada? Pergunta Luz ao se afastar, enchugando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

— Como poderia estar chateada com você? Quando tudo o que fez foi desabafar? – A maior nega com a cabeça, pondo o rosto da menor entre suas mãos, apertando delicadamente. — Você é minha guerreira, uma ótima guerreira que sobreviveu a coisas horríveis, e está aqui, de queixo erguido, superando todas elas, e eu tenho orgulho de você.

Um soluço é ouvido, as duas deusas olham para trás, para os dois soldados que choravam pela cena a frente deles.

— Por favor, nos ignore. – Diz o da direita, secando suas lágrimas. — Podem continuar, só somos dois chorões.

— Oh meus filhos, vocês são uns amores. – Soluça Luz indo abraçar seus dois filhos, que se abaixam para alcançar a figura menor, chorando juntos dela.

Lua ri baixo, tal mãe, tals filhos.

Ela amava a figura pequena encolhida entre os dois brutamontes que eram seus filhos.

Nada de ruim aconteceria com Luz novamente, o mundo acabaria antes disso.

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⏰ Última atualização: Jul 30 ⏰

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ANOITECER- Contos de Rejeitada Pelo AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora