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Rodrigo
7 anos atrás


Aos vinte e quatro anos assumi a empresa de minha família. Você pode imaginar "ele é muito novo, mas foi preparado pelo pai. Muita responsabilidade".

Pois é, muita responsabilidade para alguém tão novo que nem sequer tinha a imagem de um pai dentro de casa. Eu poderia ser babaca e falar que minha personalidade de hoje é totalmente culpa de meu pai, mas seria muita falácia. Sua ausência me mimava, os erros que ele não corrigia iam se tornando parte de mim. Eu recebia tudo de mão beijada: escola, dinheiro, posses... Em meu primeiro processo por dirigir alcoolizado, meu pai passou a mão em minha cabeça e comprou minha liberdade. Eu não posso mentir dizendo que não gostava, o peso que meu nome carregava me entregava vantagens perante a lei e sobre tudo. Onde quer que eu fosse alguém me reconhecia.

- Eu não quero me casar. - Sentei à frente de meu pai bebendo meu whisky.

- Ou se casa, ou venderei a empresa. - Ele falava calmamente enquanto olhava nosso jardim através da janela. Eu já tinha me mudado para o centro da cidade fazia dois anos, ficava mais próximo a empresa e era uma das melhores coberturas da cidade.

- Você é muito cabeça-dura. - Levantei, indo até a mesa de bebidas e colocando um cubo de gelo em meu copo. - Pra que uma mulher?

Continuo parado de costas para meu velho.

- Estamos falando do nome Lourenço. - Ele se vira, agora com um tom enraivecido. - Se você não tivesse feito tanta... - Ele faz uma pausa. - Tanta merda, eu não exigiria uma esposa. Você precisa de uma imagem íntegra. Precisamos que os investidores e novos acionistas vejam em você confiança, e sua reputação não ajuda. - Meu pai caminha em minha direção enquanto continua a falar. - Uma esposa vai trazer esse ar mais maduro.

Ele coloca sua mão em meu ombro. Eu odiava admitir, mas meu pai tinha razão. Durante minha fase mais jovem eu fiz muita merda, coisas que me arrependo e totalmente vergonhosas, nada responsáveis.

Eu apenas concordo com a cabeça. Essa minha reação faz com que meu pai dirigisse palavras sutis e, pela primeira vez... Estranho, não é? Aos vinte quatro anos ser a primeira vez que ouve seu pai falar bem e com calma de você.

- Esse é meu garoto. - Ele dá uma breve risada se voltando ao seu trono. Minha vontade era de explodir aquele copo na parede, mas perderia o total sentido após meu pai dizer aquilo.

Aquela frase passou apenas como palavras ao vento. Eu sabia que ele se preocupava mais com a empresa do que comigo, e isso eu não negaria, puxei totalmente dele. Nossa obsessão em garantir o melhor pra empresa, em ter sucesso, isso tudo nos sustentava e nos impulsionava a ser mais obcecados no topo.

- Amanhã lhe apresentarei a filha de um amigo. Seja legal com ela, essa união ajudará na estabilidade da empresa. - Meu pai anunciou.

Minhas noites de solteiro estavam contadas. A partir de hoje eu deveria me comportar, tentar ao máximo não fazer merda. Mas, pense: alguém que passou a vida toda sem um espelho masculino de responsabilidade se espelharia em quem?

- Estarei aqui. - Dou um gole final para acabar com minha bebida, coloco o copo em seu lugar e recolho minhas mãos para meus bolsos. Como eu me casaria com alguém que nem conheço?

Já em minha casa, ligo para alguns amigos os convidando para uma última festa em meu apartamento. Combinei de contratar algumas mulheres para nos divertimos. Se aquela seria minha última noite, eu deveria aproveitar em grande estilo. Contratei o melhor bufê para que deixasse tudo preparado para meus empregados nos servirem. Como seria uma festa privada, eu apenas contratei a comida e coloquei apenas dois de meus empregados para trabalhar naquela noite. Ali eu reuniria filhos de empresários gigantes e mundialmente conhecidos. Qualquer merda que fizéssemos ali e vazasse acabaria com a vida deles em um instante, as colunas de fofoca não perdoariam.

Império PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora